Uma feroz guerra de informações está sendo travada nas nações do Caribe, com a mídia estatal russa tentando vender uma narrativa sobre a guerra da Ucrânia, enquanto um site de verificação de fatos de Kiev luta para demonstrar que as histórias são falsas.
Em Cuba, os veículos de mídia controlados pelo Kremlin, como Russia Today, Sputnik e RIA-Novosti, têm sido os principais fornecedores de conteúdo de notícias sobre a guerra na Ucrânia para a imprensa oficial do país.
Prensa Latina, Granma, Trabajadores, Cubadebate e os sites digitais de jornais provinciais recebem relatórios de Moscou e reproduzem a linha oficial.
Além da ilha caribenha, as versões russas dos eventos na Ucrânia estão sendo captadas pela mídia em toda a América Latina.
Radio Martí, a cadeia independente de canais de rádio e televisão, que é uma organização de mídia irmã da VOA, capta essas histórias e tenta oferecer aos cubanos uma versão diferente do conflito.
A organização de mídia é supervisionada pelo Escritório de Transmissão de Cuba (OCB), em sua sede em Miami, Flórida. Ele faz parte da Agência dos EUA para a Mídia Global, que também administra a VOA.
O OCB uniu forças com StopFake.org, um veículo ucraniano de verificação de fatos, para desmentir a propaganda russa em espanhol em Cuba, na América Latina e na Espanha.
A iniciativa começou em 24 de fevereiro de 2023, exatamente um ano após a invasão russa da Ucrânia.
Desde então, publicou histórias contestando o que afirma ser propaganda russa falsa publicada pela mídia cubana ou em outras publicações da região.
Um exemplo é “Soldados ucranianos espancam um legionário brasileiro”. Essa história foi publicada na Ecovisión Digital, uma mídia online do Equador, no mês passado.
O mesmo veículo de notícias informou que carros letões doados a Kiev acabaram sendo vendidos.
É uma história aparentemente inofensiva, mas que, segundo a Radio Martí, faz parte de um lento fluxo de desinformação criado para mudar a opinião pública sobre o conflito na Ucrânia.
A Embaixada russa em Madri não respondeu às tentativas da VOA de obter comentários a respeito.
Publicação em espanhol
Alvaro Alba, vice-diretor do OCB, trabalhou como jornalista para o jornal espanhol ABC na Rússia, durante a era soviética até o início da década de 1990.
Ele disse que a Radio Martí publicou histórias sobre a Ucrânia que eram corretas, bem como outras reportagens que afirmavam claramente que as versões russas não eram verdadeiras.
Um exemplo foi: “Falso: Ucrânia recruta ativamente mulheres que usam armas químicas ou biológicas”, publicada em 26 de abril.
Outra manchete dizia: “Falso: Nos Estados Unidos, a Ucrânia recruta moradores de rua para lutar na Legião Internacional”.
“Quando a invasão russa aconteceu no ano passado [2022], começamos ‘Testemunhas da guerra’, para entrevistar pessoas na Ucrânia e ouvir sua narrativa. A mídia estatal cubana fez acordos com a mídia estatal russa e publicou sua versão”, disse Alba à VOA em uma entrevista a partir de Miami.
“Apresentamos a ideia a StopFake.org para que algo fosse publicado em espanhol. Por meio de afiliados na América Latina, podemos publicar histórias lá.”
Todas as semanas, a Radio Martí recebe relatórios de StopFake.org sobre o que afirma ser desinformação do Kremlin.
É difícil saber até que ponto a Radio Martí e StopFake.org conseguem fazer chegar sua mensagem aos cubanos.
“É muito difícil acessar nosso site em Cuba, mas ele é muito popular no Facebook“, disse Alba.
Os dados coletados pelo OCB dão uma ideia das impressões e do alcance de cada história no Facebook.
As impressões são o número de contas definidas que viram uma publicação pelo menos uma vez. O alcance pode incluir várias visualizações de publicações pelas mesmas contas definidas.
A história publicada em 26 de abril intitulada “Falso: Nos Estados Unidos, a Ucrânia recruta moradores de rua para lutar na Legião Internacional” recebeu 1.646 impressões e o alcance de pessoas foi o mesmo.
Outra matéria da Radio Martí, publicada em 25 de abril, que constatou que a percepção pública da Rússia havia diminuído no mundo em 2022, recebeu 8.373 impressões e seu alcance foi de 8.054 pessoas.
Alba disse que a iniciativa com StopFake.org não se concentra apenas em Cuba, mas pode ser ampliada para o resto da América Latina.
Desafiando a narrativa russa
Yevhen Fedchenko, editor-chefe de StopFake.org e diretor da Escola de Jornalismo Mohyla da Ucrânia, disse que os jornalistas ucranianos começaram a iniciativa para desafiar a narrativa russa sobre Kiev em 2014, durante a Revolução Maidan, na qual o então presidente Viktor Yanukovych foi deposto.
“Introduzimos serviços em espanhol, mas o recente vínculo com a Radio Martí foi muito importante para nós. Produzimos reportagens em texto e explicativas”, disse à VOA.
“No sul global, vemos um aumento na desinformação russa, onde não há limites, ao contrário do norte global, onde há algumas sanções.”
Fedchenko disse que, nas redes sociais como o Twitter, StopFake.org notou um aumento na atividade da mídia estatal russa, com marcas azuis de devolução à Russia Today, uma organização de mídia pró-russa.
Ele disse que as tentativas russas de influenciar governos não se limitam apenas à América Latina, mas também à Espanha, que em julho assumirá a Presidência do Conselho da União Europeia e representará o bloco de 27 estados em todo o mundo.
“Parte do que estamos tentando fazer é garantir que a Ucrânia esteja presente na mídia. A Rússia é tradicionalmente dominante”, ressaltou.
StopFake.org faz parte da Rede Internacional de Verificação de Fatos (IFCN) e verifica informações para a plataforma Meta (Facebook) como um terceiro parceiro.
A Rússia aumentou a eficácia de sua campanha de desinformação nas redes sociais e afirma que apenas uma pequena parte é detectada pelo Ocidente, de acordo com documentos vazados dos serviços de inteligência dos EUA vistos por The Washington Post.
A afirmação fazia parte de uma análise detalhada da propaganda russa em plataformas de mídia social como Twitter, TikTok, Telegram e YouTube.
O documento, que não foi datado, parece ter sido preparado pelo chefe do Estado-Maior dos EUA, pelo Comando Cibernético dos EUA e pelo Comando Europeu, informou The Post.