A Administração Geral de Portos da Argentina (AGP) assinou um acordo com o Corpo de Engenheiros do Exército dos EUA, para melhorar as condições da Via Navegável Tronco Paraná-Paraguai, de acordo com a plataforma argentina de comércio exterior ComexLatam.
Juan Belikow, professor de Relações Internacionais da Universidade de Buenos Aires, Argentina, explicou à Diálogo, em 19 de março, que “esse acordo se concentra em questões cruciais, como aspectos ambientais, regulamentação do comércio e navegação, excluindo aspectos de segurança”.
Gastón Benvenuto, interventor da AGP, acrescentou que o acordo marca o início de uma nova fase na gestão dos rios. “Aproveitaremos o conhecimento técnico proporcionado por esse acordo para melhorar a gestão de recursos, a tecnologia da dragagem e o balizamento, bem como fortalecer a capacitação do pessoal.”
O acordo da AGP, assinado em 7 de março, impulsionará a colaboração entre as duas administrações, com foco na melhoria da eficiência, capacitação em gestão portuária, manutenção de vias navegáveis, preservação ambiental e desenvolvimento de infraestrutura.
“Essa parceria é um exemplo claro de como nossos países podem reunir especialistas técnicos para otimizar o gerenciamento de nossa infraestrutura essencial”, afirmou o embaixador dos EUA na Argentina, Marc Stanley.
A AGP também ressaltou que os engenheiros dos EUA gerenciam a hidrovia do rio Mississippi, que tem semelhanças com a Via Navegável Tronco da Argentina, pois ambas são vitais para o comércio internacional e o transporte de safras agroindustriais, estando entre as mais longas hidrovias navegáveis do mundo.
Essas semelhanças são notáveis. No caso do Mississippi, 80 por cento da produção agrícola dos EUA é transportada por essa hidrovia, informou o site argentino Pescare. Enquanto isso, na Argentina, 80 por cento das exportações nacionais usam a rota fluvial, de acordo com o site do governo argentino.
O site também destaca que a Hidrovia Paraná-Paraguai, com mais de 3.400 quilômetros de extensão, facilita a navegação ininterrupta entre os portos da Argentina, Brasil, Bolívia, Paraguai e Uruguai. Nesse contexto, em 14 de março, o Paraguai solicitou a retomada do Plano Mestre da Hidrovia com os Estados Unidos, de acordo com o diário paraguaio ABC.
Paraguai
A Câmara Paraguaia de Processadores de Sementes Oleaginosas e Cereais (CAPPRO) recebeu com satisfação o acordo entre a Argentina e o Corpo de Engenheiros dos EUA, para melhorar a administração da hidrovia, informou ABC. Esse desenvolvimento é significativo para o sindicato, que vem defendendo um memorando semelhante entre os Estados Unidos e o Paraguai.
De acordo com Sandra Noguera, gerente geral da CAPPRO, citada por ABC, “a experiência e a capacidade do Corpo de Engenheiros do Exército dos EUA serão fundamentais para garantir a navegabilidade segura e competitiva da hidrovia durante todo o ano”.
O acordo entre o Corpo de Engenheiros dos EUA e o Paraguai se concentra na realização de estudos técnicos no trecho soberano da hidrovia do país, sem a participação da Argentina, em contraste com tentativas anteriores envolvendo águas compartilhadas. Embora o memorando tenha sido assinado em 2023, de acordo com ABC, ainda está à espera de ser debatido no Congresso paraguaio.
De acordo com o Ministério de Obras Públicas do Paraguai, o projeto exigiria um investimento de cerca de US$ 20 milhões, informa na internet o jornal argentino La Nación.
Janela de oportunidade
Esteban Dos Santos, representante do Centro de Armadores Fluviais e Marítimos do Paraguai, disse à ABC que é importante permitir uma abordagem abrangente de toda a bacia da Hidrovia Paraguai-Paraná. “Cada país não pode continuar com estudos e projetos isolados; essa não é a maneira de alcançar a integração regional”, disse.
Essa abordagem integrada “avançará porque não se trata de uma cessão de soberania, o que elimina os riscos nesse sentido. Atualmente, a Argentina está buscando uma cooperação estreita com os Estados Unidos e distanciando-se da China, excluindo-a do controle da hidrovia”, disse Belikow. “Esse é um excelente sinal positivo para a região.”
Embora a América Latina ainda não tenha visto todas as consequências, outras regiões já estão vendo os efeitos negativos das relações com a China, “como a corrupção”, acrescentou Belikow. “Algumas dessas relações são caracterizadas por cláusulas de sigilo, criando uma falta de transparência nos acordos de financiamento, impedindo a divulgação de detalhes de tais acordos nos países latino-americanos.”
“Esse acordo representa uma janela de oportunidade. Milei abre a expectativa nos EUA para que comece uma nova era de relações entre a América Latina e os Estados Unidos”, destacou Belikow. “A Argentina, com sua influência na região, é um exemplo a ser seguido por outros países.”
Impacto significativo
A segurança internacional também está em jogo na Hidrovia Paraná-Paraguai, devido ao aumento do narcotráfico. De acordo com o ex-presidente da Federação Agrária Argentina, Pedro Peretti, “essa hidrovia é crucial para o transporte de drogas para a Europa”, informou o jornal argentino Página 12.
“Melhorar a gestão da Hidrovia Paraná-Paraguai terá um impacto significativo na redução das vulnerabilidades e dos facilitadores de delitos”, disse Belikow. “É importante considerar que o parceiro da Argentina nesse acordo não é uma empresa privada, mas uma agência militar dos EUA.”
Embora não esteja declarado no memorando de entendimento entre a Argentina e os Estados Unidos, “o monitoramento e a transparência na gestão da hidrovia podem contribuir para a eliminação dos níveis de corrupção. Isso pode ser crucial para o sucesso do projeto. Ter um acordo com uma instituição do governo dos EUA oferece garantia nesse sentido”, concluiu Belikow.