A guerra da Rússia contra a Ucrânia “não só gera milhares de mortes de civis inocentes e soldados ucranianos, mas Moscou com este ato insano está brincando com a segurança alimentar do planeta, agravando a fome e a pobreza”, disse à Diálogo Jorge Bedoya, presidente da Sociedade de Agricultores da Colômbia, em 18 de janeiro.
O Kremlin continua bloqueando a maioria dos envios de grãos e cereais de sete dos 13 portos utilizados pela Ucrânia, dificultando as operações e atrasando as inspeções dos navios, informou o diário dos EUA The New York Times, em 3 de janeiro.
Ao impedir a exportação de grãos ucranianos, a Rússia está tornando os produtos à base de trigo, como pão e massas, cada vez mais caros, relatou a plataforma britânica BBC Mundo. Além disso, está atacando a rede de energia e a infraestrutura da Ucrânia, para interromper o fluxo de alimentos.
“Uma persistente crise alimentar mundial tornou-se uma das consequências mais abrangentes da guerra da Rússia, contribuindo para a fome, a pobreza e as mortes prematuras generalizadas”, ressaltou The New York Times.
“Estamos agora lidando com uma crise maciça de insegurança alimentar”, disse Antony J. Blinken, secretário de Estado dos EUA, em uma cúpula realizada em Washington, em dezembro.
Pagando o preço
“A mesma invasão está criando escassez de alimentos e preços altos na América. Na Colômbia, ela causou um pico nos fertilizantes (vitais para a agricultura e produção mundial de proteína animal), o que não se via há muitos anos”, declarou Bedoya. “Não se vê nenhuma desescalada e nenhuma possibilidade de um acordo para que a Rússia se retire da Ucrânia”, afirmou Bedoya.
“Aqueles que estão pagando o preço são os agricultores, os produtores e obviamente os consumidores do planeta”, disse Bedoya. “A invasão da Ucrânia também fez com que agricultores de todo o mundo deixassem de comprar ou usar matérias-primas e insumos. Este cenário tem levado a mais fome e pobreza no planeta.
Mais fome
“Estamos vendo o aumento de preços em tudo, de 60 por cento nos Estados Unidos até 1.900 por cento no Sudão”, disse a The New York Times Sara Menker, diretora executiva da Gro Intelligence, uma plataforma de dados sobre clima e agricultura.
O aumento dos preços globais, devido à hostilidade russa, tornou mais difícil para que cerca de 130 milhões de latino-americanos possam pagar por uma dieta saudável, indicou o novo relatório das Nações Unidas (ONU), Perspectiva da Segurança Alimentar e Nutricional 2022.
“A insegurança alimentar continuará a aumentar devido à crise dos preços de alimentos e combustíveis causada pelo conflito na Ucrânia […]”, afirmou Lola Castro, diretora regional do Programa Mundial de Alimentos da ONU, durante a apresentação do relatório. “A perspectiva não é encorajadora”, disse a ONU.
Organizando esforços
Diante da interrupção intencional da Rússia do fornecimento mundial de alimentos, os Estados Unidos e seus aliados estão lutando para reduzir os danos, organizando esforços para ajudar os agricultores ucranianos a retirar alimentos do seu país através de redes ferroviárias e rodoviárias, declarou The New York Times. O governo dos EUA também forneceu mais de US$ 11 bilhões para enfrentar a crise alimentar.
Embora mais da metade do fornecimento de trigo do Programa Mundial de Alimentos da ONU venha da Ucrânia, a União Europeia (UE) continua a apoiar as populações vulneráveis, informa online a Comissão Europeia. Além disso, as sanções da UE e dos EUA impostas à Rússia não têm como alvo o setor agrícola.
A Colômbia está lidando com os impactos da crise alimentar global causada pela invasão russa de diversas maneiras. Uma delas é assegurar insumos com fornecedores tradicionais – os Estados Unidos e a Europa Oriental – e novos fornecedores, disse Bedoya.
Outra é aplicar uma tarifa de 0 por cento sobre as importações de trigo até julho de 2024, de acordo com o site da indústria alimentícia latino-americana Goula. “Todos os países devem rejeitar qualquer tipo de agressão que seja feita para brincar com a comida dos demais”, declarou Bedoya.
O planeta precisa realmente concentrar seus esforços primeiro em como acabar com esta invasão. “Depois, reembolsar os danos que a Rússia tem causado à Ucrânia, e que isso sirva de lição a todos os países sobre a importância da segurança alimentar […], que pode ser usada como uma arma de guerra”, concluiu Bedoya.