O povo Uwottüja, que vive no estado de Amazonas, na Venezuela, declarou em uma assembleia de comunidades indígenas que o regime de Nicolás Maduro não resolve os seus problemas e necessidades. Os habitantes dos quatro rios (Sipapo, Cuao, Autana e Guayapo) e da região do médio Orinoco decidiram se defender com os seus próprios recursos da “invasão silenciosa” de organizações armadas e quadrilhas criminosas, bem como da prática de atividades ilegais em suas terras demarcadas, informa a ONG Wataniba de trabalho socioambiental da Amazônia.
“Manifestamos o repúdio à exploração da mineração ilegal em nosso território e ao trânsito de atividades ilícitas, como o narcotráfico”, disse, em março, o representante do Conselho de Anciãos Uwottüja, em Pendare, Amazonas. Além disso, eles exigiram que o regime “explique por que os grupos armados afirmam contar com a autorização do governo da Venezuela para permanecer em seu território”.
“Essa associação criminosa começou com o então presidente Hugo Chávez, o que permitiu que Maduro contasse com a cumplicidade de diversas instituições militares. Esse é um casamento ruim que violenta sistematicamente os direitos de todas as comunidades onde opera”, disse à Diálogo Eduardo Varnagy, professor da Universidade Simón Bolívar, em Caracas. “Os grupos ilegais armados colombianos são os grandes aliados [de Maduro] no controle político e social do país; eles subjugam através do medo às armas.”
No dia 26 de março, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos acusou Maduro e seus cúmplices mais próximos de narcoterrorismo, corrupção e lavagem de dinheiro, bem como da parceria com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) para exportar toneladas de drogas para os EUA. As autoridades norte-americanas oferecem US$ 15 milhões de recompensa por informações que levem à sua detenção.
“As FARC podem garantir a defesa armada para a manutenção de Maduro no poder”, disse Varnagy. “Além disso, várias frentes do Exército de Libertação Nacional (ELN) e do Exército Popular de Libertação da Colômbia operam em todo o território venezuelano.”
Pelo menos 28 grupos criminosos, tanto estrangeiros quanto nacionais, desenvolvem atividades de narcotráfico, mineração ilegal e terrorismo com armamento proveniente do Exército Bolivariano, disse a ONG venezuelana de direitos humanos Funda Redes. As populações indígenas dos estados de Bolívar e Amazonas são as mais afetadas, afirmou a organização.
“A Venezuela deixou de ser uma ponte para se transformar em um centro de operações de criminalidade do planeta”, declarou Varnagy. “Tudo isso ocorre com a anuência e a proteção do regime de Maduro”, acrescentou à Diálogo Javier Tarazona, presidente da Funda Redes.
Os nativos venezuelanos estão expostos ao “terror” gerado por esses grupos armados, que buscam impor a obediência com a prática de extorsão e índices de homicídios que alcançam picos extraordinários em algumas comunidades, diz o relatório Violência no sul da Venezuela, da ONG belga Internacional Crisis Group, que trabalha para evitar guerras.
“Pouco a pouco, as FARC e o ELN começam a ter o controle territorial do país, não apenas em zonas geográficas, mas também de atividades econômicas, nas quais protegem as concessões de jazidas de ouro, coltan e diamantes de empreiteiros russos e chineses”, acrescentou Varnagy. “Eles obrigam as comunidades indígenas e tradicionais a migrar para salvaguardar sua integridade física”, finalizou Tarazona.