A relação de amizade, confraternização e apoio mútuo entre a Colômbia e os Estados Unidos é de longa data. Ela remonta a 1950, quando o país sul-americano se uniu às forças multinacionais da Organização das Nações Unidas sob a liderança do Exército dos Estados Unidos, para fazer frente à agressão norte-coreana durante a Guerra da Coreia.
Desde então, as nações parceiras continuam tecendo fortes laços por meio de operações, exercícios e esforços combinados de cooperação, com o objetivo comum de assegurar a estabilidade e a segurança regionais. Tanto é assim, que o General-de-Brigada do Exército da Colômbia Juan Pablo Forero lidera a direção de Exercícios e Assuntos de Coalizão do Comando Sul dos EUA (SOUTHCOM) desde agosto de 2017.
É a primeira vez que um oficial general das forças militares de uma nação parceira faz parte do estado-maior conjunto do SOUTHCOM. Diálogo conversou com o Gen Bda Forero para falar desse e de outros temas.
Diálogo: O fato de que o SOUTHCOM tenha escolhido um oficial general do exército de uma nação parceira para encabeçar uma de suas diretorias diz muito sobre o trabalho combinado. Qual é a importância deste marco e que mensagem envia às nações parceiras? Além disso, o que diz sobre a relação da Colômbia com os Estados Unidos?
General-de-Brigada do Exército Nacional da Colômbia Juan Pablo Forero, diretor de Exercícios e Assuntos de Coalizão do Comando Sul: Antes de mais nada, quero dizer que estou totalmente de acordo com isto, mas isto se baseia fundamentalmente na confiança dos Estados Unidos na Colômbia e nos países da região. Essa é uma das metas do Comando Sul: gerar confiança e obter a confiança dos países. Não se ganha essa confiança da noite para o dia ou de um dia para o outro. Essa confiança é gerada com intercâmbios, com relações, e essas relações têm que ser mantidas no tempo com políticas a longo prazo, para que continuem fomentando a união de nossos países. Para a Colômbia, os Estados Unidos têm sido uma fonte de apoio incondicional. O Comando Sul dos Estados Unidos esteve presente sempre que a Colômbia assim o necessitou. Vimos desenvolvendo uma guerra de mais de 50 anos e o Comando Sul e os Estados Unidos sempre nos apoiaram. Mas o mais importante é que a Colômbia retribuiu os apoios que nos deram em todas as áreas. A Colômbia mostrou resultados. A Colômbia demonstrou que se ergueu de anos de muita crise, anos muito difíceis, ao final da década de 1990, e agora é um exemplo para a região. É um exemplo de como é possível liderar uma luta, uma guerra, e manter relações em meio a um conflito. Finalmente, quero dizer que um ponto determinante nesta relação foi o início do Plano Colômbia no ano 2000 – 2001, com o senhor presidente [Andres] Pastrana e o presidente [Bill] Clinton nos Estados Unidos. O Plano Colômbia uniu ainda mais os dois países e o resultado do plano foi que a Colômbia voltou a ser vista de uma maneira diferente. Antes do Plano Colômbia nos viam como uma democracia falida, onde havia muitíssimos problemas e, com a ajuda do Plano Colômbia e da União Europeia, seguimos em frente e geramos uma grande confiança na região.
Diálogo: A direção de Exercícios e Assuntos de Coalizão (J7/9) administra alguns dos enfoques primordiais do Comando Sul, incluindo exercícios, treinamento, ajuda humanitária e integração, entre outros. Como vai aproveitar sua experiência no Exército da Colômbia para oferecer uma perspectiva nova à fórmula (do SOUTHCOM)? Por que é importante incluir uma perspectiva de uma nação parceira a esta fórmula?
Gen Bda Forero: O fato de a Colômbia sempre ter sido uma aliada dos Estados Unidos facilita o meu trabalho, porque nós estamos acostumados a trabalhar com o Comando Sul. Nos diferentes cargos de comando que eu ocupei ultimamente, tive a oportunidade de receber visitas do Comando Sul, do Comando do Exército Sul. Sendo comandante da Força de Deslocamento Rápido em La Macarena, recebi o comandante do Exército Sul, recebi o diretor da CIA [sigla em inglês para Agência Central de Inteligência], recebi o pessoal do FBI [sigla em inglês para Escritório Federal de Investigação], recebi os congressistas dos Estados Unidos que vêm visitar a Colômbia para verificar como os recursos que estão dando a diferentes países e, no meu caso, à Colômbia, estão sendo utilizados. Isso nos dá um conhecimento e uma experiência que, chegando ao Comando Sul, não venho com os olhos fechados. Sei como podemos apoiar outros países que não recebem o mesmo apoio porque não têm os mesmos problemas que temos; mas no momento em que faço o meu trabalho aqui tenho a experiência para poder orientar ou poder ajudar os outros países para que eles possam receber o mesmo suporte. Essa experiência me dá a possibilidade de estar no meu trabalho e poder estar nos dois lados. Primeiro, como diretor de Exercícios e Assuntos de Coalizão, onde tenho uma grande responsabilidade, neste comando, de levar a cabo todo o programa de exercícios e treinamentos e, segundo, com relação a assuntos de coalizão com tudo o que tem a ver com o apoio em situações de emergência, assistência humanitária e desastres naturais. A Colômbia também sofreu esses desastres; temos experiência e criamos uma série de unidades que podem ser repetidas em outros países. Aqui no meu trabalho, além de ter a responsabilidade dos exercícios, do treinamento e de assuntos de coalizão, também tenho a responsabilidade sobre a terceira linha de esforço do comando, que é a de desenvolver uma resposta rápida. E, quanto a esta resposta rápida, podemos olhá-la sob vários pontos de vista. Há alguns países que vão ser sempre aqueles que vão sofrer por causas naturais e outros países que sofreram, mas geraram capacidade. É algo que o Comando Sul pode aproveitar ao empregar esses países em apoio a outros países que não têm esta capacidade e que sofrem com essas limitações. Temos alguns países, como Chile, Peru, Brasil e Colômbia, que desenvolveram uma grande capacidade em desastres naturais, e nós como Comando Sul podemos pedir ajuda a eles para quando tivermos que enfrentar ou apoiar outros países, por exemplo, no Caribe, que não têm as mesmas capacidades. Essas capacidades em outros países nos geram confiança, nos aproximam. Quando vamos ao Caribe na época dos furacões, geramos confiança, chegamos com soluções e ao mesmo tempo eles acreditam em nós. O último exemplo é o da Argentina, um país que está novamente conosco, que vem desenvolvendo uma integração muito forte nos últimos anos, com o caso lastimável que tiveram com o submarino ARA San Juan no Atlântico. Os Estados Unidos e o Comando Sul lhe deram todo o apoio, ofereceram todo o suporte técnico com tecnologia de última geração para primeiro resgatar possíveis sobreviventes e depois localizar o submarino e recuperá-lo. Isso gerou uma confiança incrível entre os dois países. É uma das formas de podermos cumprir a missão dentro do Comando Sul.
Diálogo: Por isso mesmo sua perspectiva cobra maior importância, pela experiência que a Colômbia traz, a partir dessa perspectiva e agora também desta com os outros países. Parece que esse elemento na fórmula é fundamental para poder falar com os demais países, para criar uma abordagem mais confiável.
Gen Bda Forero: Tenho a facilidade de ver os problemas de outro ponto de vista. Sempre vemos o Comando Sul como uma organização que tem todos os recursos e possibilidades para apoiar em todas as áreas. E estando aqui posso observar que algumas vezes também se têm algumas dificuldades, mas o mais importante é que sempre estamos dispostos a apoiar nossos países.
Diálogo: O que espera conseguir e levar desta experiência como lição aprendida quando voltar para a Colômbia?
Gen Bda Forero: Antes de mais nada, quero ajudar e contribuir para alcançar os objetivos do Comando Sul. Essa é a tarefa fundamental de todo militar: poder desenvolver e cumprir a missão designada em um tempo determinado. É muito importante para mim cumprir a missão que recebo aqui por parte do Comando Sul, que se baseia muito diretamente em exercícios: como melhorar os exercícios, como fazer com que os exercícios nos integrem mais, como fazer com que pelos exercícios possamos atrair ainda mais pessoas. O que eu levaria daqui? Muitíssimo, muitíssimo. Quando eu sair daqui e voltar ao meu país vou ter uma visão mais ampla das coisas. Vou poder ter uma relação mais ampla com os Estados Unidos e com os diferentes países porque aqui eu me relaciono com muitos países. É muito importante para mim, ao final deste exercício, levar e divulgar todos os ensinamentos que posso aprender aqui, bem como a forma de desenvolver os processos e o planejamento. Em nossos países, muitas vezes, pela limitação de recursos que temos, planejamos no curto prazo, um ano ou dois anos no máximo, e isso me ajuda a poder planejar ainda mais. Nós, na Colômbia, estamos desenvolvendo um processo de transformação, a partir do ano 2011, e esse processo de transformação é vital para as nossas forças armadas. Gostaria de ajudar nesse processo de transformação quando chegar à Colômbia, levando diferentes formas de planejar, ajudando a empregar melhor os recursos para que possamos cumprir a meta da transformação. Isto porque a transformação é feita para mudar o que tiver que ser mudado, melhorar o que tiver que ser melhorado e, no caso de alguns processos que normalmente andam bem, que sigam em frente da maneira que são. Gostaríamos de ter tudo o que se tem aqui, mas é preciso ser realista e, quando chegar à Colômbia, saber que há algumas limitações, em algum momento, para algumas coisas. Para outras coisas temos todo o apoio necessário e dessa maneira poderei explorar ao máximo no meu país o que aprendi aqui.
Diálogo: Qual acredita ser seu maior desafio para cumprir a missão de exercícios e assuntos de coalizão?
Gen Bda Forero: Creio que a minha posição no Comando Sul não só abre as portas para a Colômbia, mas também abre as portas para a região. Meu maior desafio aqui é, antes de tudo, me envolver bem depressa nos processos e aprender muito. Embora sejamos exércitos ou forças militares, há processos que são diferentes. Esse seria o desafio: entrar no processo onde eu já tenha um vasto conhecimento e poder, já, neste momento, prestar assessoria, apoio, facilitar as coisas para que possam se desenvolver; com a experiência do meu país e da região isso vai ser amplo. O outro desafio é o de ser muito rápido no processo de aprendizagem para poder desenvolver ou explorar toda a minha capacidade em benefício da região.
Diálogo: Como acha que a sua presença na direção J7/9 estabelecerá um novo caminho nas interações do Comando Sul com as nações parceiras?
Gen Bda Forero: Minha presença aqui, repito, é um voto de confiança, neste caso à Colômbia, mas é um voto de confiança na região que o Comando Sul conhece e sabe das capacidades de nossas forças militares. Esta é a minha razão de estar aqui. Isso é como um incentivo para os outros países, para percebermos que o que fazemos é visto aqui no Comando Sul. Primeiro, para apoiar, ajudar, socializar coisas e ajudá-los em seus países, mas também para gerar a confiança de que os Estados Unidos e o Comando Sul estão ajudando em diferentes áreas com o interesse de buscar uma região mais segura, onde os poderes democráticos se desenvolvam sem nenhum inconveniente, com um desenvolvimento econômico sustentável e onde existam níveis de segurança aceitáveis.
Esta experiência é um laboratório, é um experimento, que talvez possa ser repetido nos demais comandos combatentes dos Estados Unidos. Eu sou o primeiro a fazer parte de um experimento de associação e colaboração entre nações parceiras. Quem sabe se com o meu desempenho o Comando do Pacífico ou o Comando Europeu queiram incluir uma nação parceira de suas respectivas áreas de operação dentro de suas direções para consolidar as relações e a colaboração mútua. Estamos estabelecendo um caminho que pode servir de exemplo para o futuro.
Diálogo: Deseja acrescentar algo para os leitores da Diálogo?
Gen Bda Forero: Acho que finalmente quero aproveitar esta oportunidade para enviar uma mensagem de agradecimento, uma mensagem de fraternidade, de amizade a todos os países da região, porque todos os países com as nossas situações têm um imenso comprometimento e uma grande responsabilidade. As forças militares são todas iguais. As forças militares são o baluarte de cada um de nossos países. Quero parabenizá-los pelo esforço e pela dedicação que colocam nesse papel tão fundamental em cada um de seus países.