Um dos temas de discussão na Conferência Centro-Americana de Segurança 2017 (CENTSEC, por sua sigla em inglês), realizada recentemente em Cozumel, no México, foi o apoio das forças armadas dos países da região para as ações policiais, em especial no combate ao narcotráfico e a outras formas de crime organizado transnacional. A Costa Rica, um dos países participantes, não possui forças armadas. Para aprender como o país enfrenta esses problemas e abordar outros temas relacionados com a segurança da região, a Diálogo conversou com o ministro de Segurança Pública Gustavo Mata Vega.
Diálogo: Há uma tendência, na América Central, de utilizar suas forças armadas como apoio à polícia nacional. A Costa Rica não tem forças armadas. Por essa razão, é mais difícil para vocês enfrentarem os problemas de segurança com as redes criminosas transnacionais?
Ministro de Segurança Pública da Costa Rica Gustavo Mata Vega: Sem dúvida, vislumbra-se um panorama bastante nebuloso na região. E isso nos faz pensar. Todas as forças da região devem participar, sejam militares, policiais, de inteligência, de investigação, e trabalhar sob o mesmo foco, com o mesmo objetivo. Mas achar que esse não é um problema dos exércitos, ou que não é um problema das forças armadas, ou que é apenas um problema da polícia, isso não é assim. Devemos fazer um bloco, uma união, logicamente respeitando a jurisdição de cada país e os direitos humanos. Acredito que podemos fazer um complemento importante. A ideia é que, somando esforços, recursos e inteligência, estaremos preparados para enfrentar essas grandes estruturas criminosas, que não respeitam o país, que não respeitam fronteiras, que não respeitam leis. Sob essa temática, acredito que devemos igualar as forças regionalmente.
Diálogo: O senhor mencionou várias vezes durante a conferência que o Panamá ofereceu ser sede de uma estrutura para compartilhar inteligência entre os países centro-americanos e os Estados Unidos. O senhor pode explicar a que se refere exatamente?
Ministro Mata: Claro. Já vínhamos trabalhando nisso, desde o ano passado, na última reunião da CENTSEC, onde se decidiu que o Panamá tivesse, ou colocasse, uma grande estrutura para a centralização de inteligência direcionada a tudo o que fosse luta contra o crime organizado, contra o narcotráfico, todas essas situações. A ideia era somar a esse componente um oficial de cada país da região para reunir as informações de seu país e colocá-las à disposição desse grande centro de informações. Eu vi isso muito bem. Acontece que não foi possível fazê-lo. Acredito que chegou a hora de se realizarem acordos claros e concretos. Se o Panamá está oferecendo o centro, da mesma forma devemos incorporar, digamos, a condução das informações sobre essas grandes quantidades de cocaína que vão para o norte ou para a Europa. Não se trata de competir com Key West [a Força-Tarefa Conjunta Interagências Sul, localizada em Key West, na Flórida]. Será um complemento, inclusive controlará as informações e as compartilhará. Quanto mais informações houver, maior será o êxito das operações realizadas. Partindo dessa premissa é que proponho que se faça isso o quanto antes. Logicamente, vamos precisar de todo o apoio do governo dos Estados Unidos para que também coloque um representante de cada corporação policial, seja do serviço da guarda-costeira ou das forças militares; eles saberão quem devem colocar, mas é importante que os Estados Unidos também acompanhem esse novo projeto.
Diálogo: O Almirante-de-Esquadra Kurt Tidd, comandante do Comando Sul dos EUA, disse que o que falta para que as nações parceiras trabalhem mais próximas e em conjunto é a confiança total entre os países, no que diz respeito ao intercâmbio de inteligência. O senhor está de acordo com essa afirmação?
Ministro Mata: Sim, mas o Panamá, a Colômbia e a Costa Rica superaram isso. Já estamos trabalhando em níveis de confiança, pois as operações são feitas por WhatsApp e por telefone, e as informações são compartilhadas com as marinhas desses países, por exemplo. A Costa Rica sai, o Panamá sai, a Colômbia chega e uma embarcação suspeita é detida. Estamos realmente obtendo êxito. Um colega da Colômbia estava dizendo que, no ano passado, apreenderam quase 300 toneladas de cocaína. Algumas apreensões foram feitas por operação deles e outras por operações em conjunto da Colômbia e da Costa Rica. Da mesma forma, as 10 toneladas que já temos nesses quatro meses em que estamos na Costa Rica, quase duas toneladas e meia por mês, foram obtidas trabalhando em conjunto com os Estados Unidos, com informações da Colômbia e do Panamá. Vejam então que somos quatro países trabalhando juntos, sob um mesmo bloco e sob um nível de confiança que é importantíssimo. Então esse nível de confiança entre Colômbia, Costa Rica e Panamá já existe. O que se deve fazer é começar a trabalhar. Eu diria que isso serve de exemplo para as outras regiões. E que se somem, que venham ao centro de informações que temos, para começar a gerar confiança.
Diálogo: O que falta para que isso aconteça?
Ministro Mata: Mudar a mentalidade, assumir o risco, dar o passo. Por isso eu dizia para os outros países: senhores, já não deveríamos estar falando sobre isso. Vamos fazer as coisas, vamos dar um passo. Espero que os outros países se unam rapidamente. Acredito que eles vão perceber isso, porque já estamos falando sobre essa unificação há bastante tempo e estamos vendo resultados.
Diálogo: O senhor acredita que incluir o México como um participante ativo em uma conferência como a CENTSEC é um passo nessa direção?
Ministro Mata: O México é importantíssimo. Vamos fazer uma reunião multilateral com a Colômbia, o Panamá, a Costa Rica e o México. Vou propor que nos ajudem e que também participem desse esforço, porque o México é importantíssimo. Da mesma forma, ele possui muita inteligência, muitas informações importantes a serem somadas para o êxito das operações.