O Chile e os Estados Unidos se uniram em um desafio institucional histórico: o de consolidar a interoperabilidade dos exércitos das duas nações parceiras da América Latina e do Caribe para enfrentar os desafios comuns. O General-de-Brigada do Exército do Chile Edmundo Villarroel Geissbuhler assumiu esse desafio ao se tornar o primeiro subcomandante geral de interoperabilidade do Exército Sul dos Estados Unidos (ARSOUTH, em inglês), marcando também o feito de ser o primeiro oficial general de uma nação parceira a fazer parte do quartel-general do ARSOUTH. É uma missão complexa que o Gen Bda Villarroel espera executar com planejamento, exercícios e esforços combinados de integração e cooperação regional.
Desde que o Gen Bda Villarroel foi empossado em outubro de 2017, ele coordena ações para gerar novas oportunidades de interoperabilidade no Exército Sul. Diálogo conversou com o oficial sobre a missão e o futuro da interoperabilidade entre os exércitos da região, entre outros temas.
Diálogo: O senhor é o primeiro oficial general de uma nação parceira a assumir o posto de subcomandante geral de interoperabilidade no ARSOUTH. Que legado o senhor quer deixar ao estabelecer esse precedente para o Chile e para as nações parceiras da região?
General-de-Brigada do Exército do Chile Edmundo Villarroel Geissbuhler, subcomandante geral de Interoperabilidade do Exército Sul dos Estados Unidos: Considero como histórico o acordo que o Chile firmou com os Estados Unidos para que se permitisse essa nomeação. Esse posto é um orgulho para o Chile e deixa patente a vontade que meu país tem de continuar participando no âmbito da cooperação internacional, como já o faz em diversas operações de paz, em cargos e em missões que possuem uma relevância similar. Em relação aos Estados Unidos e em particular ao ARSOUTH, depois destes seis meses no cargo, demonstraram a vontade de integração e de cooperação que existe em relação ao Chile e aos países da região. Eu já disse em diversas oportunidades, desde outubro de 2017, que minha presença no componente terrestre do Comando Sul (SOUTHCOM) e meu trabalho diário em função da interoperabilidade, da cooperação e do fortalecimento dos laços de amizade, constituem uma representação de todos e de cada um dos países da região, e meu compromisso é trabalhar com e para os países da região.
Diálogo: Sua missão fundamental é a de promover a interoperabilidade entre as forças militares dos EUA, da América Latina e do Caribe. Quais são as metas para conseguir isso a médio e longo prazo?
Gen Bda Villarroel: Não é uma tarefa fácil. Meu objetivo a médio prazo é, primeiramente, consolidar essa nova posição no ARSOUTH. Tenho que transformar o que é a descrição do cargo em atividades concretas e, dessa forma, aportar o melhor possível, a partir de minha experiência e com a cooperação das nações parceiras, à gestão do General-de-Brigada [do Exército dos EUA] Mark Stammer, comandante geral do ARSOUTH.
O objetivo a longo prazo é o de poder concretizar o esforço entre o ARSOUTH e as nações parceiras em um planejamento que permita completar o conceito de interoperabilidade; essa é uma tarefa muito complexa. Seguramente caberá a mim a fase de projeto e de elaboração desse planejamento e o mais provável é que isso seja feito através de exercícios relevantes, de oportunidades de treinamento combinado e intercâmbio que nos permitirão melhorar nossos níveis de interoperabilidade.
Diálogo: O senhor assumiu esse cargo em outubro de 2017.Como mudou a sua perspectiva desde então?
Gen Bda Villarroel: Em relação ao que havia previsto em outubro em comparação ao dia de hoje, a perspectiva não mudou muito, já que entendo a importância dessa tarefa. Eu me dei conta de que é complexo unir esforços, critérios e vontades, tomando em consideração o tema dos recursos e das horas de pessoal exigidos para que a visão inicial que eu tinha possa se transformar em realidade. Tenho a confiança de que, com o apoio dos integrantes do ARSOUTH e do trabalho imediato com o SOUTHCOM e o resto de seus componentes – já que esse esforço não pode ser apenas terrestre –, serão gerados resultados altamente positivos.
Diálogo: Em seu discurso de posse, o senhor apresentou uma mensagem bastante clara às nações parceiras da região focada em trabalhar, treinar e combater as adversidades juntos, através da relação sólida e de confiança entre os países. Como o senhor espera colocar em prática sua mensagem?
Gen Bda Villarroel: Já estou colocando em prática minha mensagem, ao fazer reuniões de forma regular com os oficiais de ligação que estão presentes no ARSOUTH, e através da participação em reuniões bilaterais e grupos de trabalho com representantes de outros países. Recentemente tive a oportunidade de acompanhar o Gen Bda Stammer em uma visita oficial aos exércitos do Brasil, do Chile e da Colômbia, o que me permitiu transmitir minha mensagem diretamente aos diversos comandantes dos exércitos e a seus representantes, já que meu compromisso é o de me colocar à disposição para que possam entender os alcances do meu cargo e dos objetivos traçados. Espero poder fazer isso com a maior quantidade de países e autoridades da região.
Diálogo: Qual é o seu maior desafio para cumprir a missão designada?
Gen Bda Villarroel: Eu não chamaria de um desafio, mas sim, de um processo. Esse é um cargo novo. As organizações e processos da cultura organizacional necessitam de tempo para se acostumar e assumir as mudanças, e o meu posto é uma dessas mudanças. A forma pela qual fui recebido pela equipe do ARSOUTH me alegra e, de verdade, me motiva, porque realmente tem sido espetacular, em especial pelo apoio, pela aceitação e constante mostra de camaradagem que seus integrantes têm para comigo e minha família. O ARSOUTH é uma organização madura que tem a capacidade de se adaptar de maneira rápida a essa mudança organizacional e ao meu cargo. Igualmente, tenho podido me adaptar rapidamente ao campo de trabalho do ARSOUTH.
Diálogo: Qual é a importância da colaboração internacional no tema de interoperabilidade para os exércitos do Chile e dos Estados Unidos?
Gen Bda Villarroel: O acordo já demonstra por si só a importância que o Exército do Chile e o dos Estados Unidos atribuem ao conceito da interoperabilidade. Contudo, mais do que me referir em especial ao Exército do Chile e ao dos Estados Unidos, parece-me mais que a cooperação e a integração que se manifesta em diferentes graus de interoperabilidade entre os exércitos da região sempre vai constituir uma vantagem quando se trata de enfrentar desafios comuns. Por exemplo, qualquer resposta regional frente a um desastre natural, da qual participem nossos exércitos junto com as agências governamentais ou não governamentais, vai ser muito mais eficiente e eficaz na medida em que essa operação – que pode chegar a ser de caráter multinacional – seja projetada e leve em conta as capacidades, limitações e restrições dos países que eventualmente dela participarem. A Conferência de Exércitos Americanos e outras organizações têm elaborado, acordado e publicado várias ferramentas que nos permitem operar debaixo de uma doutrina comum; agora nos cabe incorporar essas publicações em nossos processos de treinamento com a vantagem que um planejamento adequado com a interoperabilidade pode nos proporcionar.
Diálogo: Por que é importante falar de interoperabilidade entre as forças militares do Chile e do hemisfério ocidental em geral?
Gen Bda Villarroel: Não só é importante para o meu país, mas também para todos os países da região. Falar de interoperabilidade e conversar sobre isso é tremendamente significativo porque é um ponto de partida. Contudo, não basta declarar que se deseja obter um nível ou outro de interoperabilidade. É preciso planejar, acordar, trabalhar, treinar e colocar em prática a interoperabilidade com propósitos claros, relevantes e desafiantes, para que possamos medir efetivamente seus níveis e determinar quais são os aspectos que devem ser fortalecidos e aperfeiçoados. Essa tarefa tem um caráter regional; não é só do SOUTHCOM, do ARSOUTH ou do resto dos seus componentes. O que já temos em termos de processos e exercícios podemos adaptar a novas necessidades, porém há também outros exercícios na região – liderados pelas nações parceiras e em diferentes níveis – nos quais também se proporcionam atividades de fortalecimento do conceito de interoperabilidade através de ações concretas. Não é um trabalho fácil e simples, mas existe a vontade para que isso ocorra no médio e longo prazo.
Diálogo: Na sua opinião, quais são os obstáculos mais frequentes que as forças militares enfrentam para lidar com o conceito de interoperabilidade?
Gen Bda Villarroel: A interoperabilidade possui várias dimensões tanto no aspecto humano, como no procedimental e no técnico. A região tem cenários diversos que se somam às particularidades de cada exército em termos de capacidades, restrições legais e de acordos. Cada um dos exércitos deve cumprir e responder às suas missões conforme a situação que vivem, e isso constitui um desafio por si só e, ao mesmo tempo, uma oportunidade. Cada um dos exércitos da região conta com capacidades únicas que permitem preencher lacunas de capacidades quando uma determinada operação assim o exigir. Quando somos capazes de conhecermo-nos, de incorporar e fazer com que essas capacidades atuem em benefício do sucesso de uma tarefa tão importante como poder salvar vidas no meio de um desastre natural, é aí que realmente encontramos o maior desafio. A interoperabilidade é importante porque proporciona uma vantagem e na região temos oportunidades mútuas para trabalhar esse conceito de forma conjunta.
Diálogo: Qual é a sua mensagem para os exércitos da região?
Gen Bda Villarroel: Espero ser aceito pelos exércitos da região como um facilitador das iniciativas que nos permitam identificar e enfrentar os desafios comuns com um nível maior de interoperabilidade. As iniciativas que existirem, independentemente do país que as liderar, sempre vão contar com o apoio do ARSOUTH quando se tratar de iniciativas que forem beneficiar a região.