As autoridades do Equador estão usando uma nova técnica para destruir centenas de toneladas de cocaína apreendidas anualmente. Trata-se do “encapsulamento”, no qual a droga é misturada com cimento para fazer blocos de concreto e assim evitar sua reutilização e destruir rapidamente a substância ilegal.
A cocaína é primeiro convertida em pó e depois misturada com cimento, sal e aceleradores químicos, para formar uma lama que é despejada em moldes. Após a secagem, os blocos de concreto endurecem completamente, tornando impossível a extração da cocaína.
“O encapsulamento se torna mais barato, menos complexo, menos tóxico e com maior capacidade de processamento do que o sistema de incineração”, disse à Diálogo Juan Belikow, professor de Relações Internacionais da Universidade de Buenos Aires.
“É por isso que celebro a ideia de encapsular a cocaína e as substâncias tóxicas que ela contém. Além disso, acredito que a cocaína apreendida deve ser destruída o mais rápido possível para evitar riscos de ‘fuga e vazamento’ e tentações de corrupção”, ressaltou Belikow. “A destruição imediata de psicotrópicos ilícitos é uma maneira muito boa de combater o problema do narcotráfico em geral”, acrescentou o especialista.
A organização jornalística investigativa InSight Crime, especializada em crime organizado na América Latina e no Caribe, também elogiou a iniciativa. “A escalada das operações de encapsulamento pode ter impacto no futuro da destruição de drogas para os governos da América Latina, e o Equador está fazendo sua parte para demonstrar quão eficaz o processo pode ser”, disse a InSight Crime.
Até 14 de outubro de 2022, o Equador havia destruído quase 180 toneladas de drogas no total, e 61 por cento do que foi apreendido foi destruído usando a técnica de encapsulamento, disse à InSight Crime Edmundo Mera, subsecretário de Controle de Drogas do Ministério do Interior do Equador. De acordo com o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), o Equador iniciou a técnica de encapsulamento em abril de 2022, após receber treinamento sobre as diretrizes de descarte do UNODC.
Mera disse à Associated Press (AP) que a incineração permite destruir entre 70 e 80 quilos de drogas por hora no Equador, enquanto o encapsulamento destrói até 1,8 toneladas de drogas por hora. “Isto é aproximadamente 260 vezes mais rápido”, disse o subsecretário à AP.
Mera também explicou que os componentes químicos do cloridrato de cocaína fazem com que se alcance uma temperatura de até 1.400 graus centígrados durante a incineração, porque a droga não se queima bem. Isto causaria o colapso dos fornos industriais do Equador se a taxa de queima fosse aumentada. “Assim, no forno mais moderno, eles trabalham com não mais do que 70 kg por hora”, informou a AP.
“Sob essa premissa, a incineração de cerca de 700 kg levaria 10 horas e, de acordo com a lei, o juiz, um secretário e o depositário judicial do ministério devem estar presentes em todos os processos de destruição de drogas. Por estas razões, o encapsulamento é um mecanismo de destruição mais eficiente”, afirmou Mera à AP. O subsecretário esclareceu que o cimento resultante não é usado para a construção, mas repousa em celas subterrâneas junto com outros resíduos e se torna o cimento para armazéns dentro da própria empresa ou administradora de resíduos, completou a AP.
Técnica recomendada
O UNODC ofereceu diretrizes para a técnica de encapsulamento de drogas. “O encapsulamento é uma forma de imobilização de resíduos que faz com que o material a ser descartado não seja reativo e não possa escapar ao meio ambiente para causar contaminação”, diz o UNODC em seu manual Illustrated Guide for the Disposal of Chemicals used in the Illicit Manufacture of Drugs, publicado em 2020.
O manual da ONU faz a distinção entre dois tipos de encapsulamento: o de tambor e o de fossa. O encapsulamento de tambor, usado para resíduos de pequena e média escala, requer apenas tambores (de metal ou plástico) e concreto. O encapsulamento de fossa, por outro lado, é indicado para o descarte em larga escala. “O poço deve estar a pelo menos 500 metros de qualquer curso de água e pelo menos 2 metros acima da água subterrânea, diz o UNODC.
Por este método, a droga é encerrada em tambores ou recipientes que, por sua vez, são fechados em uma célula de concreto e polietileno de alta densidade (HDPE). “O tamanho e a profundidade do poço podem variar, mas devem permitir 1 metro de enchimento na parte superior”, indica o UNODC.
Até meados de fevereiro de 2023, cerca de 350 toneladas de cocaína e pasta de coca haviam sido destruídas com a técnica de encapsulamento, informou a Reuters. “O procedimento está ajudando a liberar os centros de coleta de drogas da polícia. Cerca de 83 toneladas de cocaína estão esperando para serem encapsuladas.”
O Equador tem intensificado a luta contra o narcotráfico e os grupos criminosos que usam o país como ponto de trânsito para enviar cocaína para os Estados Unidos e a Europa.