Nas Forças Armadas brasileiras existem mais de 32.000 mulheres, segundo dados de janeiro de 2020. Dentre essas, uma se destaca por ter sido a primeira mulher de origem indígena a vestir uma farda militar: a 2º Tenente Sílvia Nobre Waiãpi.
“Sempre sonhei integrar o Exército Brasileiro”, afirmou a 2º Ten Waiãpi, que ingressou no Exército Brasileiro (EB) em 2011, no quadro complementar de oficiais temporários, por meio do Estágio de Serviço Técnico no Centro de Preparação de Oficiais da Reserva do Rio de Janeiro. Esse quadro, como o nome já diz, absorve profissionais para áreas de serviços complementares das Forças Armadas temporariamente, por um período máximo de oito anos.
“Desde pequena, vi nas Forças Armadas um braço amigo do povo brasileiro, especialmente dos indígenas. Na selva, são os militares que protegem e ajudam os povos indígenas. Então, o contato com as forças militares, especialmente o Exército, é algo muito presente em minha vida”, lembrou a oficial.
A 2º Ten Waiãpi nasceu na tribo Waiãpi, no interior do Amapá. O seu povo é formado por cerca de 1.200 pessoas, que vivem perto da fronteira do Brasil com a Guiana Francesa, de acordo com o banco de informações do Instituto Socioambiental. Aos quatro anos, a oficial foi adotada por uma família não-indígena. Foi quando passou a morar na cidade, sem, no entanto, abandonar seu passado na aldeia. “Ser indígena é algo que me inspira todos os dias. Os desafios não foram pequenos para mim. Morei na rua, vendi livros usados, enfrentei tudo com a mesma garra com que os meus parentes buscam a sobrevivência na selva. E venci.”
Formada em fisioterapia, a 2º Ten Waiãpi foi chefe do serviço de medicina física e reabilitação em fisioterapia no Hospital Central do EB até 2018. Em abril de 2019, assumiu um cargo público no atual governo brasileiro, passando a exercer a função de coordenadora da Secretaria Especial de Saúde Indígena do Ministério da Saúde.
O EB reconhece em sua página oficial na web a presença de índios em suas fileiras, principalmente nas organizações militares localizadas na Amazônia. De acordo com o site da instituição, o combatente de origem indígena contribui de forma decisiva para a manutenção da soberania nacional da região amazônica, uma vez que é profundo conhecedor da selva.
No entanto, apesar de a 2º Ten Waiãpi ser considerada a primeira indígena do sexo feminino dentro das Forças Armadas brasileiras, essas instituições têm por premissa não fazer levantamento sobre a origem dos seus militares. “Nas Forças Armadas, somos todos soldados, não há distinção. Todas as minhas conquistas no Exército Brasileiro foram alcançadas com muito esforço e dedicação, como são as conquistas de todos os que avançam na carreira militar”, destacou a 2º Ten Waiãpi.
De acordo com o EB, a Força Aérea Brasileira e a Marinha do Brasil, nenhum processo de seleção para ingresso nas forças, de registro do militar ou de seu acompanhamento de desempenho, leva em consideração a sua origem identitária. Por essa razão, não existem dados sobre a quantidade de militares indígenas atuantes em seus quadros.