O regime de Nicolás Maduro está provocando o crescimento de grupos armados em território venezuelano, favorecendo a consolidação de algumas estruturas ilegais que são úteis para o controle social e a repressão.
“O regime de Maduro percebeu que não é capaz de exercer o controle com suas próprias forças. Está tentando obter controle territorial por diferentes meios […], mas não tem a força, não tem capacidade militar suficiente nem disciplina para realizá-lo […]”, disse à Diálogo Roberto Briceño León, diretor do Observatório Venezuelano da Violência (OVV), uma ONG que monitora a insegurança na Venezuela. “Ele prefere estabelecer alguns acordos temporários com esses grupos e os deixa existir porque trabalham para ele”, acrescentou.
Segundo Briceño, esses grupos criminosos passaram por processos de concentração, incapazes de sustentar seus financiamentos devido à deterioração econômica e à COVID-19. “Há um maior domínio territorial [de grupos criminosos], mais amplo; e há uma maior concentração de grupos. Ou seja, há menos grupos, mas eles são maiores e mais poderosos e têm um domínio mais extenso”, declarou.
Matthew Steinhelfer, secretário adjunto do Escritório Estatal de Operações de Conflitos e Estabilização, do Departamento de Estado dos EUA, advertiu em 11 de maio de 2022, durante a Sétima Conferência Anual de Segurança Hemisférica, em Miami, que “esses grupos aumentam seu poder com o apoio do regime de Maduro; eles continuarão a crescer e se expandir para os países vizinhos”.
Steinhelfer afirmou que 60 por cento das estruturas armadas gozam de algum apoio do regime venezuelano.
Briceño diz que a ditadura venezuelana trata os grupos armados não estatais de forma seletiva. “É muito clara a diferenciação que faz entre esses grupos. Eles os administram como alianças políticas ou mecanismos estratégicos. Com alguns, eles têm acordos e simpatias. Existem acordos em nível regional ou local, mas são funcionais no sentido de controle territorial”, acrescentou.
“Pessoas deslocadas, testemunhas e trabalhadores humanitários disseram que membros das forças de segurança venezuelanas, especialmente da FANB [Força Armada Nacional Bolivariana] e da Guarda Nacional Bolivariana, realizaram operações conjuntas com guerrilheiros do Exército de Libertação Nacional (ELN), e afirmam que as forças venezuelanas são cúmplices dos abusos do ELN”, informou a Human Rights Watch (HRW) em um comunicado, em março.
Moradores de cidades de Apure que sofreram, em janeiro, invasões de grupos mistos de soldados e guerrilheiros venezuelanos, disseram à HRW que estavam procurando por supostos “informantes” do grupo das dissidências das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), o Décima Frente, também conhecido como Frente Martín Villa.
As ações dos militares venezuelanos junto ao ELN foram corroboradas por Juan García, coordenador da ONG Fundaredes em Apure, que declarou à Diálogo que o objetivo fundamental do regime é deslocar os dissidentes das FARC e apoderar-se das rotas para o comércio ilegal.
“Historicamente, as FARC tinham o controle em Apure, mas foram deslocadas pelo ELN […], que opera na área juntamente com as FANB, abertamente com o Exército e a Marinha. Há fazendas desapropriadas, nas quais há até mesmo elementos da Força Aérea e da Marinha, nas margens do Arauca. Isto levou a um despejo das FARC, tanto no Apure inferior quanto no superior”, acrescentou García. “Esses guerrilheiros estão estendendo sua influência para outras áreas do país, como Zulia e Bolívar. O que mais lhes interessa é assumir o controle dos negócios.”