O General de Exército (R) Bernardino Soto Estigarribia, ministro da Defesa do Paraguai, recebeu Diálogo nas instalações do Ministério da Defesa Nacional, para conversar sobre os avanços das Forças Militares e seus projetos para o futuro.
Diálogo: Qual é seu maior desafio?
General de Exército (R) Bernardino Soto Estigarribia, ministro da Defesa do Paraguai: Meu foco é ter uma visão futurista das Forças Armadas do meu país, especialmente para a ampliação de suas funções, no processo de transformação do instrumento militar, onde são postos em perspectiva os novos cenários de segurança e sob o marco da democracia e da transparência do cidadão.
O crime organizado transnacional se tornou um grave problema para a segurança, pois ele não apenas atenta contra as instituições democráticas e a atividade econômica dos estados, mas também, no momento de ultrapassar as fronteiras, ele se torna um fenômeno que consegue abalar a estabilidade da região. Essas organizações cometem ações criminosas que deixaram de ser uma preocupação de segurança da ordem pública, para tornar-se um desafio da defesa nacional. Nesse sentido, acho que é desafiante a necessidade de ampliação da missão constitucional de nossas Forças Armadas, para que possamos contar com uma legislação adequada que nos permita enfrentar esses flagelos.
Diálogo: Qual é o projeto mais importante que seu gabinete está realizando?
Gen Ex Soto: Trabalhamos na potencialização dos recursos humanos, materiais e financeiros das Forças Armadas. Um dos principais objetivos a alcançar é a obtenção do controle do espaço multidimensional [terrestre, fluvial e aéreo] de forma integral. É importante ressaltar que esse processo de grande envergadura deve estar acompanhado da vontade política, da adequação das normas legais e da obtenção de capacidades.
Outro objetivo proposto para curto prazo é elevar a capacidade operacional das forças e seus recursos, a fim de fazer frente às ameaças que ponham em risco a segurança nacional. Por isso, analisamos uma estratégia nacional adequada de segurança e defesa, que nos permita prever os riscos e as ameaças futuras e, dessa maneira, causar um impacto mínimo nas previsões orçamentárias.
Diálogo: Que tipo de coordenação o Paraguai e o Brasil realizam para deter a influência de grupos criminosos na fronteira, especialmente do Primeiro Comando da Capital (PCC) e do Comando Vermelho (CV)?
Gen Ex Soto: O Paraguai e o Brasil compartilham uma ampla linha de fronteira terrestre, aérea e fluvial, e por isso trabalham de forma conjunta na luta contra o crime organizado característico das zonas fronteiriças; nessa área, identificamos o PCC e o CV e, para combater suas ações, realizamos reuniões de coordenação anuais e bianuais entre os órgão de inteligência militar de ambos os países, com o objetivo de manter uma comunicação direta para o intercâmbio de informação e coordenação nos campos das operações e da inteligência.
Diálogo: Como Paraguai e Estados Unidos trabalham para combater as ameaças comuns na região?
Gen Ex Soto: O Paraguai e os Estados Unidos estreitaram e fortaleceram seus vínculos, principalmente quanto ao combate às ameaças que são consideradas comuns para ambas as nações, como o narcotráfico e os crimes conexos. O Paraguai assumiu o compromisso de não esmorecer na luta contra o narcotráfico e realiza um trabalho formidável para combater esse flagelo, que foi elogiado e destacado recentemente pelo governo dos EUA, o que nos motivou ainda mais a ratificar o compromisso do governo nacional de fortalecer esse combate ao crime organizado. O Paraguai valoriza significativamente a cooperação com a DEA [Administração para o Controle de Drogas dos EUA], bem como a cooperação regional e bilateral para enfrentar esses desafios comuns.
Quanto à cooperação em defesa, a relação tem sido muito positiva para meu país quanto ao intercâmbio de ideias, experiências e alianças. Por exemplo, as possibilidades de capacitação dos recursos humanos têm sido muito proveitosas para as Forças Armadas, como em meu caso em 1986, quando fui instrutor convidado em Fort Benning, Geórgia.
Diálogo: Como o Paraguai se prepara para combater os ataques à ciberdefesa?
Gen Ex Soto: Recentemente, elaboramos uma política e doutrina de ciberdefesa com enfoque na defesa nacional, o que nos permitirá adotar ações imediatas para combater a atuação nesse campo. O desafio seguinte é a adequação das normas legais e a elaboração de projetos para melhorar o nível de capacidades e apontar as medidas necessárias para proteger a segurança do ciberespaço com estratégias voltadas para a prevenção e a conscientização de um ambiente digital.