A Força de Defesa da Jamaica (JDF, em inglês) decidiu realizar uma abordagem multidimensional para mudar a cultura de violência no país. O plano inclui dar mais apoio à polícia, reestruturando a força e aumentando o número de seus membros.
A força motora por trás desse esforço é o General de Divisão da JDF Rocky Ricardo Meade. O chefe do Estado-Maior da Defesa falou com Diálogo em seu escritório no quartel-general da JDF, em Kingston, sobre essa iniciativa e outro tema no qual ele vem trabalhando há muitos anos: a inclusão de mulheres nas missões de paz e segurança em todos os níveis.
Diálogo: Quais são os principais problemas que afetam a Jamaica hoje em dia em termos de segurança e defesa?
General de Divisão Rocky Ricardo Meade, chefe do Estado-Maior da Defesa da JDF: Os principais problemas que nos afetam localmente são as gangues do crime organizado, o tráfico ilícito e a violência que geram. As gangues do crime organizado defendem seu território e lutam entre si para adquirir influência, com o objetivo de obter informações financeiras que utilizam para executar muitos atos fraudulentos e tráfico ilícito, como também pelos recursos e fundos provenientes dessas operações.
Diálogo: O que a JDF tem feito ultimamente para apoiar a polícia para combater esses problemas, especialmente o das gangues?
Gen Div Meade: Estamos abordando o problema em três etapas: de curto, médio e longo prazo. Precisamos fazer urgentemente um planejamento de longo prazo, para que o problema não exista mais no futuro. O que fizemos como um plano de curto prazo foi usar os poderes de emergência para permitir que os militares apoiem a polícia nas comunidades violentas para ajudá-las. Como plano de médio prazo, estamos aumentando a capacidade, criando um curso da Força de Defesa da Jamaica e da Força Policial da Jamaica para podermos lidar melhor com o crime organizado e a violência sem utilizar uma força de emergência. A força de emergência é um componente de curto e médio prazos, a partir do qual poderemos criar a capacidade.
O engajamento de longo prazo consiste em interagir com nossos jovens, porque queremos oferecer-lhes oportunidades de emprego e a possibilidade de visualizar os valores e atitudes corretos. Iniciamos o Programa Núcleo do Serviço Nacional da Jamaica, com o objetivo de atrair milhares de jovens e ensinar-lhes alguns valores militares, bem como permitir que trabalhem e entendam o valor desse trabalho. Eu acho que o programa durará no mínimo 20 anos; e se ele continuar, influenciará a cultura da violência, que é tão disseminada na Jamaica.
Diálogo: Esse é o principal motivo pelo qual o senhor está planejando uma JDF mais robusta?
Gen Div Meade: Sim. A criação da capacidade é o motivo pelo qual estou aumentando o tamanho da força, dos recursos e equipamentos, mas ao mesmo tempo estou realizando o Programa de Serviço Nacional que está atraindo os jovens; e o que eu faço quando eles estão engajados? Eu mantenho a maioria deles em ambos. Estou influenciando os jovens e recrutando-os simultaneamente para a JDF, a partir da mesma base da Força de Serviço Nacional.
Diálogo: O que o senhor tem feito para atrair mais mulheres para a JDF?
Gen Div Meade: Durante muito tempo, não recrutamos regularmente mulheres para a JDF. Uma das coisas que eu fiz foi criar, como parte da política, uma norma para que cada admissão inclua mulheres, o que vem funcionando muito bem desde 2017. Nós anunciamos, incentivamos as mulheres, e é parte da minha estratégia que, cada vez que recrutemos, devemos incluir as mulheres.
Diálogo: Os padrões são os mesmos para mulheres e homens?
Gen Div Meade: Sim, são os mesmos padrões, absolutamente. Um pequeno esclarecimento: nossos testes de aptidão física são projetados para levar em consideração a biologia feminina, pelo qual há uma pequena diferença dos testes masculinos, mas não existem exceções para que as mulheres preencham os requisitos de admissão. Há uma diferença muito pequena, que leva em conta as perspectivas médicas e a estrutura física biológica, mas, uma vez estabelecido o padrão, este não é mais abrandado apenas para preencher a cota de mulheres.
Diálogo: Ainda há uma cota para mulheres?
Gen Div Meade: Sim, há uma cota. Meu objetivo ideal de longo prazo é não ter mais cota, mas viemos de uma força da década de 1970, quando o alvo era uma cota de 10 por cento, a qual jamais atingimos. Eu tenho dito, vamos traçar um objetivo de 25 por cento, mas minha meta de longo prazo é um dia admitir qualquer cidadão jamaicano, desde que seja competente. Se chegarmos a 50-50, que assim seja. No entanto, nessa transição, eu preciso estabelecer outra meta a ser atingida que, no momento, é de 25 por cento.
Diálogo: Qual a importância de ter a primeira mulher oficial comandante (a Comodoro Antonette Wemyss-Gorman) como parte da JDF para apoiar esses esforços?
Gen Div Meade: Acho que é muito importante. Eu diria que não é por ela ser mulher, mas porque ela é competente na sua função em geral e na de oficial comandante. Ela é a primeira oficial comandante da Jamaica, não apenas na nossa força, mas também em todo o Caribe anglofalante. Ela é a primeira oficial comandante e é mulher, o que é muito merecido. Assim sendo, seja homem ou mulher, como pessoa ela teria chegado a oficial comandante. Simplesmente ocorre que se trata de uma mulher.
Diálogo: Quais são os talentos específicos que uma mulher pode oferecer?
Gen Div Meade: Elas oferecem uma perspectiva que é muitas vezes diferente da dos homens. Nem sempre é certa, nem sempre é relevante, mas é diferente o suficiente para que um comandante como eu faça uma pausa para avaliar as diferentes opções. Eu valorizo o fato de contar com uma equipe de assessores que inclui um conjunto de competências diferentes e gêneros diferentes, como um meio de ter um amplo leque de ideias, porque algumas vezes mencionam coisas que jamais me haviam ocorrido.
Diálogo: A Jamaica treina outros países caribenhos?
Gen Div Meade: Sem dúvida. Temos diversos cursos. No nível de graduados, treinamos os caribenhos anglofalantes. No nível de oficiais (de capitão a major), temos um programa de treinamento que inclui indivíduos do Caribe, da África, e até mesmo de alguns países da Europa oriental. Além disso, estamos desenvolvendo um treinamento de voo que inclui outros países. Queremos expandi-lo, porque gostaríamos muito de ser o centro de treinamento para as forças menores.
É evidente que os Estados Unidos oferecem programas mais importantes e muita gente quer ir para lá para fazer o treinamento, mas não tem condições financeiras, ou não há vagas suficientes, e dessa forma nós gostaríamos de tornarmo-nos o centro para que forças menores de todo o mundo possam treinar. Isso é o que eu visualizo.