A Marinha do Irã anunciou em 11 de janeiro que planeja expandir suas operações militares para o Canal do Panamá ainda este ano, relatou o jornal estadual The Tehran Times. Especialistas dizem que o país islâmico está procurando desafiar os Estados Unidos e fortalecer os laços com seus aliados latino-americanos.
“Nossa frota naval está presente em todos os estreitos estratégicos do mundo, exceto dois”, disse o Contra-Almirante Shahram Irani, comandante da Marinha do Irã, a The Tehran Times. “Este ano […] fazemos planos para nossa presença no Canal do Panamá.”
De acordo com o C Alte Irani, Teerã já estabeleceu centros de comando para os oceanos Índico, Pacífico e Atlântico.
O Canal do Panamá liga os oceanos Atlântico e Pacífico e é um dos dois canais artificiais mais estratégicos do mundo. O Panamá fica a cerca de 3.000 quilômetros de distância da fronteira sul dos EUA.
O objetivo do Irã “é ter uma presença militar na América Latina, por isso não é surpreendente que sua marinha anuncie que fará mudanças no Canal do Panamá”, disse ao jornal The Washington Free Beacon Joseph Humire, diretor do Centro para uma Sociedade Livre e Segura. “Esta é uma escalada tremenda […].”
“Muitas pessoas descartam Teerã em termos de suas capacidades […], mas eu não ignoraria isso”, detalhou Humire. “Isso é o que o Irã vem construindo na América Latina nos últimos 30 ou 40 anos”, mediante o estabelecimento de embaixadas, acordos bilaterais e exercícios militares com aliados como Rússia, China e Venezuela, no Mar do Caribe, acrescentou.
Ameaça real
O anúncio do C Alte Irani “deve ser considerado uma violação da soberania e integridade territorial do Panamá”, disse Alonso Illueca, professor de Direito Internacional da Universidade Santa María la Antigua, do Panamá, à revista centro-americana Expediente Público, em 14 de janeiro.
Estacionar navios de guerra iranianos no Canal do Panamá representa uma ameaça para a segurança mundial, relatou o diário panamenho Crítica. O Irã está procurando provocar os Estados Unidos e mostrar que tem a capacidade de mover seu aparato militar perto dos EUA, disse o jornal Farol Livre.
Esse movimento seria para Teerã um passo em direção a um crescente relacionamento com seus aliados: países dirigidos por ditadores, como Venezuela e Nicarágua, informou a cadeia de notícias NewsNation dos EUA.
Preocupação crescente
Nos últimos anos, navios iranianos têm atracado frequentemente em portos venezuelanos “para apoiar o ditador Nicolás Maduro”, disse Free Beacon. As ditaduras latino-americanas também servem como um meio para o Irã escapar das sanções econômicas dos EUA e aumentar seus negócios de armas e drones.
A presença de Teerã no Canal do Panamá é um motivo de preocupação, pois poderia ser usada para contrabandear armas, acrescentou o diário britânico Express. Os Estados Unidos estão acompanhando de perto “as tentativas do Irã ou pelo menos suas declarações sobre sua intenção de desenvolver uma presença militar no hemisfério ocidental”, declarou Ned Price, porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, em uma conferência de imprensa, em 12 de janeiro.
A Austrália informou em 2 de janeiro que havia rastreado o trânsito de dois navios de guerra iranianos que passaram pelo Pacífico Sul em novembro de 2022. As duas embarcações iranianas, que incluíam uma fragata e um petroleiro convertido, atracaram em Jacarta antes de seguir para o Pacífico, informou o site espanhol Galaxia Militar, em 12 de janeiro.
Influência
“Os esforços concentrados do Irã para expandir sua influência na América Latina fazem parte de uma agenda mais ampla para […] alcançar suas ambições imperialistas e hegemônicas”, disse a Express o cientista político iraniano-americano Majid Rafizadeh.
Hezbollah, o grupo terrorista controlado por Teerã, também está aumentando sua presença na região da América Latina. Os militantes do grupo são conhecidos por viajar livremente na Venezuela e através da triple fronteira que inclui Brasil, Paraguai e Argentina, ressaltou Free Beacon.
“É primordial examinar e agir contra os esforços do regime iraniano para exportar sua ideologia fundamentalista não apenas no Oriente Médio, mas também mais além”, disse Rafizadeh ao jornal Arab News, em 8 de janeiro.
Os Estados Unidos devem abordar todos os aspectos da ameaça iraniana, esgotar as finanças de Teerã e desenvolver uma campanha de pressão sustentada, para encorajar o colapso daquele “regime brutalmente repressivo”, disse em uma reportagem a Fundação para a Defesa das Democracias, com sede em Washington, D.C., em 10 de janeiro.