Quando o comissário Michel-Ange Gédéon assumiu o posto de diretor-geral da Polícia Nacional do Haiti (PNH), em 8 de abril de 2016, ele prometeu continuar trabalhando para profissionalizar os 15.000 membros da instituição. Depois de 20 meses no cargo, ele continua trabalhando para cumprir a promessa.
O comissário Gédéon participou da 16a Conferência sobre Segurança dos países do Caribe (CANSEC, em inglês), realizada em Georgetown, Guiana, nos dias 6 e 7 de dezembro de 2017. Os participantes da CANSEC discutiram sobre ações regionais para combater as redes de ameaças transregionais e transnacionais (T3N, em inglês). O comissário Gédéon conversou com Diálogo sobre a sua primeira participação na CANSEC, sobre as ameaças de segurança do Haiti e as ações da PNH para proteger as fronteiras do país contra o tráfico de drogas e as redes criminosas internacionais.
Diálogo: Qual é a importância da participação do Haiti na CANSEC?
Comissário Michel-Ange Gédéon, diretor-geral da PNH: As ameaças são as mesmas em toda a região e a melhor maneira de enfrentar essas ameaças é através do compartilhamento de informações. Não podemos compartilhar informações se não houver contato entre os líderes dessa região. Também tenho interesse em que se realize uma CANSEC no Haiti.
Diálogo: O terrorismo é uma preocupação de segurança importante para o Haiti?
Comissário Gédéon: Felizmente, não, porém observamos o que está acontecendo em outros países. Nossa observação nos tornou mais focados na existência de mesquitas no Haiti. Embora o terrorismo não seja uma ameaça imediata para nós, estamos nos preparando para evitar atividades terroristas no futuro.
Diálogo: Quais são as ameaças de segurança que o Haiti enfrenta?
Comissário Gédéon: No passado recente, enfrentamos sequestros e assassinatos, no entanto, hoje há uma grande redução em ambos. Nossa preocupação é com o tráfico de drogas. Não produzimos drogas, mas o Haiti é visto como uma colônia para transbordo. Há muitas fragilidades em termos de controle de fronteiras, tanto terrestres, como marítimas, de portos e aeroportos; porém, estamos trabalhando para ter controle total das nossas fronteiras. Recebemos drogas, especialmente na parte sul do Haiti, em Les Cayes, Grand’Anse, uma área próxima da Jamaica e da Colômbia. Estamos, no momento, fazendo grandes esforços para tratar desse problema e o compartilhamento de informações é fundamental para o nosso sucesso.
Diálogo: Que outras ações o Haiti está realizando para controlar a vulnerabilidade das suas fronteiras?
Comissário Gédéon: Começamos a implementar o nosso projeto de policiamento de fronteiras com a unidade especializada chamada PoliFront, cuja missão fundamental é a segurança da fronteira e a luta contra as T3N. Estamos trabalhando com a Guarda Costeira do Haiti para reforçar nossa capacidade de comprar embarcações e aumentar o pessoal. Temos ações conjuntas com a Unidade Antidrogas e a Guarda Costeira do Haiti em algumas áreas, para combater o tráfico de drogas, armas e pessoas.
Diálogo: Junto com o tráfico de drogas, o Haiti vem enfrentando a proliferação das gangues. Como a PNH trata dessa situação?
Comissário Gédéon: Em 2000, tínhamos algumas zonas vermelhas, como Aquin-Sud, Cité Soleil, área de Martissant, Grand Avin e Bel Air, porém pacificamos essas áreas com ações conjuntas entre a Missão de Estabilização da ONU no Haiti (MINUSTAH) e a PNH. No entanto, a circulação de armas continua sendo uma grande preocupação, especialmente quando os membros dessas gangues são ligados a políticos. Isso complica o trabalho da polícia. Hoje, posso garantir que a PNH tem um controle melhor das atividades das gangues no país. Sabemos quem são e estamos à sua procura.
Diálogo: Como as responsabilidades da PNH mudaram depois do encerramento da MINUSTAH no Haiti, em outubro de 2017?
Comissário Gédéon: A PNH sempre fez o seu trabalho, apesar de termos a presença da MINUSTAH no Haiti. Por exemplo, tivemos eleições recentes sem violência e a nossa força foi responsável pela segurança. Tivemos eventos como o Carnaval no Haiti, que atraiu multidões, e tratamos disso com sucesso.
Com o encerramento da MINUSTAH, a PNH está mais focada na transferência de competências da MINUSTAH para o nosso pessoal em termos de gerenciamento de equipe e recursos, para podermos ter ferramentas e técnicas para manter a segurança. Estamos no processo de seleção dessas funções da MINUSTAH especializadas em áreas como recursos humanos, logística e informações de inteligência, para que possamos transferir e compartilhar suas habilidades com a PNH. Quando chegar o momento da sua saída, as Nações Unidas terão a certeza de que nossas forças podem desempenhar o trabalho sem esse apoio.
Diálogo: Existe um prazo para essa transferência?
Comissário Gédéon: Dois anos. Estamos considerando 2019.
Diálogo: A PNH trabalha com outras forças militares na região no combate às ameaças transnacionais?
Comissário Gédéon: Desenvolvemos um bom relacionamento com todos os nossos parceiros na região. Também temos um bom relacionamento com o FBI [sigla em inglês para Escritório Federal de Investigação dos EUA] no combate às drogas. Temos iniciativas para realizar reuniões da polícia ou de segurança com nossos parceiros da República Dominicana e Jamaica, e muitos de nossos agentes são treinados em países como Estados Unidos, Chile, Equador e Colômbia. Enviamos nosso pessoal para receber treinamento e eles voltaram aplicando suas habilidades para ajudar no combate a todos os tipos de tráfico e crimes.
Diálogo: Como a PNH trabalhará com o exército nacional que acaba de ser restabelecido?
Comissário Gédéon: Depois da dissolução do Exército do Haiti, em 1994, a polícia assumiu sua função. Após 22 anos, será uma nova experiência trabalhar novamente com um exército, depois da decisão tomada pelas autoridades em 18 de novembro de 2017 para restaurá-lo. A missão da polícia é a de servir e proteger a vida e a propriedade dos cidadãos, enquanto o exército ficará focado em defesa do território, atendimento médico, aviação e meio ambiente, entre muitas outras responsabilidades. Parece que podemos operar juntos, cada um em seu próprio nível.
Diálogo: Quais foram as realizações da PNH em 2017?
Comissário Gédéon: A unidade de gênero é uma das nossas realizações, pois queremos ter um maior percentual de mulheres na força. Também trabalhamos no conceito de polícia comunitária e da PoliFront. Conseguimos investigar o comportamento do nosso pessoal com o reforço do Escritório de Assuntos Internos. Nosso sucesso também está relacionado com a transparência da nossa força. Estamos no processo de criação de um bom relacionamento com a comunidade e com o público em geral.
Diálogo: Qual é a sua mensagem para a região?
Comissário Gédéon: As ameaças são as mesmas em todos os lugares e a polícia é única em todos os lugares. Precisamos nos unir para enfrentar essas ameaças; sozinhos não conseguimos, mas, juntos, isso será possível.