Durante as comemorações da independência em Quetzaltenango, Guatemala, a pequena Wendy observava os alunos do Instituto Adolfo V. Hall de Occidente (uma escola militar de nível secundário), que vestiam seus uniformes de gala e desfilavam com grande disciplina. Desde então nasceu nela o interesse pela vida militar. Ao acompanhar seu pai à Cidade da Guatemala em suas viagens de trabalho, ela via as instalações do Comando do Corpo de Engenheiros do Exército “Teniente Coronel de Ingenieros e Ingeniero Francisco Vela Arango”, e sonhava em ingressar e conhecer os militares que estavam trabalhando. Passaram-se os anos e a menina conseguiu realizar seu sonho: primeiro como aluna do Instituto Adolfo V. Hall de Occidente e depois entrou para a centenária Escola Politécnica, sua alma mater militar. Hoje a pequena é 2º Tenente do Corpo de Engenheiros do Exército da Guatemala Wendy Audrey Saquic Melecio, em serviço ativo no Corpo de Engenheiros do Exército “Teniente Coronel de Ingenieros e Ingeniero Francisco Vela Arango”. Diálogo conversou com a 2º Ten Saquic, que participou dos esforços de assistência após os furacões Eta e Iota na Guatemala.
Diálogo: Qual a participação de uma engenheira no esforço de assistência após o furacão?
2º Tenente do Corpo de Engenheiros do Exército da Guatemala Wendy Audrey Saquic Melecio: É uma grande responsabilidade apoiar os esforços após desastres naturais, porque um oficial é nomeado com a equipe e o maquinário, dependendo do desastre natural e do tipo de apoio que se requer. Nas tempestades Eta e Yota nós proporcionamos apoio com maquinário pesado. Então mobilizamos um comboio com um carregador frontal, um minicarregador, uma retroescavadeira e um caminhão basculante.
Diálogo: Em quais áreas do país vocês estiveram?
2º Ten Saquic: Trabalhamos [no quilômetro] 153 da Aldeia Pasmolón, Tactic de Alta Verapaz, porque houve um deslizamento de terra na estrada principal. Então tivemos que remover a terra com o comboio, com a retroescavadeira e com o carregador frontal. Temos maquinário em toda a República da Guatemala. Temos 17 comboios destacados.
Diálogo: Como a senhora se sente exercendo duas profissões onde tradicionalmente há mais homens do que mulheres na América Latina, como a carreira militar e a de engenharia?
2º Ten Saquic: É uma sensação gratificante; na verdade, é todo um orgulho. Temos orgulho como mulheres, porque já quebramos muitos paradigmas, pois não é só o homem que pode sobressair. É um papel muito importante que desempenhamos e exige muita responsabilidade e vocação de serviço. Você realmente quer servir o seu país sem se importar com o que dizem os demais. Afinal, lutamos por nossos sonhos e, como ocorre no meu caso, sou a única militar da família. Meus pais, meus tios, meus primos pensaram: “ela não conseguirá”, ou “por ser mulher”, mas isso não ocorreu. Graças a Deus, tenho a patente de 2º tenente, estudei na Escola Politécnica e terminei meus quatro anos, obtendo a patente de 2º tenente do Corpo de Engenheiros.
Diálogo: Por que a presença de mulheres é importante nos esforços de assistência diante de desastres, como em relação aos furacões Iota e Eta?
2º Ten Saquic: Porque nós, mulheres, somos ordenadas, temos características muito específicas, e nos entendemos muito bem com o povo guatemalteco. É uma grande satisfação pessoal. Apesar de os trabalhos serem cansativos, eu me sinto feliz e tenho vontade de continuar apoiando meu país em qualquer tipo de desastre natural.
Diálogo: Como a senhora se sentiu participando de uma missão ainda mais complicada devido à pandemia?
2º Ten Saquic: Estamos capacitados para oferecer apoio imediato aos que mais necessitem em casos de desastres naturais e calamidades públicas. Foi essencial cumprir estritamente os protocolos recomendados pelo Ministério da Saúde Pública e Assistência Social. Além disso, continuamos desempenhando nossas funções dentro do nosso cargo, para evitar a propagação da COVID-19.
Diálogo: Que talentos especiais as mulheres das Forças Armadas podem oferecer, principalmente durante os esforços de assistência em desastres?
2º Ten Saquic: São vários os talentos necessários. Como mulheres, representamos o amor materno que traz segurança, confiança e proteção, pois há diferentes áreas de atuação do pessoal feminino como, por exemplo, o apoio aéreo, a ajuda humanitária, os primeiros socorros e a distribuição de mantimentos, entre outras.
Diálogo: Que talentos são necessários para ter sucesso no âmbito militar, independentemente do gênero?
2º Ten Saquic: É preciso ter a formação propiciada pelas Forças Armadas, integrada com o compromisso pessoal, a vocação de serviço, o trabalho em equipe e a capacidade de tomar decisões, sobretudo em condições de emergência e sob pressão.