O Peru pediu formalmente apoio aos Estados Unidos para elaborar um plano para lutar contra o narcotráfico. A estratégia se concentraria em reduzir o cultivo de coca, na produção de cocaína e sua eventual exportação, enquanto o país intensifica as medidas de segurança em suas fronteiras.
O ministro das Relações Exteriores do Peru, Javier González-Olaechea, formalizou o pedido em dezembro de 2023 com o secretário de Estado dos EUA, Anthony Blinken, e disse que viajaria para os Estados Unidos em fevereiro, para que juntos pudessem analisar e dar forma ao acordo.
“Para atacar melhor o narcotráfico, o Peru precisa fundamentalmente de […] apoio logístico, tecnologia, armamento e um trabalho de inteligência prospectiva muito mais sustentado e voltado para o futuro”, disse à Diálogo, em 17 de janeiro, Pedro Yaranga, analista internacional peruano. “O apoio que os Estados Unidos poderiam oferecer nessas áreas, juntamente com o apoio de capacidades de agências especializadas, como o FBI e a DEA, seria fundamental.”
“O Peru é um país exportador de cocaína […]. Estamos preocupados com a produção e exportação de cocaína e seus derivados e é por isso que sugeri [a Blinken] a possibilidade de ter um plano similar ao Plano Colômbia, adaptado à nossa realidade nacional”, disse o ministro González-Olaechea à imprensa.
O Plano para a Paz, a Prosperidade e o Fortalecimento do Estado (Plano Colômbia) foi um acordo bilateral de 1999 entre a Colômbia e os Estados Unidos, cujos objetivos eram a revitalização social e econômica, o fim do conflito armado interno e a criação de uma estratégia contra o narcotráfico.
O Plano consistia em um pacote de ajuda de US$ 1,3 bilhão, sendo 80 por cento destinados ao fortalecimento da capacidade operacional das forças de segurança e 20 por cento à assistência econômica e social. Foi um marco fundamental na reaproximação entre os dois países, quanto à sua cooperação em segurança, e essencial no processo de modernização das forças de segurança colombianas, observa o portal da Comissão da Verdade da Colômbia.
“Precisamos de equipamentos de alta tecnologia e muitas coisas que faltam ao Peru”, disse o ministro. “Ainda não discutimos [o acesso de tropas dos EUA ao Peru], embora, se fosse o caso, seguiríamos o caminho estabelecido pela Constituição: que o Parlamento autorize a entrada de pessoal especializado para capacitar a Polícia e nossas Forças Armadas.”
Frank Casas, especialista peruano em segurança cidadã, indicou à plataforma de notícias argentina Infobae que o Peru poderia acabar em uma situação semelhante à do Equador, que vem sofrendo uma “explosão” de violência causada pelo narcotráfico, que o governo está tentando conter.
“O risco de violência existe há aproximadamente dois anos, devido à presença exclusiva desses grupos organizados que têm controle territorial”, acrescentou Casas. “É algo que não acontecia antes, mas isso significa que pode explodir a qualquer momento.”
Diante da situação no Equador, o Peru protegeu suas fronteiras. As autoridades militares da Colômbia informaram que dispunham de informação, segundo a qual José Adolfo Macías, líder da gangue Los Choneros, que desapareceu de sua cela e levou o governo equatoriano a declarar estado de emergência, teria intenções de cruzar a fronteira com o Peru. Esse grupo criminoso é um dos principais responsáveis pela violência que vive o Equador, ressaltou Infobae.
Yaranga é categórico ao afirmar que o trabalho de inteligência deveria se concentrar na área costeira do Peru, que inclui o megaporto de Chancay, atualmente em construção, e cuja inauguração está prevista para o final de 2024. Esse porto está sendo construído pela empresa estatal chinesa Cosco Shipping Ports, que foi denunciada por suborno, custos excessivos, atrasos na execução das obras, danos às populações vizinhas em relação aos seus projetos e um grave impacto ambiental.
“Com o porto de Chancay, o crime aumentará, porque será um centro portuário na América Latina”, disse Yaranga. “Precisamos detectar e controlar o que entra e sai desse porto, para evitar a massificação da criminalidade.”
“Ouvi um comandante da Polícia dizer, em um evento das Forças Armadas do Peru, que havia pressão para minimizar os controles de segurança em Chancay, porque uma segurança muito intrusiva poderia elevar os custos operacionais e aumentar o tempo das atividades portuárias”, alertou o analista de relações internacionais peruano, Farid Kahhat, na plataforma de jornalismo peruana La Mula. “Teremos que internalizar esses custos e esses prazos. Se não tivermos medidas de segurança adequadas [em Chancay] no Peru, poderia acontecer muito em breve o que aconteceu no Equador.”