Figuera, de 55 anos, disse em uma entrevista ao jornal The Washington Post que não se arrepende de ter virado as costas a seu ex-chefe, Nicolás Maduro.
“Estou orgulhoso do que fiz”, disse em meados de junho, em um quarto de hotel no centro de Bogotá. “Por enquanto, o regime está à frente de nós. Mas isso pode mudar rapidamente.”
Figuera foi uma testemunha privilegiada do que ocorre no Palácio de Miraflores. Ele chegou aos Estados Unidos com informação-chave sobre os negócios ilegais de ouro, as supostas operações do Hezbolá na Venezuela e a influência de Cuba na política venezuelana, entre outros temas.
O ex-chefe contou a The Washington Post como mudou de posição depois de uma reunião, no dia 28 de março, com César Omaña, médico e empresário venezuelano de 39 anos, que foi ao escritório do SEBIN com a missão de recrutar o chefe.
Hezbolá, ELN e lavagem de dinheiro
Figuera disse que viu um fio de esperança depois da reunião com Omaña. Ele tinha trabalhado durante muitos anos em inteligência militar. Porém, sua nova função como chefe do SEBIN abriu seus olhos para a podridão reinante no governo de Maduro, disse.
O ex-chefe do SEBIN disse que descobriu casos de lavagem de dinheiro envolvendo o então vice-presidente Tareck El Aissami, ministro da Indústria de Maduro, que foi julgado e condenado nos Estados Unidos por narcotráfico. El Aissami negou publicamente as acusações, e The Washington Post disse que não poderia confirmar de forma independente essas acusações.
Figuera declarou que obteve informações de inteligência que indicavam que grupos irregulares atuavam na Venezuela sob a proteção do governo. Alguns deles são membros do grupo guerrilheiro colombiano Exército de Libertação Nacional (ELN), que prometeu garantir a primeira linha de defesa no caso de uma invasão à Venezuela, pois está ativo em áreas mineradoras no estado sulista de Bolívar.
Acrescentou que obteve inteligência sobre as operações do Hezbolá em Maracay, Nueva Esparta e Caracas, ao que parece vinculadas a negócios ilícitos para financiar operações no Oriente Médio.
“Descobri que os casos de narcotráfico e das guerrilhas não deveriam ser tocados”, disse Figuera.
A interferência cubana
Figuera disse que Maduro confiava sua segurança pessoal a 15 ou 20 cubanos e tinha três cubanos, os quais chamou de “os psicólogos”, que eram assessores especiais que analisavam seus discursos e o impacto que teriam no público.
Explicou também que costumava reunir-se com Maduro várias vezes por semana, mas, quando solicitou uma reunião privada este ano, lhe disseram que teria que passar por Aldo, um cubano. “Eu disse: O quê? Sou o chefe de inteligência e tenho que passar por um cubano para falar com ele?”, lembrou.
Acrescentou que durante os longos apagões, quando todo o país ficou às escuras por falhas do serviço de eletricidade, uma reunião foi interrompida por um telefonema do ex-presidente cubano Raúl Castro. Ao fim da chamada, Maduro parecia aliviado porque Castro prometeu enviar uma equipe de técnicos cubanos para solucionar o problema. “Raúl era como um assessor de Maduro”, disse Figuera. “Se estivesse em qualquer reunião, a mesma poderia ser interrompida caso Castro lhe telefonasse.”