O General de Exército Vladimir Padrino, ministro da Defesa da Venezuela, tem uma fortuna equivalente a milhões de dólares, de acordo com um novo relatório publicado pelo Projeto de Investigação do Crime Organizado e da Corrupção, em 10 de abril de 2020. (OCCPR, em inglês).
Hernan Akhnanton Noguera, outro militar de alta patente do regime de Nicolás Maduro, também ganha milhões, segundo o relatório. No entanto, os dois generais “oficialmente” não ganham mais do que US$ 8 ou US$ 9 por mês. E eles não são os únicos.
De acordo com o OCCRP, há pelo menos 84 generais do Exército venezuelano que trabalham em companhias privadas ou públicas, que estão inscritas no Registro Nacional de Empreiteiros. Esse registro é uma base de dados com informações sobre os empreiteiros do governo venezuelano. Entre os 84 generais mencionados no relatório do OCCRP, 35 pertencem aos conselhos de empresas privadas em toda a Venezuela e em outros países, incluindo os Estados Unidos.
Através de sua investigação, o OCCRP revelou que Maduro tem estado distribuindo contratos estatais lucrativos entre esses generais em troca de sua lealdade, enquanto o próprio país continua a se deteriorar política e economicamente.
Esses contratos são relativos aos setores de construção, alimentação, transportes e petróleo, além de outras áreas tais como publicidade, equipamentos médicos e turismo. No entanto, o relatório diz que “segundo a Constituição venezuelana e a legislação anticorrupção do país, é ilegal que autoridades públicas usem seus cargos em benefício próprio, seja diretamente ou através de terceiros. Isso inclui aproveitar-se de conexões pessoais para obter contratos públicos”.
Origens da aliança civil-militar
O envolvimento dos militares na economia da Venezuela começou há mais de 20 anos, quando Hugo Chávez foi eleito presidente, em 1998.
Com sua eleição, Chávez instituiu uma nova aliança “civil-militar” denominada “Plano Bolívar”, a qual, de acordo com o Departamento de Estado dos EUA, envolveu cerca de 40.000 soldados venezuelanos que participavam de diversos projetos públicos nas áreas afetadas pela pobreza, para proporcionar vacinações em massa, distribuição de alimentos, educação e reparações de infraestrutura.
Em 2002, o programa foi cancelado, após relatos de corrupção contra os generais envolvidos no plano de US$ 114 milhões, sob a alegação de que quantias significativas de dinheiro haviam sido desviadas.
Quando Maduro assumiu em 2013, depois da morte de Chávez, o relatório do OCCRP mostrou que ele havia expandido ainda mais o papel dos militares na vida civil. De acordo com o relatório, “em 2018, sete dos 23 governadores de estados, além de nove líderes de ministérios, são oficiais ativos ou reformados. Os oficiais também comandam pelo menos 60 empresas estatais”.
Devido às sanções impostas pelos Estados Unidos, junto com o colapso econômico e a hiperinflação da economia venezuelana, os escassos salários dos oficiais militares em todos os âmbitos os forçaram a buscar fontes alternativas de renda, segundo um estudo do Centro de Pesquisa Econômica e Política, um grupo de especialistas com base em Washington, D.C.
Outra fonte de renda à qual estão vinculados oficiais e a hierarquia militar são os altamente lucrativos negócios do tráfico de drogas – tanto que os Estados Unidos consideraram a Venezuela um ‘narcoestado’, com os mais altos escalões do regime de Maduro, incluindo o próprio Maduro –, acusado de comandar uma organização narcotraficante conhecida como o “Cartel dos Sóis”.
No dia 26 de março, autoridades dos EUA indiciaram Maduro e 14 membros de seu círculo mais próximo, incluindo Padrino, com diversas acusações como narcoterrorismo, tráfico de drogas, lavagem de dinheiro e corrupção.
As autoridades dos EUA, além de analistas do governo e do setor privado, acreditam que uma das principais razões pelas quais os militares e as mais altas autoridades governamentais da Venezuela não desafiaram ou prejudicaram o regime deve-se ao fato de que eles continuam a receber recompensas financeiras, mesmo com o país afundado numa corrupção endêmica e na extrema pobreza.