Embora a produção global de fentanil represente custos de fabricação mais baixos e uma demanda crescente, a Colômbia continua a ser considerada como um dos maiores exportadores de cocaína do mundo, enquanto a demanda continua a crescer e entrar em novos mercados.
“O que vemos globalmente em termos de demanda por cocaína é que ela continua a crescer, apesar dos novos fenômenos de drogas como o fentanil. A demanda por cocaína continua estável ou crescendo e entrando em novos mercados”, disse à Diálogo, em 3 de janeiro, Ana María Rueda, coordenadora da Unidade de Investigação e Análise do think tank Política de Drogas da Fundação Ideias para a Paz, da Colômbia. “Hoje temos mercados para a cocaína que não tínhamos antes, onde a demanda ainda é muito vigente.”
A Polícia Nacional e a Agência Tributária da Espanha já haviam alertado sobre a crescente demanda por cocaína após a apreensão, em 12 de dezembro de 2023, de 11 toneladas de cocaína provenientes da Colômbia, informou o canal de notícias colombiano NTN24. A apreensão foi um grande golpe para as redes de narcotráfico que controlam a distribuição na Europa a partir da Colômbia e do Equador, informou a cadeia espanhola Antena 3.
“Há uma superprodução em comparação com a demanda, que tem se mantido estável e está crescendo internacionalmente. Eles descobriram avanços para produzir cocaína de forma mais eficiente. Há um excesso de oferta de folha de coca em relação à demanda”, disse à Diálogo Elizabeth Dickinson, analista sênior para a Colômbia da ONG International Crisis Group, com sede na Bélgica. “Mas isso tem mais a ver com a superprodução que ocorreu na Colômbia nos últimos anos.”
Esse crescimento constante na produção de cocaína decorre do aumento das áreas de cultivo de coca, dos avanços tecnológicos para alcançar maiores rendimentos dos cultivos e novos métodos para refinar a pasta base de coca. O ano de 2022 continua sendo um ano marcante, no qual a Colômbia atingiu uma produção de 1.738 toneladas, disse InSight Crime, organização dedicada ao estudo do crime organizado na América Latina e no Caribe.
O Cartel dos Bálcãs, formado por gangues albanesas e sérvias, está capitalizando o aumento da produção. O indicador disso é a queda nos preços, passando de US$ 36.000 por quilo para US$ 20.000, de acordo com fontes policiais citadas pelo portal argentino Infobae.
“A outra dinâmica é o poder acumulado pelos grupos que comercializam o produto internacionalmente. Assim que a droga está em alto-mar, ela entra em uma cadeia separada da dinâmica do conflito colombiano”, acrescentou Dickinson. “Isso significa que os compradores, que pagam pelo produto no mar ou na fronteira com a Colômbia, têm mais poder para decidir onde vão comprar, qual será o preço e quais grupos são mais confiáveis para entregar os narcóticos.”
Embora o narcotráfico esteja mudando com a entrada de alucinógenos sintéticos, a cocaína continua sendo a droga mais apreendida na Colômbia. A Procuradoria Geral da República observou que, entre 1º de janeiro e 20 de dezembro de 2023, as forças militares e policiais colombianas destruíram 2.273 laboratórios para o processamento de drogas. Eles também apreenderam 374 toneladas de cocaína, 223 toneladas de maconha, 704 toneladas de insumos químicos sólidos e 3.850 litros de precursores líquidos.
“O consumo de drogas no mundo e em cada país é muito diversificado, portanto não é exato prever que uma droga cooptará o mercado total da outra. Os produtores e traficantes estão se ajustando às novas tendências e podem gerar novos consumos, mas continuarão a inovar para manter e promover os mercados de drogas naturais e tradicionais, como a cocaína”, ressaltou Rueda. “O mercado de fentanil pode eventualmente acabar se tornando parte do modelo de produção de drogas ilícitas na Colômbia, mas não creio que substituirá a demanda por cocaína, que só poderia ser reduzida ou desaparecer se o consumo global diminuísse ou desaparecesse.”
O Equador, de onde supostamente vieram as drogas para o Cartel dos Bálcãs, está intensificando a luta contra o crime organizado. As Forças Armadas estão cooperando com a Polícia Nacional para ajudar a combater frontalmente o tráfico de drogas, armas e pessoas, a lavagem de dinheiro, o terrorismo, a mineração ilegal, a extorsão, a intimidação e o crime organizado, graças a uma reforma parcial do artigo 158 da Constituição, aprovada em 21 de dezembro de 2023 pela Assembleia Nacional.
Por sua vez, a Polícia do Equador confirmou que, entre 1º de janeiro e 14 de dezembro de 2023, apreendeu mais de 206 toneladas de drogas em 8.600 operações antidrogas.
Esses números colocam o Equador em terceiro lugar no mundo dos países que apreendem mais drogas, atrás da Colômbia e dos Estados Unidos, de acordo com o jornal equatoriano La Hora.