Vistas do ar, as minas ilegais de ouro parecem feridas na densa selva no sul da Colômbia: cicatrizes de sujeira vermelha, cinza e marrom em torno de lagoas tóxicas.
O som dos helicópteros policiais e militares sobre as colinas faz com que a maioria dos mineiros fujam em direção às matas, e apenas alguns permanecem para tentar confrontar a polícia e os soldados que saltam dos helicópteros.
Eles são rendidos rapidamente com gás lacrimogêneo e as autoridades iniciam a incineração do equipamento pesado usado para extrair ouro.
A mina se localiza no município de Magüí Payán, uma zona remota do sul da Colômbia, onde não há água encanada e os sistemas de comunicação são tênues.
Uma mulher de aproximadamente 40 anos grita aos soldados e a um grupo de jornalistas que os acompanham: “Se o Estado não permite que os pequenos mineradores trabalhem, não posso alimentar meus filhos, porque o Estado não me dá nada.”
O índice de pobreza extrema supera 80 por cento da região, de acordo com o prefeito Alejandro Juvenal Quiñones.
“Estamos sobrevivendo com o trabalho e a graça do Espírito Santo”, disse ele à Associated Press.
Não há muita comiseração entre os que comandam as minas, que são as fontes principais de renda. Eles são controlados ou no mínimo sofrem extorsão por parte das gangues do crime organizado, nesse caso grupos rivais das atuais ou antigas guerrilhas da ainda ativa Frente de Libertação Nacional e uma dissidência das desmobilizadas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia.
O Tenente-Coronel da Polícia Pedro Pablo Astaiza, que comandou o ataque deste mês [abril], disse que os grupos armados exigem uma fatia de 10 por cento de tudo o que for produzido por cada máquina escavadora.
Ele disse que a operação desmobilizou seis escavadeiras avaliadas em cerca de US$ 330.000 ao todo, maquinário capaz de produzir aproximadamente 6 quilos de ouro por mês.
No entanto, ele disse que dentro de seis meses os mineiros já poderão ter consertado as máquinas e colocado as mesmas em funcionamento novamente.
O governo disse que, desde o início de 2019, fez incursões em 9.235 minas ilegais, prendeu 3.300 pessoas e destruiu ou desativou 450 dragas.
“Não estamos falando de economias básicas, de criminosos comuns”, disse o General de Exército Jesús Alejandro Barrera Peña, diretor de segurança rural da Polícia Nacional. “É importante deixar claro que as comunidades não fazem parte das organizações ilegais; elas são usadas como ferramentas.”
As minas ilegais, como a de Magüí Payán, são mais regras do que exceção na Colômbia, bem como na maioria da América Latina, onde as forças governamentais muitas vezes têm dificuldade de fazer cumprir as leis nas áreas rurais remotas, onde os criminosos se estabeleceram.
O Gabinete das Nações Unidas para Drogas e Crimes estimou que dois terços do ouro produzido na Colômbia em 2019 foi extraído ilegalmente, e um relatório da Iniciativa Global Contra o Crime Organizado Transnacional, financiada pelo governo suíço, calculou que em 2016 os rendimentos das exportações de ouro ilegal cresceram e excederam os do contrabando de cocaína na Colômbia e no Peru.
Os procuradores dos EUA, nos últimos anos, fizeram acusações envolvendo bilhões de dólares em ouro que dizem ter sido extraído ilegalmente na América Latina, tendo seus lucros lavados através de bancos e outras instituições.
Apenas neste mês procuradores colombianos prenderam 25 pessoas acusadas de pertencer a grupos que vendem e enviam ouro ilegal para países tais como Estados Unidos, Emirados Árabes Unidos e Turquia.
As riquezas que eles extraem deixam um rastro de devastação; são minas irregulares que utilizam produtos químicos letais para separar o ouro do solo, criando riscos para as comunidades locais que podem permanecer durante gerações.
“Para produzir um único grama de ouro, devem ser utilizados 5 gramas de mercúrio, e só 1 grama desse metal pode contaminar 500.000 litros de água”, disse o Gen Ex Barrera Peña.
Isso é ainda uma importante perda de rendimentos para um governo que precisa de recursos em seus esforços para impor sua autoridade e pacificar as zonas rurais após décadas de conflito com guerrilhas e gangues criminosas.