Nos últimos meses, a crise econômica, social e política na Venezuela começou a ser sentida com maior intensidade nos quarteis militares do país. Para saber mais sobre esse assunto, Diálogo conversou por telefone com o ex-presidente da Colômbia Andrés Pastrana (1998-2002), que tem conhecimento de causa sobre a questão militar na região, após ter comandado, no início da década de 2000, um dos maiores esforços de cooperação militar dos Estados Unidos no hemisfério. A operação, conhecida como Plano Colômbia, tinha o objetivo de enfrentar o narcotráfico e os grupos terroristas das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) e do Exército de Libertação Nacional (ELN).
“Há uma ruptura militar na Venezuela que se tornou evidente perante a opinião pública internacional no dia 30 de abril passado, quando um grupo de militares repudiou a autoridade de Nicolás Maduro e reconheceu Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela”, disse Pastrana. “Isso ficou mais do que demonstrado quando o assessor de Segurança do presidente Donald Trump, John Bolton, afirmou na Casa Branca que o ministro da Defesa Vladimir Padrino e o General de Brigada Iván Rafael Hernández Dala, responsável pela custódia presidencial, disseram à oposição que Maduro deveria renunciar ao poder, para realizar uma transição pacífica na Venezuela.”
“Nenhum outro país no mundo tem mais militares presos do que a Venezuela; pelo menos 200 deles estão encarcerados, causando uma grande divisão na Força Armada, principalmente nas patentes médias, e a isso se soma o descontentamento diante da crise humanitária e da falta de vontade de solucioná-la.”
Pastrana descreveu o regime de Maduro como uma narcoditadura “que representa uma ameaça continental, devido às operações ilegais do poderoso Cartel de los Soles, comandado por Diosdado Cabello [presidente da ilegítima Assembleia Nacional Constituinte] e Tareck El Aissami [ex-vice-presidente da Venezuela], associados aos guerrilheiros das FARC e do ELN, que vivem na Venezuela e que estão também vinculados a dez poderosos cartéis mexicanos”.
Por esse motivo, Pastrana ratificou seu apoio para que Guaidó ponha em prática o artigo 187 da Constituição da Venezuela, que outorga ao Congresso o poder para autorizar o recebimento de assistência militar internacional, “deter a usurpação de Maduro e solucionar a crise humanitária que custa vidas diariamente na Venezuela”.