A Rússia e a Nicarágua assinaram um acordo de cooperação em cibersegurança para o período de 2022-2026, segundo o jornal oficial nicaraguense La Gaceta. O pacto foi feito em Manágua após consultas sobre segurança cibernética.
“Eles mencionam que querem fazê-lo pacificamente, mas vendo a situação que estamos vivendo hoje em nível global, parece mais uma tática militar de espionagem do que uma tática de cooperação em cibersegurança”, disse à Diálogo Víctor Ruíz, fundador do centro de cibersegurança SILIKN no México, em 15 de dezembro.
O acordo de 22 de novembro tem como objetivo final “defender a soberania nacional de cada um dos participantes”, disse Oleg Okhramov, secretário adjunto do Conselho de Segurança da Federação Russa, que participou das consultas.
Alerta vermelho
A Rússia possui um arsenal significativo de ferramentas cibernéticas e hackers capazes de realizar ataques disruptivos e potencialmente destrutivos, informa na internet a BBC Mundo. O Kremlin “atacou diferentes países em momentos diferentes”, disse Ruíz.
De acordo com o Relatório de Defesa Digital 2022 da Microsoft, em 2021, 90 por cento dos ataques russos detectados pela Microsoft visavam os Estados membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), e 48 por cento desses ataques visavam empresas tecnológicas sediadas nesses países.
A Rússia também acelerou suas tentativas de comprometer as empresas de tecnologia da informação e de comunicação para interromper ou obter inteligência dos clientes governamentais dessas empresas nos Estados membros da OTAN, especifica o Relatório de Defesa.
Um dos grupos russos por trás dos ciberataques na América Latina é a organização criminosa Conti, que tem vínculos com o Kremlin, noticiou em outubro a revista espanhola CSO, que se concentra em segurança informática. Conti lançou ataques a sites dos governos da Costa Rica e do Peru, em abril de 2022.
Além disso, a partir de 23 de fevereiro de 2022, o mundo da cibersegurança entrou na era da guerra híbrida, pois a Rússia utilizou ataques físicos e digitais contra a Ucrânia, disse o relatório da Microsoft.
“Deve-se ver a nova aliança [Nicarágua-Rússia] como um aviso”, disse Ruíz. “A Rússia está procurando maneiras de destacar suas capacidades tecnológicas e militares nesta região e está encontrando aliados na América Latina que possam permitir que o faça.”
Doutrinação em massa
A tecnologia e as táticas russas também podem ajudar a ditadura a tirar a mídia independente da Nicarágua do ciberespaço, para que a população só conheça a versão oficial, em uma espécie de doutrinação em massa, noticiou na internet o jornal nicaraguense independente La Mesa Redonda.
Desde o final de 2020, a Nicarágua tem visto um incremento das denúncias de agressões usando a mídia digital e tentativas de sabotagem, bem como o desaparecimento de contas em redes sociais e plataformas independentes da web, ressalta na internet a mídia nicaraguense independente Fuentes Confiables.
Embora a Nicarágua tenha uma lei de cibersegurança, a legislação criminaliza aqueles que façam críticas ao regime de Ortega-Murillo nas redes sociais ou questionem sua autoridade; ela ameaça com a prisão os meios de comunicação que, segundo o regime, emitam “notícias falsas”, informa na internet a mídia nicaraguense independente Divergentes.
“Esta é uma questão política”, declarou Ruíz. “Com a Nicarágua, a Rússia procura avançar em países como El Salvador ou Guatemala, devido à sua proximidade aos EUA, para estar revisando os Estados Unidos a partir de países mais próximos.”
Boa estratégia
David Cattler, secretário-geral adjunto de Inteligência e Segurança da OTAN, disse que “operações cibernéticas adicionais estão em andamento. Algumas dessas operações foram ligadas à inteligência militar russa e foram projetadas para causar efeitos psicológicos e esgotar os recursos da defesa cibernética”, relatou em setembro na internet a plataforma europeia Euronews.
Portanto, “os governos da região e as empresas de qualquer tamanho devem desenvolver uma boa estratégia de cibersegurança, evitando não apenas um ataque ou espionagem que poderia vir da Nicarágua ou da Rússia, mas de qualquer outro grupo criminoso”, disse Ruíz. “Um plano que esteja baseado em três pilares: tecnologia avançada; políticas e procedimentos; e treinamento em cibersegurança em todos os níveis.”