Desde que o governo dos EUA começou a impor sanções à PDVSA, a petrolífera venezuelana reduziu sua produção e exportações. No entanto, a companhia conseguiu manter alguns de seus principais clientes graças à ajuda da petrolífera russa Rosneft, que se tornou a principal comercializadora do petróleo da PDVSA.
Claudio Loser, ex-diretor do Fundo Monetário Internacional, garante que a Rosneft “atua como intermediária” e, por isso, tem sido fundamental na estratégia de venda do petróleo cru venezuelano.
O mês de julho mostrou uma queda nas importações diretas de petróleo da Venezuela pela China e pela Índia, 40 e 20 por cento, respectivamente, mas ao mesmo tempo a petrolífera russa Rosneft aumentou suas compras e se tornou a maior consumidora do petróleo venezuelano, com uma participação de 66 por cento do mercado petrolífero daquele país em agosto, segundo a agência Reuters.
Loser acrescenta que “a Rosneft pode comprar petróleo da Venezuela e dizer que nós o consumimos e vender o resto aos demais países”.
Para o especialista consultado pela Voz da América, a intermediação da Rosneft foi o que permitiu que a PDVSA mantivesse alguns de seus tradicionais clientes na China e na Índia, que temem cair no radar das sanções dos Estados Unidos.
Lisa Viscidi, diretora do Programa de Energia, Mudança Climática e Indústrias Extrativas do Diálogo Interamericano, explicou que é difícil rastrear as operações que estão sendo realizadas com o petróleo venezuelano. “Estão tentando ocultar as transações. Por exemplo, há relatos de navios que não acendem as luzes para que os satélites não os possam rastrear”, afirmou Viscidi em uma entrevista à Venezuela 360 da Voz da América.
Ainda que a PDVSA tenha conseguido manter parte de suas exportações, Viscidi adverte que a produção de petróleo cru em outubro pode sofrer uma queda maior, se o governo dos Estados Unidos não renovar as permissões para as companhias norte-americanas que operam poços na Venezuela em associação com a PDVSA. A mais importante dessas companhias é a Chevron, que participa da produção de 181.000 barris diários.
“Se a Chevron tiver que sair do país, isso complicará ainda mais as coisas para a Venezuela, porque em geral os melhores projetos, os que mais produzem, são aqueles operados pelas companhias estrangeiras”, disse Viscidi.
Se os parceiros norte-americanos da PDVSA saírem da Venezuela, Loser adverte que haverá um impacto maior no fluxo de migrantes venezuelanos na região. “Evidentemente, isso afetará a capacidade do governo de fornecer subsídios. Isso causaria um impacto direto na tendência dos venezuelanos de emigrar”, explicou Loser.
Viscidi e Loser concordam que a produção de petróleo da PDVSA não desaparecerá por completo, mas acreditam que esteja entrando em uma etapa de sobrevivência.
“É isso que estamos vendo no Irã, onde o país continuará exportando em níveis muito inferiores aos praticados anteriormente”, garante Loser.
Até 1999, o petróleo venezuelano representava 72 por cento das exportações do país, mas nos últimos anos, com a destruição da estrutura industrial da Venezuela, a dependência do petróleo aumentou a 90 por cento, paradoxalmente com os níveis de produção mais baixos desde 1940.