Em uma ação qualificada como expansão da repressão à oposição, o regime de Nicolás Maduro deteve a ativista de direitos humanos Rocío San Miguel, acusando-a de conspirar para assassinar Maduro, disse o procurador-geral Tarek William Saab via X.
San Miguel foi presa em 9 de fevereiro em um aeroporto de Caracas, em relação a um vago esquema de conspiração dirigido a funcionários do regime. San Miguel, que dirige a organização não governamental (ONG) Control Ciudadano, especializou-se em estudar os militares obscuros e corruptos da Venezuela.
Dias antes, em uma declaração no palácio de Miraflores, Maduro expressou sua determinação de esmagar o que ele descreveu como tentativas de “perturbar a paz”, por qualquer meio, ou melhor, “por bem ou por mal”, informou a agência de notícias AP.
O acadêmico Eduardo Varnagy, da Faculdade de Ciências Políticas e Jurídicas da Universidade Simón Bolívar, de Caracas, disse à Diálogo, em 6 de fevereiro, que esse anúncio “é um reflexo fiel do verdadeiro pensamento de Maduro, para não entregar o poder por meio de eleições livres e transparentes”.
Maduro respaldou sua declaração, ressaltando que, dos 30 processos eleitorais realizados durante os regimes de Hugo Chávez e sua autocracia, eles foram vitoriosos em 28 ocasiões. “Estamos prontos para vencer em qualquer cenário”, reiterou, ao mencionar seus principais adversários, informou AP.
“A Venezuela segue o caminho da ditadura. Não foi apenas o não cumprimento dos acordos de Barbados”, disse por X o economista José Manuel Restrepo Abondado, ex-ministro da Fazenda e ministro do Comércio, Indústria e Turismo da Colômbia. “Agora ele está tentando sustentar essa tirania pela força e impedir qualquer tentativa de eleições democráticas.”
“Embora a Venezuela não tenha atingido os níveis extremos de repressão vistos em países como Coreia do Norte, Cuba ou Nicarágua, ela está imersa em um regime autoritário radical, marcado por severas limitações à liberdade e ao pluralismo político”, acrescentou Varnagy.
Em outubro de 2023, o regime e a oposição venezuelanos assinaram dois acordos em Barbados, estabelecendo as bases para eleições presidenciais potencialmente competitivas.
A decisão do Supremo Tribunal de Justiça da Venezuela, no final de janeiro, de manter as proibições contra a candidata presidencial da oposição María Corina Machado e Henrique Capriles, impedindo-os de ocupar o cargo durante 15 anos, foi um duro golpe ao acordo de Barbados e uma clara indicação do caminho traçado por Maduro: eleições fraudulentas.
“Maduro já está agindo desesperadamente”, assegurou Machado, em 6 de fevereiro, à W Radio, da Colômbia,. “Eles não vão nos tirar da luta constitucional e eleitoral. Eles podem me ameaçar com sua delinquência jurídica, mas essa luta é até o fim.”
Fúria de Maduro
Essas preocupações se somam às denúncias feitas em 25 de janeiro pela aliança política de oposição venezuelana Plataforma Unitária Democrática (PUD) sobre uma nova onda de repressão do regime, reforçando as percepções de táticas ditatoriais para manter o poder. “O mundo inteiro conhece o modus operandi do regime totalitário”, publicou.
Essa atmosfera repressiva faz parte da última campanha do autocrata, que começou com o lançamento de seu Plano Fúria Bolivariana. De acordo com esse plano, tropas militares e policiais foram destacadas em todo o país, a partir de meados de fevereiro, para combater “qualquer tentativa de terrorismo ou golpe”, segundo o portal InSight Crime, especializado em crime organizado na América Latina.
A Assembleia Nacional da Venezuela também aprovou no final de janeiro um projeto de lei para regulamentar e inspecionar as ONGs, o que foi denunciado por grupos de defesa como uma tentativa de silenciar as organizações civis que buscam a paz e a democracia, bem como uma clara escalada da repressão estatal.
“O simples rumor dessa norma gera medo, como uma tática de repressão psicológica às liberdades. Isso faz parte de uma estratégia meticulosamente planejada, que faz parte do chamado Plano de Fúria Bolivariana”, declarou Varnagy. Com certeza veremos mais detenções ilegais.
Silêncio enfurecido
“A população venezuelana está farta do sistema. Há um silêncio enfurecido. Embora o absolutismo possa reprimir alguns indivíduos, é difícil conter a frustração generalizada de toda uma nação simultaneamente”, diz Varnagy. “É provável que este ano haja uma série de eventos em que os cidadãos expressarão seu descontentamento de várias maneiras.”