O Almirante de Esquadra Luis Gerardo Alcalá Ferráez, chefe do Estado-Maior Geral da Marinha do México, estima que a experiência dos últimos anos demonstrou a importância da cooperação internacional e do trabalho coordenado, além da confiança entre as nações parceiras para enfrentar as organizações criminosas transnacionais.
O Alte Esq Alcalá participou da XVIII Conferência Naval Interamericana (CNI), realizada em Cartagena, Colômbia, entre os dias 23 e 26 de julho de 2018. O Alte Esq Alcalá conversou com Diálogo sobre a sua participação na CNI, a cooperação internacional e os projetos tecnológicos que mais se destacaram, entre outros temas.
Diálogo: Qual é a importância da participação do México na CNI?
Almirante de Esquadra Luis Gerardo Alcalá Ferráez, chefe do Estado-Maior Geral da Marinha do México: A CNI é um dos fóruns mais importantes para o intercâmbio de opiniões e experiências no âmbito marítimo, que reúne os comandantes de todas as marinhas do continente. Para o México é importante estar nesse fórum, principalmente porque os interesses marítimos do hemisfério são interesses comuns, bem como participar das grandes decisões tomadas nesse evento. Por fazer parte do bloco da América do Norte com diversos mecanismos de cooperação em matéria de segurança e por ser um país latino-americano, o México se torna uma importante ponte norte-sul, facilitadora de acordos entre os participantes da CNI.
Diálogo: O tema principal da conferência é a responsabilidade das marinhas da região frente ao narcotráfico e aos crimes correlatos. Por que é importante que as forças navais se unam para combater esses flagelos?
Alte Esq Alcalá: A função principal das forças armadas é a defesa da soberania e do território. No caso específico do narcotráfico – que utiliza o mar para suas atividades ilícitas e incita o seu uso para transportar enormes volumes de drogas – a experiência nos mostra que somente através da cooperação internacional poderemos minimizar e interditar as áreas marítimas para evitar que os narcotraficantes considerem o mar uma opção atrativa para transportar a sua carga. O entendimento comum dos problemas facilita a identificação das oportunidades para melhorar as futuras coordenações.
Diálogo: Que tipo de interoperacionalidade a Marinha realiza com as outras forças do país para combater esses flagelos?
Alte Esq Alcalá: No México, a coordenação com as autoridades das três ordens de governo foi privilegiada para garantir o cumprimento do estado de direito nos mares e nas costas nacionais. Fizemos muitos acordos de cooperação, mas onde mais avançamos foi no acordo para o intercâmbio de informações; inclusive criamos redes e fomentamos a confiança entre os países para intercambiar informações operáveis que nos permitam, por exemplo, caso uma embarcação suspeita navegue com destino a algum dos pontos do hemisfério, que as marinhas possam operacionalizar essa informação, rastrear o alvo e até mesmo capturá-lo. Além disso, realizamos o intercâmbio de treinamento e capacitação de pessoal, de maneira que possamos obter e proporcionar às outras forças nacionais e das nações parceiras as melhores práticas que a experiência nos deu.
Diálogo: Qual é a contribuição da Marinha do México para as forças navais da região na luta contra o narcotráfico?
Alte Esq Alcalá: Uma enorme vontade de trabalho e cooperação. Contribuímos com informações e treinamento, mas o que realmente vale a pena mencionar é a vontade e a convicção de que somente mediante a ação coordenada poderemos encontrar uma resposta mais efetiva e mais eficiente para deter ou minimizar o uso do mar para atividades ilícitas de qualquer tipo. O narcotráfico está no auge e somente a presença naval evitará que ele se estabeleça, que exista pirataria e uma contaminação excessiva, entre outros. A presença coordenada das marinhas, com o intercâmbio de informações e a interoperacionalidade, conseguirá dissuadir aqueles que querem fazer uso do mar para atividades ilícitas.
Diálogo: Nos últimos seis anos, a Marinha do México desenvolveu mais de 50 projetos tecnológicos. Quais são os projetos de maior relevância para a sua instituição?
Alte Esq Alcalá: O esquema de comando e controle e o sistema de cruzamento de dados táticos são importantes para mim. Temos alguns outros projetos específicos, como um sistema de direção de tiro próprio para reduzir a dependência que tínhamos de outros países, e um radar de vigilância aérea.
Diálogo: Quais desses projetos permitem que a Marinha do México contribua na luta para combater os cartéis do narcotráfico?
Alte Esq Alcalá: Os sistemas de comando e controle e a vigilância aérea integrados ao sistema de monitoramento nos permitem, atualmente, ter a capacidade não apenas de realizar a operação, mas também de gerar o panorama operacional, de tal forma que todas as unidades que estejam em uma área de operações também tenham acesso à informação. Por exemplo, o fato de se conhecer os alvos que as outras unidades detectem, gerando uma imagem comum, permite que as unidades tenham uma consciência situacional e que nós, os tomadores de decisões que estamos em terra, possamos receber as informações para conduzir as operações com maior precisão, porque sabemos perfeitamente qual unidade deve ir, aonde e em que momento.
Diálogo: A cooperação entre as forças navais do México e da Guatemala ocorre no âmbito da Junta de Comandantes Militares da Área Fronteiriça entre os dois países. Como isso funciona?
Alte Esq Alcalá: A vigilância é uma responsabilidade compartilhada e queremos garantir que aqueles que cruzam a fronteira o façam com fins lícitos. Daí surgiu a ideia de criar a Junta de Comandantes. Uma reunião de alto nível é realizada anualmente, onde se avalia a situação das fronteiras e se consolida a estratégia operacional em nível conceitual. Pelo menos três vezes por ano se realiza a reunião dos comandantes das fronteiras em um dos dois países e os comandos militares da região, com alguns observadores dos Estados-Maiores, participam para planejar a execução em tempo e espaço das operações coincidentes, que são feitas de forma coordenada.
Diálogo: Que tipos de operações combinadas e conjuntas a Marinha do México realiza com os Estados Unidos para combater as ações das organizações criminosas transnacionais?
Alte Esq Alcalá: A cooperação com os Estados Unidos é uma questão muito importante. Os EUA apoiam com recursos e equipamentos para aumentar as capacidades e com um profundo respeito à nossa soberania e às leis. A partir da Iniciativa Mérida foi possível colocar sobre a mesa um esquema no qual ambas as nações compartilham sua responsabilidade. A lista dos aspectos particulares é imensa; existem operações de interdição marítima, intercâmbio de informações, suporte tecnológico e treinamento, e há um profundo respeito à soberania – o pessoal americano não participa das nossas operações; eles participam fora da área de jurisdição com as suas unidades além das 200 milhas náuticas – e isso nos permite expandir a área de cobertura.
Diálogo: Que tipos de ações a Marinha do México realiza para fortalecer a inclusão da mulher e as condições de equidade?
Alte Esq Alcalá: Na Marinha, estamos convencidos de que a mulher deve participar em igualdade de circunstâncias. Esse não é um tema de slogan. Em alguma época se dizia, mas não se fazia; as mulheres eram mostradas nos desfiles e portavam armas que não sabiam utilizar. Hoje existem políticas que foram escritas e devem ser cumpridas, onde se reconhece a igualdade da mulher. Temos políticas para evitar o assédio sexual e a discriminação de gênero e a única coisa que se exige é que ela demonstre as suas capacidades. O acesso das mulheres às nossas escolas de formação está aberto; temos oficiais egressas da Escola Naval Militar nas primeiras tripulações em nossas embarcações de linha e nos patrulheiros. Há mulheres pilotos, nos fuzileiros navais, em operações contra o narcotráfico e nos corpos tradicionais de medicina, enfermagem etc., onde elas não apenas estão há muito tempo, mas onde também vêm se destacando.