O General-de-Brigada Patrick West, chefe do Estado-Maior da Força de Defesa da Guiana (GDF, em inglês), teve a satisfação de sediar a Conferência sobre Segurança dos Países do Caribe (CANSEC, em inglês) pela primeira vez. O evento foi realizado em Georgetown, Guiana, de 6 a 7 de dezembro de 2017, reunindo representantes militares e de segurança de 16 nações para analisar as ameaças de segurança que afetam o Caribe.
Em suas declarações iniciais, o Gen Bda West mostrou-se otimista quanto à capacidade da CANSEC de responder aos desafios regionais de segurança, além de forjar esforços de colaboração para desmantelar as redes de ameaças transregionais e transnacionais, conhecidas como T3N (em inglês). O Gen Bda West conversou com Diálogo sobre a importância de realizar a CANSEC e os esforços da GDF para construir capacidades nacionais e regionais a fim de combater as ameaças de segurança.
Diálogo: Qual é a importância de realizar a CANSEC na Guiana pela primeira vez?
General-de-Brigada Patrick West, chefe do Estado-Maior da Força de Defesa da Guiana: É muito importante que a população e a região vejam que a Guiana está desempenhando um papel essencial na arquitetura de segurança de toda a região do Caribe. A conferência foi positiva porque nos projeta como um parceiro para todos os envolvidos dentro e fora da região. Ela ajuda a promover nossa causa em favor do desenvolvimento e da segurança regionais e dos esforços humanitários e de paz. A Guiana tem uma posição única na América do Sul, geograficamente, e no Caribe, historicamente, e assim pode contribuir para os dois grupos.
Diálogo: Qual é a principal missão da GDF?
Gen Bda West: Nossa missão continua a mesma: manter nossa integridade territorial (definindo a agressão em nossas fronteiras), auxiliar os poderes civis na manutenção da lei e da ordem e contribuir para o desenvolvimento econômico da Guiana.
Diálogo: Em sua opinião, qual é a principal preocupação de segurança do país?
Gen Bda West: Minha principal preocupação é o fato de termos uma capacidade limitada para projetar nosso poder. Atualmente, estamos trabalhando em várias iniciativas que tratarão dessa questão de forma a assegurar-nos que estejamos em uma posição na qual possamos garantir um ambiente seguro para o desenvolvimento econômico além da costa e das fronteiras da Guiana.
Diálogo: Na abertura da CANSEC, o primeiro-ministro da Guiana Moses Nagamootoo mencionou que nos últimos 30 meses o governo da Guiana registrou algumas das maiores interceptações de drogas ilícitas. Como a GDF se envolveu nesse esforço?
Gen Bda West: A GDF também desempenha um papel importante em nossa segunda função, que é a de auxiliar os poderes civis na manutenção da lei e da ordem. Existe uma estrutura dentro da arquitetura de segurança da Guiana, estabelecida em 1979 e conhecida como Conselho de Coordenação de Serviços Conjuntos (JSCC, em inglês). O comissário de polícia, o diretor das prisões, o comandante do corpo de bombeiros e eu, como presidente, fazemos parte dele. Nesse nível, coordenamos nossos recursos ao lidarmos com questões internas, que incluem aspectos relacionados ao comércio de drogas ilegais.
Além do JSCC, temos um conselho superior chamado Conselho de Segurança Nacional, no qual o diretor da Agência Nacional Antinarcóticos responde pelo planejamento estratégico e pela coordenação. Existe também um relacionamento direto entre a GDF e a Unidade Antinarcóticos da Alfândega, no qual, de tempos em tempos, os soldados são solicitados a dar suporte a operações específicas contra o tráfico de drogas. Nesse período, nossa Guarda Costeira também esteve totalmente envolvida nessas operações.
Recentemente, tivemos interceptações tanto no mar como em terra. Várias aeronaves, que haviam aterrissado em pistas de pouso construídas ilegalmente no sul da Guiana, foram apreendidas pelo governo. Houve também incidentes nos quais se descobriu cocaína em vários produtos agrícolas, como arroz etc., e o uso de embarcações semissubmersíveis apareceu como parte do esquema ilícito de manobra pelos traficantes. Além disso, as quantidades das apreensões aumentaram muito.
Diálogo: A pirataria era uma das preocupações de segurança nacional e foi quase que completamente eliminada. Como a GDF contribuiu para eliminar a pirataria?
Gen Bda West: A pirataria foi uma grande preocupação para nós, mas não é mais. Nós nos referimos a eles [os criminosos] como piratas, mas isso está mais próximo de assalto armado no mar, em que os pescadores e comerciantes são atacados e roubados. Em 2017, tivemos um único incidente no distrito noroeste da Guiana. Isso foi mitigado com a intensificação do patrulhamento nas áreas propensas a essa atividade por parte da Guarda Costeira da GDF em embarcações, que foram doadas pelos Estados Unidos, por meio da Iniciativa de Segurança da Bacia do Caribe (CBSI, em inglês). Além disso, a Guarda Costeira e a Força Aérea coordenaram várias patrulhas conjuntas para coletar informações e agir como força dissuasora dessas atividades.
Diálogo: O terrorismo é uma ameaça à segurança regional?
Gen Bda West: O terrorismo é uma preocupação importante na região. Precisamos prestar atenção a essa questão, pois nossas operações de inteligência sugerem que combatentes estrangeiros estão voltando à região, principalmente para Trinidad e Tobago e, em alguns casos, para a Jamaica. Tivemos alguns casos em que guianenses foram presos por envolvimento em atividades terroristas, como Adnan Shukrijumah, que era o número um da Al-Qaeda nessa região.
Tivemos também algumas pessoas que foram identificadas pela polícia como financiadas para recrutarem indivíduos e os radicalizarem. Então, estamos prestando atenção a essa questão, porque não é algo estranho à região e, além disso, porque tudo agora está ligado por meio da internet. Assim, ninguém está fora desse alcance da radicalização e nossas instituições devem assegurar que estejamos à frente nesse jogo.
Diálogo: Como a Guiana coopera com as nações parceiras para combater o crime organizado internacional?
Gen Bda West: A Guiana faz parte da União de Nações Sul-Americanas e também fazemos parte da Comunidade do Caribe (CARICOM, em inglês). A CARICOM coordena todas as questões de segurança por meio da Agência de Implementação para Crime e Segurança, conhecida como IMPACS, e as questões de ajuda em desastres são resolvidas por meio da Agência de Gestão de Emergências de Desastres do Caribe.
A Guiana foi participante ativa ao longo destes anos em termos de segurança na região. Por exemplo, nós nos mobilizamos em Trinidad e Tobago quando houve o golpe de Yasin Abu Bakr (1990). Estivemos lá para auxiliar na estabilização e restauração da ordem naquele país. Estivemos também na Jamaica após o furacão Gilbert (1998), em Granada, após o furacão Ivan (2004), e a lista continua. Podemos analisar a contribuição da Guiana em termos de mão de obra para assistência, mas houve também assistência material e financeira dada pelo governo a países após esses desastres. Por meio da CARICOM, continuaremos a contribuir para os vários desafios na região. A Guiana permanece como um parceiro estável nas contribuições às operações de segurança e ajuda para desastres dentro da região.
Diálogo: Como a GDF trabalha e coopera com os Estados Unidos?
Gen Bda West: Temos uma série de esforços coordenados com os Estados Unidos. Temos a CBSI, a CANSEC, o Tradewinds, a Conferência dos Exércitos Americanos, a Conferência de Ministros de Defesa das Américas etc. Além disso, temos o Programa Internacional de Treinamento e Educação Militar e o Programa de Vendas Militares Estrangeiras, entre outras colaborações em termos de cooperação em segurança.
Diálogo: Qual é a sua mensagem para a região do Caribe?
Gen Bda West: Vamos continuar a trabalhar juntos e manter linhas abertas de comunicação para que possamos dar suporte uns aos outros nos momentos de necessidade.