O regime de Daniel Ortega-Rosario Murillo propôs, em meados de abril, oferecer à Rússia o status de observador do Sistema de Integração Centro-Americana (SICA), para expandir sua presença na região, informou a plataforma norte-americana Voice of America (VOA). A iniciativa foi imediatamente rejeitada por Costa Rica e Guatemala.
O governo da Guatemala disse que a proposta de Ortega “não pode ser endossada e, em hipótese alguma, formalizada […], pois a participação da Rússia é prejudicial aos princípios que buscamos promover como região. Tal ato deve ser adiado até que Moscou cesse suas hostilidades contra a Ucrânia”.
“Estamos agora em uma conjuntura internacional especial marcada pela agressão covarde do tirano russo Vladimir Putin contra o povo da Ucrânia”, disse à Diálogo Napoleón Campos, especialista salvadorenho em relações internacionais, em 12 de maio. “Ortega está seguindo o mesmo caminho de Putin.”
O SICA busca a integração da América Central para torná-la “uma região de paz, liberdade, democracia e desenvolvimento”, de acordo com o site do SICA, criado em 1991. O sistema é composto por Belize, Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Honduras, Nicarágua, Panamá e República Dominicana. Os acordos são firmados por unanimidade.
Alguns dos países observadores do órgão regional são Alemanha, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, Colômbia, Coreia do Sul, Chile, Espanha, Estados Unidos, França, Holanda, Itália, Japão, México, Peru, Reino Unido, Suécia, União Europeia, Uruguai e Vaticano.
Ortega disse a uma delegação chinesa, em 15 de abril, que “não se pode bloquear a anexação de Moscou no SICA, porque não se pode reverter uma decisão que já foi tomada. O que deve ser revertido é a presença de Taiwan no SICA; deve ser retirado, expulso do SICA, e vamos dar as boas-vindas à China”.
O ministro das Relações Exteriores da Costa Rica, Christian Guillermet, disse ao jornal costarriquenho Semanario Universidad que “não há condições para que isso [a ratificação] ocorra” e expressou sua preocupação com a forte influência da Rússia na Nicarágua, que ele descreveu como parte de “um grande problema regional”.
A Nicarágua ocupa desde junho de 2022 a secretaria geral do SICA para o período 2022-2026, depois de vários meses sem consenso para a eleição do cargo, informou a VOA.
As intenções
“A iniciativa de Ortega de remover Taiwan e integrar a Rússia e a China no SICA é conveniente”, disse Campos. “Ortega está buscando reconhecimento para os poucos aliados que tem no mundo, para jogar a geopolítica mundial.”
De acordo com o site de notícias argentino Infobae, Ortega acredita que pode seguir os passos de Fidel Castro ou Hugo Chávez na região, acreditando que pode ser um ator importante na política mundial. Ele também vê uma oportunidade de criar um bloco na região contra os Estados Unidos.
Campos lembrou que o último apoio do regime de Ortega-Murillo foi votar contra a “resolução condenatória” da ONU contra a invasão russa da Ucrânia. “A necessidade da Rússia de estar no SICA […] é uma busca por oxigenação barata.”
Grupo central de países
“El Salvador apoia a Nicarágua, e as recusas da Guatemala e da Costa Rica em ratificar a Rússia no órgão regional poderiam colocar em xeque a convivência política entre os países da região centro-americana”, declarou Campos. “A cúpula dos chefes de Estado e de governo dos oito países do SICA […] será muito mais paralisada em 2023, devido às contradições.”
“As cúpulas semestrais entraram em colapso há três anos e há um grupo de países do sistema que se reúne separadamente, como a República Dominicana, a Costa Rica e o Panamá”, disse Campos. “Eles o chamam de núcleo de países democráticos da região da América Central.”
A revitalização da integração política regional removerá do poder os projetos tirânicos que surgiram em alguns países, ressaltou Campos. “É a única maneira de recuperar o caminho democrático na região com o direito internacional, com o mundo democrático, o que faremos nesta instância privilegiada (do SICA) que a América Central tem”, concluiu.