O crime organizado diversificou suas atividades ilícitas no Equador em mineração ilegal, com graves impactos ambientais em grandes partes do país, gerando situações de violência e abusos dos direitos humanos, que agravam o problema da insegurança. Segundo Fausto Cobo, diretor do Centro de Inteligência Estratégica (CIES) do Equador, o Estado enfrenta uma nova ameaça “não convencional”, que converge com outras atividades criminosas, como o narcotráfico.
O aumento da mineração ilegal tem sido facilitado por múltiplos fatores, tais como a presença de depósitos minerais em áreas remotas e a existência de redes de mineração ilegal nos países vizinhos, Colômbia e Peru, de acordo com um estudo do Departamento contra o Crime Organizado Transnacional da Organização dos Estados Americanos (OAS-DTOC, em inglês), realizado em dezembro de 2021.
Entretanto, as autoridades equatorianas não foram complacentes e intensificaram a aplicação da lei e os controles sobre o comércio de ouro e, especialmente, na luta contra a mineração ilegal.
Operação Manatí em Napo
Na madrugada de 13 de fevereiro de 2022, mais de 1.500 membros das Forças Armadas e da Polícia Nacional realizaram uma megaoperação para deter a mineração ilegal de ouro em grande escala na área de Yutzupino, província de Napo, na Amazônia equatoriana.
Durante a operação, as autoridades apreenderam 107 retroescavadeiras que foram levadas para um recinto de feiras. O uso indiscriminado de grandes quantidades de máquinas pesadas causou sérios danos ambientais nas bacias hidrográficas dos rios Yatunyaku e Yutzupino, afluentes do rio Napo, informou o portal de notícias do meio ambiente Mongabay.
Alexandra Vela, ministra de Governo do Equador, disse que uma única dessas máquinas pode custar até US$ 250.000 e comparou os que financiam a atividade de mineração ilegal com os traficantes de drogas. “O governo nacional não vai permitir que atividades ilícitas como a mineração ilegal se desenvolvam no mesmo nível que uma empresa de narcotraficantes”, disse ela em uma coletiva de imprensa.
De acordo com o relatório do OAS-DTOC, a proximidade de grupos criminosos que se dedicam à mineração ilegal nos países vizinhos aumentou a disponibilidade de financiamento ilícito, assim como o intercâmbio de conhecimentos e técnicas. Como resultado, o acesso a maquinaria pesada, explosivos e outros equipamentos é muitas vezes assegurado através de organizações criminosas.
Embora Yutzupino seja a área mais afetada em Napo, a mineração ilegal é registrada em quase todas as províncias do Equador, com exceção de Galápagos e Sucumbíos.
Operação em Buenos Aires, Imbabura
Em 2 de julho de 2019, 2.500 policiais e militares e 20 promotores fizeram uma incursão na paróquia de La Merced, no cantão de Buenos Aires, situado na região montanhosa da província de Imbabura, para retirar as minas ilegais desse lugar. Acampamentos improvisados na área foram palco de violentos confrontos entre gangues criminosas formadas por colombianos, venezuelanos e equatorianos que lutavam pelo controle das minas ilegais de ouro e outros minerais preciosos.
Segundo dados do governo, o nível de ocupação atingiu 10.000 pessoas ligadas à mineração ilegal, grupos armados que intimidavam a população e gangues criminosas dedicadas ao tráfico de pessoas, exploração sexual, exploração de mão-de-obra e outros delitos.
Mineração ilegal em Zaruma
As atividades ilegais de escavação mineira no cantão de Zaruma, província de El Oro – que remontam à década de 1950 – resultaram na formação de grandes fossos em várias partes da área. Em dezembro de 2021, a cavidade na parte central da cidade causou o colapso total de algumas casas, afetando várias famílias. A população foi evacuada como medida preventiva.
Durante sua visita ao cantão, o presidente do Equador, Guillermo Lasso, declarou estado de emergência, com o objetivo de realizar um “diagnóstico geofísico” e encontrar “soluções definitivas”.
“Que os habitantes de Zaruma, El Oro e todos os equatorianos conheçam a origem do problema: pessoas irresponsáveis que realizam atividades de mineração ilegal e põem em risco sua comunidade”, disse Lasso via Twitter, em 20 de janeiro de 2022, garantindo que o problema será resolvido.