Uma patrulha do Exército da Guatemala chegou na primeira semana de setembro a El Estor, no estado de Izabal, perseguindo uma pequena aeronave que transportava drogas. Ao chegarem ao local da aterrissagem proporcionado pelos radares de defesa, os membros da patrulha foram interceptados por narcotraficantes e levados a uma escola onde três militares foram assassinados e outros três ficaram feridos.
“Esses assassinatos tornaram evidente que a liberdade, a justiça, a segurança e o desenvolvimento estão em risco; isto põe em perigo a ordem institucional, a governabilidade e a segurança do Estado”, disse o presidente guatemalteco Jimmy Morales, ao decretar estado de sítio para restaurar a ordem em 22 municípios dos estados de Izabal, Petén, Zacapa, El Progreso, Baja Verapaz e Alta Verapaz.
O chefe do Ministério da Defesa Nacional da Guatemala, Luis Miguel Ralda Moreno, informou à imprensa que a medida duraria 30 dias. De acordo com a Lei da Ordem Pública da Guatemala, caso a estabilidade das instituições sociais e estatais esteja em risco, o presidente do país pode decretar estado de sítio e assumir a autoridade militar através do Ministério da Defesa, com poderes para restringir a liberdade de ação, a locomoção, a manifestação e o porte de armas. Além disso, pode deter um ou mais cidadãos sem necessidade de mandado judicial.
Da rota de trânsito a produtor
Um mês após a implantação da medida, além da restauração da lei e da apreensão de criminosos da ordem comum, as operações mostraram que a Guatemala tinha deixado de ser um país de trânsito para tornar-se produtor de drogas.
Durante as intervenções, as autoridades apreenderam laboratórios de drogas com quase uma tonelada de cocaína pronta para a venda, avaliada em US$ 14 milhões; além disso, destruíram 23 áreas de cultivo com aproximadamente 1,5 milhão de pés de coca e desativaram 16 pistas de aterrissagem clandestinas, informou o Ministério à imprensa.
“Uma das causas dessa mudança de modalidade [de trânsito a produtor] é a redução dos custos e riscos do transporte de substâncias ilícitas da América do Sul para a Guatemala, e daqui para o México e os Estados Unidos”, afirmou Ralda. Esse fato motivou o crime organizado a utilizar populações com pouca presença do governo para instalar um modelo de cultivo ilícito e a infraestrutura para a produção de cocaína no território, informou o ministro.
Estado de sítio prorrogado
Face aos resultados obtidos em setembro, no dia 10 de outubro o governo da Guatemala, através do Congresso da República, ratificou o estado de sítio por mais 30 dias nos 22 municípios sob intervenção.
Ralda enfatizou que com esse novo prazo poderão detectar mais laboratórios e plantações de drogas e gerar mais confiança na população para promover a cultura da denúncia. “Essas medidas permitem que as forças de segurança tenham um espaço de manobra para atuar sob o marco da lei, mas sobretudo instaurar o respeito aos direitos humanos”, finalizou.