Aumenta a pressão contra o regime da Nicarágua diante do lançamento da nova coalizão nacional, que reúne diversas organizações da oposição para restabelecer a democracia no país. A polícia responde e reforça a segurança, para impedir manifestações contra o presidente Daniel Ortega.
“O governo teme uma onda de protestos face à unidade desses grupos. Ortega já não terá uma oposição dispersa, mas sim uma oposição diversificada, organizada e estruturada”, disse à Diálogo Eliseo Núñez, ex-deputado oposicionista e especialista em políticas públicas. “No final de março [de 2020], mais de 200.000 pessoas estarão conectadas e organizadas em todo o país; isso mudará totalmente o sentido da luta.”
Na medida em que a coalizão avançar quanto ao processo da organização, a possibilidade de unir fisicamente os seguidores em um lugar determinado é maior, continuou Núñez. Hoje em dia, o problema é que os mecanismos de convocação são públicos e o sistema policial é então alertado, acrescentou.
No entanto, apesar das proibições, a população sai às ruas para repudiar a repressão. No dia 25 de fevereiro, após a formação da coalizão nacional que busca a restituição das liberdades e a realização de eleições transparentes, alguns cidadãos conseguiram realizar “piquetes expressos” (protestos rápidos) em um centro comercial.
Com a bandeira nacional à frente, os manifestantes exigiram a libertação dos presos políticos e a saída de Ortega e da vice-presidente Rosario Murillo. Não obstante, um grande destacamento policial dissolveu a manifestação e ameaçou os jornalistas ali presentes. Simultaneamente, em outras regiões do território nacional, grupos de jovens nicaraguenses exigiram a restituição dos seus direitos e da justiça.
“Essas manifestações rápidas continuarão, mas pouco a pouco veremos que elas serão mais organizadas do que esporádicas”, disse Núñez. “Embora não haja condições para se manifestar, os jovens estão coordenados por sua convicção de repudiar uma ditadura”, disse à Diálogo Francis Machado, presidente da ONG nicaraguense Associação das Mães de Abril, a partir do seu exílio no México.
Desde setembro de 2018, as forças de segurança proíbem qualquer marcha contra o regime e ameaçam deter e levar à justiça aqueles que organizarem novos protestos, apesar de que a Constituição estabelece o direito à reunião pacífica. Vários manifestantes que hastearam a bandeira ou cantaram o hino da Nicarágua foram detidos.
Nas redes sociais, a ONG Sismologia Social: Observatório de Protestos na Nicarágua contabilizou 442 manifestações contra o regime entre 2019 e 2020, onde predominaram greves de fome e piquetes expressos. Segundo os dados, devido à repressão, houve uma queda de mais de 80 por cento em comparação com 2018, quando se registraram 2.123 protestos.
Em resposta, os nicaraguenses criaram adesivos com os rostos dos prisioneiros políticos e dos jovens assassinados, com mensagens de protesto “para continuar com a luta e a resistência”, declarou Machado. Os primeiros adesivos foram colados em espaços públicos em dezembro de 2019.
“Vemos diariamente nas redes sociais denúncias em nível nacional e internacional contra as ações do ‘governo repressor’, inclusive ridicularizando o regime. As redes têm um papel chave para conclamar a população a se unir às marchas”, disse Núñez. “Isso é importante, porque cada expressão individual reprimida gera uma quantidade de pessoas que têm necessidade de se organizar e de ‘enfrentar’ o regime.”
A Nicarágua está longe de ser um país seguro, publicou em dezembro o jornal The New York Times. Por sua parte, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos lembrou a Ortega que “os Estados baseados no fato de que as manifestações são lícitas e não constituem uma ameaça à ordem pública, com um enfoque na participação do cidadão, no diálogo e na negociação”.