Os Estados Unidos, a Noruega e o Gabão, bem como várias organizações ambientais, lançaram a Aliança contra os Delitos contra a Natureza, uma nova abordagem multissetorial para combater o crime ambiental e as redes criminosas. A Aliança, que reúne governos, organizações internacionais e a sociedade civil, foi lançada em 23 de agosto, em Vancouver, Canadá.
“Muitos desses problemas são de natureza transnacional, o que exige uma resposta igualmente organizada e global”, disse à Diálogo, em 3 de outubro, Mauricio Álvarez, professor da Universidade da Costa Rica e presidente da Federação de Organizações Ambientais. “Os crimes contra o meio ambiente não estão apenas aumentando, mas também estamos enfrentando organizações criminosas complexas que empregam tecnologia avançada, equipamentos sofisticados e recursos consideráveis para burlar as autoridades.”
A Aliança enfatizou que o crime ambiental é uma das maiores economias ilegais do mundo, causando estragos tanto nas pessoas quanto no planeta. Está claro que a erradicação desses crimes exige uma cooperação multissetorial mais eficaz e uma melhor coordenação entre os diversos atores envolvidos nessa luta, afirmou.
A parceria visa abordar uma ampla gama de crimes ambientais, incluindo extração de madeira e mineração ilegais, tráfico de vida selvagem, conversão ilegal de terras, pesca ilegal e atividades relacionadas. Para isso, a Aliança se concentrará em gerar vontade política, mobilizar fundos e fortalecer as capacidades operacionais necessárias para combater esses crimes ambientais.
Também implementará uma série de estratégias, incluindo grupos de trabalho intersetoriais e canais de comunicação estruturados, para permitir o diálogo aberto e o intercâmbio de melhores práticas. Dessa forma, a Aliança está forjando uma resposta internacional para combater os crimes contra a natureza, segundo o comunicado.
Atividade criminosa
De acordo com a Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol), os crimes ambientais ocupam o terceiro lugar no ranking das atividades criminosas mais lucrativas do mundo, perdendo apenas para o tráfico de drogas e a falsificação de produtos, e à frente do tráfico de pessoas.
Esses grupos criminosos compartilham rotas e métodos com redes criminosas envolvidas no tráfico de pessoas, de armas e de drogas, para transportar os produtos derivados de suas atividades ilegais, disse.
Isso envolve o uso de passaportes falsos, corrupção, lavagem de dinheiro e assassinato, declarou a Interpol. O combate aos fluxos financeiros ilícitos é, portanto, fundamental para erradicar a corrupção.
Máfia chinesa
A recém-criada Aliança conta com a participação do Gabinete das Nações Unidas spara Drogas e Crime (UNODC), o Fundo para o Meio Ambiente Mundial (FMAM), a Iniciativa Global da Interpol para Combater os Crimes contra a Vida Selvagem e a Comissão de Justiça para a Vida Selvagem.
Até o momento, a Aliança conta com 22 países membros e espera-se que esse número aumente significativamente com o início oficial de suas operações nos próximos meses. “É importante que os países latino-americanos se juntem a esse esforço”, disse Álvarez.
No mesmo contexto, ele destacou que há um fluxo inconfundível de recursos e lucros ilícitos que fluem do sul para o norte, e a China se destaca como um destino significativo para esse problema. Em particular, grande parte da madeira extraída na Costa Rica é contrabandeada para a China.
“De acordo com as autoridades, elas identificaram uma máfia chinesa dedicada à exportação ilegal dessas valiosas madeiras da Costa Rica para o mercado chinês. Essa situação se soma a outros crimes ambientais, como a pesca ilegal, a mineração ilegal de ouro e o tráfico de animais, que também encontram na China um mercado atraente”, precisou Álvarez.
Áreas estratégicas
Yulia Stange, diretora da Aliança, ressaltou que os membros se concentrarão em áreas estratégicas fundamentais, como a identificação e o desmantelamento de fluxos financeiros relacionados a crimes ambientais, a promoção da tecnologia e o fortalecimento das capacidades dos defensores do meio ambiente, informou IPS Noticias, do Uruguai.
“Os criminosos veem esses crimes como oportunidades de lucro de baixo risco, muitas vezes percebendo-os como crimes sem vítimas”, enfatizou Stange. A Aliança busca mudar essa percepção global, transformando esses crimes em atividades de alto risco e baixo lucro para os criminosos de todo o mundo.
Álvarez observou a importância do surgimento de “um tratado de sanções fortes e articuladas” contra os crimes ambientais, especialmente na América Latina, uma região particularmente exposta a esse tipo de crime, devido à sua riqueza de flora, fauna e recursos minerais.
Medidas globais
Os grupos criminosos estão diversificando suas fontes de renda para além do tráfico de drogas, de armas e de pessoas. Eles agora estão migrando para o crime ambiental, de acordo com um relatório da organização de pesquisa e jornalismo sobre crime organizado na América Latina e no Caribe, InSight Crime.
Um exemplo revelador dessa tendência é a situação na Colômbia, onde grupos armados estão cortando e queimando árvores em áreas protegidas, para cultivar a coca. Eles também se dedicam ao tráfico de ouro na Venezuela, acrescenta InSight Crime.
No México, o conflito entre cartéis de drogas pelo controle da extração ilegal de madeira leva a confrontos violentos, acrescentou. A Reserva da Biosfera Maia, na Guatemala, sofre com a talha e as queimadas para a construção de pistas de pouso para os traficantes de drogas.
“É hora de tomar medidas globais para acabar com a exploração criminosa e a degradação da natureza”, disse Ghada Waly, diretora executiva do UNODC, no lançamento da Aliança.
“Sim, é imperativo enfrentar esses desafios de forma coordenada e articulada, ao mesmo tempo em que se promulgam políticas que fomentem soluções alternativas para proteger o meio ambiente e o nosso planeta”, concluiu Álvarez.