Nos últimos 10 anos, a China inundou a América Latina de dinheiro, com mais de US$ 117 bilhões em empréstimos, transformando a região em uma das mais endividadas do mundo com o governo chinês.
As condições dos empréstimos, que foram considerados predatórios por alguns políticos, preocupam os economistas.
Junto com a África subsaariana, a América Latina é uma das regiões do mundo afastadas geograficamente da China que mais devem dinheiro ao país asiático, segundo um estudo do Kiel Institute.
A Venezuela é o país que recebeu mais dinheiro da China: US$ 62,2 bilhões em 17 créditos, principalmente para o setor energético, de acordo com uma base de dados do centro de estudos Diálogo Interamericano.
Para o governo dos EUA, a crescente importância da China na América Latina é uma intromissão em sua área de influência geopolítica.
O secretário de Estado dos EUA Mike Pompeo, em sua visita à região em 2019, advertiu os países quanto aos créditos “predatórios” da China, que injetam “capital corrosivo na corrente sanguínea da economia, dando vida à corrupção e corroendo a boa governança”.
Em que consistem os empréstimos do governo da China?
As principais entidades de empréstimos são os chamados bancos institucionais a serviço das políticas econômicas do governo: o Banco de Desenvolvimento da China e o Banco de Exportação-Importação (Exim) da China.
Os bancos estatais chineses se tornaram os credores líderes na América Latina e, além da Venezuela, outros países do continente sul-americano estão entre os que receberam mais dinheiro dessas instituições de empréstimos chinesas.
A maioria dos empréstimos (67 por cento) foi para projetos de energia, e quase 20 por cento para infraestrutura, segundo os dados do Diálogo Interamericano.
As condições dos empréstimos e os destinatários são os alvos das críticas aos créditos do governo de Xi Jinping.
“Os empréstimos chineses são considerados predatórios porque frequentemente são feitos a países que estão em um risco relativamente alto de cair em default [descumprimento dos pagamentos de uma dívida]”, disse Margaret Myers, pesquisadora e especialista em relações entre a América Latina e a Ásia.
Mitigar o risco e beneficiar a China
Como explica Myers, o modelo chinês de empréstimos foi projetado para “mitigar o risco e beneficiar a China até certo ponto”.
“Geralmente, existe uma condição nos créditos que requer o uso de companhias e equipamentos chineses”, declarou Myers.
Além disso, os bancos estatais chineses também são criticados por darem dinheiro sem tantas condições, como as políticas públicas ou econômicas que costumam acompanhar os fundos de instituições multilaterais como o FMI ou o Banco Interamericano de Desenvolvimento.
“O problema é que é preciso haver um governo responsável […]; quando isso não acontece, o dinheiro pode ser usado para propósitos desafortunados ou é desperdiçado, deixando um país em uma situação pior do que a de antes”, afirmou a especialista.