Em um esforço desesperado para manter a coesão de sua base política, o venezuelano Nicolás Maduro lamentou mais uma vez as supostas conspirações contra ele.
Ao entregar em meados de janeiro sua mensagem anual ao Parlamento, dominado pelo governo, Maduro afirmou que as agências de inteligência haviam descoberto “quatro conspirações com componentes estrangeiros, planejadas a partir de Miami e da Colômbia”.
“Estou entregando provas, gravações e testemunhos. Todos os envolvidos, civis e militares, nacionais e estrangeiros, estão condenados e confessaram as quatro conspirações que a ultradireita montou junto com narcotraficantes colombianos, a CIA e a mayamera (sic) de extrema direita, cujo objetivo era assassinar-me, bem como o ministro Padrino López e outros importantes líderes políticos e militares da Venezuela, para criar caos e comoção no país, a fim de cortar o processo de paz, estabilidade e recuperação da nação e para que não chegássemos a 2024″, declarou com angústia teatral.
Os detalhes dos detidos supostamente identificados nesses arquivos não foram explicados ou divulgados à coletividade. No entanto, após o lamento desesperado de Maduro, o promotor Tarek William Saab implicou nesses casos Tamara Sujú, ativista de direitos humanos e diretora da Fundação Casla, a jornalista Sebastiana Barráez, o 1º Tenente (R) José Antonio Colina e o Vice-Almirante (R) Mario Carratú Molina.
Saab afirmou que 32 pessoas foram presas, incluindo o Capitão (R) Anyelo Heredia, do Exército da Venezuela. Do exterior, tanto Sujú como Barráez, bem como os oficiais Carratú e Colina, rejeitaram individualmente as acusações feitas pelo oficial do regime venezuelano.
Por outro lado, o ministro da Defesa, Vladimir Padrino, anunciou a expulsão de 33 militares, supostamente ligados a esses casos. A esse respeito, a ONG Control Ciudadano advertiu que essas medidas foram aplicadas sem seguir os protocolos disciplinares estabelecidos para a Força Armada Nacional.
A denúncia sobre as supostas conspirações ocorreu em um momento em que o regime venezuelano estava se apressando para encerrar a candidatura presidencial de María Corina Machado. Onze dias após o anúncio de Maduro ao Parlamento, a Suprema Corte do regime ratificou a desqualificação da candidata presidencial, que foi eleita nas primárias da oposição em outubro.
Oswaldo Ramírez Colina, diretor da Associação Latino-Americana de Consultores Políticos para a Venezuela, disse à Diálogo, em 10 de fevereiro, que todos esses processos têm em comum a ansiedade de Maduro em unir um partido governista fragmentado, que, de acordo com pesquisas realizadas pela Associação, compreende 14 por cento do eleitorado.
Da mesma forma, explicou Ramírez, as acusações de conspiração também são um pretexto para “a reativação de grupos armados não estatais”, que foram suspensos pelo regime, devido à crise econômica.
Em 7 de fevereiro, esses grupos atacaram os partidários de Machado durante uma manifestação em Charallave, uma cidade localizada nos Valles del Tuy, a 30 quilômetros da capital.
“Eles estão tentando impor a ideia de que [os partidários de Maduro] são os únicos autorizados a fazer manifestações políticas no território e praticamente não permitem manifestações de qualquer pessoa que considerem concorrentes”, acrescentou Ramírez.
Destacamento
As denúncias sobre supostas conspirações contra Maduro se sobrepuseram à disputa de Essequibo, na qual o regime reivindica dois terços do território da Guiana.
O regime vem avançando em sua campanha contra seu vizinho do leste. Imagens de satélite divulgadas no início de fevereiro mostram o aumento das tropas e a expansão das bases militares, informou The Guardian. De acordo com o centro de estudos Center for Strategic and International Studies (CSIS), a Venezuela tem deslocado tanques leves, barcos de patrulha equipados com mísseis e veículos blindados para a fronteira, apesar dos acordos firmados em dezembro para não usar a força ou agravar a situação.
“No mesmo dia em que o ministro das Relações Exteriores da Venezuela está se reunindo com diplomatas guianenses, os militares venezuelanos estão realizando exercícios com tanques a poucos passos da Guiana”, declarou Christopher Hernandez-Roy, vice-diretor do Programa das Américas do CSIS, segundo The Guardian. “Tudo isso nos diz que Maduro está adotando uma política duplicada.”
Da mesma forma, os militares da Zona Integrada de Defesa Guiana Essequibo (Zodi Esequiba 64) estão realizando ações sociais na cidade de San Martín de Turumbang, às margens do rio Cuyuní, em uma tentativa de alcançar pessoas de ambos os países.
Ramírez advertiu que a questão de Essequibo poderia ser usada pela ditadura como um “coringa”, com o objetivo de suspender o próximo processo eleitoral.
Para a internacionalista Elsa Cardozo, doutora em Ciências Políticas pela Universidade Central da Venezuela, o regime venezuelano está tentando usar a questão de Essequibo “para fins políticos de pouca utilidade nacional, exceto para acusar aqueles que deseja acusar de traidores”.
“Até agora, as tentativas de Maduro de conquistar a simpatia da população guianense fracassaram. Pelo contrário, isso reflete a rejeição da população guianense”, disse Cardozo à Diálogo. “A pergunta que se faz é onde está a fila de guianenses que buscam a cédula venezuelana”, ressaltou.