O Tenente-Brigadeiro do Ar Antônio Carlos Moretti Bermudez, comandante geral da Força Aérea Brasileira (FAB), conversou com Diálogo durante a Conferência Sul-Americana de Chefes das Forças Aéreas e Líderes Seniores, realizada na Base da Força Aérea Davis-Monthan, em Tucson, Arizona, entre os dias 4 e 8 de novembro de 2019.
Diálogo: Ao assumir o comando da FAB em janeiro de 2019, o senhor se comprometeu a melhorar a formação profissional do seu pessoal. Quais os progressos realizados a esse respeito?
Tenente-Brigadeiro do Ar Antônio Carlos Moretti Bermudez, comandante da Força Aérea Brasileira: Meu objetivo tem sido o de dar continuidade ao trabalho de meus antecessores, que conduziram a instituição nesses 78 anos de existência do Comando da Aeronáutica. Os esforços são no sentido de fazer com que a nossa Força Aérea tenha uma grande capacidade dissuasória e que seja operacionalmente moderna, atuando de forma integrada na defesa dos interesses nacionais.
A formação, desenvolvimento e capacitação do nosso efetivo são fatores prioritários para a minha gestão, pois com profissionais qualificados conseguiremos tornar a nossa instituição mais preparada para cumprir a sua missão de controlar, defender e integrar um espaço de 22 milhões de km². Para que isso aconteça, a FAB tem diversos cursos fixos para progressão profissional e especialização dos seus militares, por exemplo, o curso de Comando e Estado-Maior, cursos de Altos Estudos Militares e os cursos de formação da carreira do graduado e oficiais por nossas escolas. Nós também temos o Programa de Capacitação e Valorização do Corpo de Graduados, que é composto por dois projetos: o do Graduado-Master e o de Educação Continuada.
Diálogo: O que significa para a FAB o desenvolvimento do primeiro cargueiro militar KC-390? Quais são as capacidades dessa aeronave?
Ten Brig Ar Bermudez: O KC-390 será a nova espinha dorsal da Aviação de Transporte militar no Brasil. Com capacidade para operar nos mais diversos cenários, da Floresta Amazônica às pistas de pouso na Antártida, o KC-390 realizará uma série de missões de transporte logístico e de reabastecimento em voo. Por sua capacidade de transportar até 23 toneladas, a aeronave pode ainda acomodar equipamentos de grandes dimensões, como armamentos, aeronaves semidesmontadas e até o blindado Guarani, equipamento do Exército Brasileiro que será usado na proteção da nossa gigantesca fronteira terrestre brasileira.
Diálogo: Uma das tarefas da FAB é a assistência humanitária e a ajuda durante os desastres naturais. Quais são as lições que os incêndios florestais que afetaram a Amazônia em agosto de 2019 deixaram para a FAB?
Ten Brig Ar Bermudez: A FAB possui ampla expertise de atuação na região amazônica, que possui diversas peculiaridades, como a grande extensão territorial e clima tipicamente instável e chuvoso. No caso da operação Verde Brasil, destinada a combater os focos de incêndio na região da Floresta Amazônica, a FAB atuou desde o dia 24 de agosto com o envolvimento de 15 unidades aéreas. As missões de combate a incêndio em voo e transporte aéreo logístico realizadas pela FAB, durante a operação, somaram mais de 875 horas de voo. Após os dois meses de atuação, a operação Verde Brasil deixou como lição o amadurecimento da atuação conjunta entre as Forças Armadas e os órgãos governamentais. Cada uma das instituições empregou da melhor forma a sua experiência e conhecimento de forma coordenada e integrada. E no caso da FAB, essa experiência inclui mais de 70 anos atuando na Amazônia, encurtando distâncias, levando cidadania para as regiões mais longínquas e protegendo o meio ambiente.
Diálogo: Como é feita a colaboração entre a FAB e a Força Aérea dos Estados Unidos?
Ten Brig Ar Bermudez: Tanto os Estados Unidos quanto o Brasil buscam, em geral, promover o intercâmbio de experiências e fortalecer a parceria militar, por meio da realização de treinamentos e instrução de pessoal em diversas áreas, como ensaios em voo e operações com aeronaves remotamente pilotadas. Os Estados Unidos e o Brasil promovem e mantêm o intercâmbio de cooperação técnica entre as forças aéreas, com a troca de experiências e participação em exercícios multinacionais, nos quais treinamentos e instruções podem ser compartilhados e difundidos. A FAB participa também de simpósios, exercícios e intercâmbios que promovem discussões sobre estratégias referentes ao uso do espaço.
No que diz respeito ao intercâmbio de militares dos Estados Unidos no Brasil, a parceria ocorre em diversas áreas, por exemplo, segurança cibernética, segurança de voo, intercâmbio de direito operacionais e intercâmbio de defesa química, biológica, radiológica e nuclear. No campo do ensino, atualmente, a FAB possui acordos de intercâmbio com a Força Aérea dos EUA que vão desde um intercâmbio semestral de cadetes entre a Academia da Força Aérea dos EUA (USAFA, em inglês) e a Academia da Força Aérea (AFA) até intercâmbio anual, presencial e à distância, de majores que realizam os cursos de Comando e Estado-Maior e de coronéis que realizam os cursos de Política e Estratégia de Defesa. Além de intercâmbios de alunos, há o correspondente de instrutores na USAFA/AFA e na Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais/Inter-American Air Forces Academy, os quais são incentivados e solicitados pelos americanos.