O Equador está intensificando o destacamento de suas Forças Armadas em nove das províncias mais afetadas pela mineração ilegal, anunciou o Ministério do Interior, no início de maio. Embora as autoridades reconheçam que essa atividade ilícita existe em todo o país, os militares estão se concentrando nas províncias de Napo, Orellana, Esmeraldas, Zamora Chinchipe, Azuay, Sucumbíos, Imbabura, Loja e Morona Santiago.
“Os lugares mais urgentes a serem abordados no Equador são a Bacia do Rio Napo, porque aí a mineração ilegal avança de maneira desenfreada. As Forças Armadas já estão realizando operações e confiscaram máquinas”, disse à Diálogo Andrés Tapia, diretor da Confederação de Nacionalidades Indígenas da Amazônia Equatoriana (CONFENIAE), em 26 de junho. Em Fierro Urco, no Austro equatoriano, grupos criminosos entram em territórios indígenas para realizar atividades de mineração ilegal, enquanto nas comunidades indígenas Shuar e Warints, na província de Morona Santiago, a mineração gera divisão social.
As autoridades anunciaram uma intensa operação em 5 de maio nas províncias de Napo e Orellana, no norte do país, onde mais de 1.000 militares apreenderam 34 escavadeiras, mais de 11.900 litros de combustível e uma variedade de máquinas.
“Essas escavadeiras não são visíveis nas imagens de satélite de alta resolução porque os mineiros as escondem entre a vegetação”, explicou um representante da Fundação EcoCiencia ao site equatoriano Primicias. “Há uma estrutura ilegal muito grande com capacidade para operar maquinário pesado em grande número nessas áreas.”
O Projeto de Monitoramento da Amazônia Andina estima a perda de 217 hectares de floresta desde 2019, no rio Punino, informou a agência espanhola EFE. O Laboratório Nacional de Referência da Água, da Universidade Regional Amazônica IKIAM, também documentou o impacto ambiental do processo de mineração de ouro em Napo.
“[Há] desvios de leitos de rios, para captar água e processar o material, e desmatamento descontrolado de áreas”, disse ao site Youtopía Ecuador Marcela Cabrera, engenheira química da IKIAM. “Os resíduos que contêm metais tóxicos, como chumbo, arsênico, manganês e mercúrio, são despejados diretamente no rio ou armazenados em tanques de rejeitos abandonados.”
Cientistas e conservacionistas também monitoram a Reserva Ecológica Cofán Bermejo, uma das áreas protegidas mais bem preservadas da província de Sucumbíos, no norte da Amazônia equatoriana. Dados do projeto MapBiomas Amazonía estimam que, entre 2017 e 2021, as áreas com atividade de mineração dentro dos limites da reserva foram incrementadas em 386 hectares. Isso representa um crescimento de mais de 350 por cento, informou Mongabay Latam, em 6 de junho.
O plano de segurança das autoridades visa, portanto, as áreas onde há mais conflitos, principalmente na região amazônica, rica em biodiversidade, áreas protegidas e depósitos de ouro e cobre, acrescentou Voz da América.
“Não temos um número exato de quanto a atividade de mineração ilegal cresceu no país nos últimos anos, mas é inquestionável”, acrescentou Tapia. “Alguns dos principais impactos da atividade de mineração ilegal no Equador são a contaminação das fontes de água, a divisão social, o avanço da fronteira extrativista e a decomposição do tecido social da comunidade.”
Esses efeitos são evidentes em La Merced de Buenos Aires, na província de Imbabura, onde a mineração ilegal está mantendo a população em alerta. Por esse motivo, as forças de segurança realizaram uma operação e desmantelaram um acampamento gigante onde funcionava uma usina de processamento artesanal de minerais, cinco acampamentos improvisados, cinco lagoas de sedimentação e doze poços georreferenciados, de acordo com o jornal equatoriano El Universo.
O Exército Equatoriano também realizou operações entre 8 e 17 de junho em Congüime, província de Zamora-Chinchipe; nos setores de Mina Vieja e El Olivo, província de Imbabura; e em Paccha e Zaruma, província de El Oro.
“A mineração ilegal surge como uma alternativa atraente, pois oferece maiores benefícios em termos de lucros e pouco risco, devido à incapacidade do Estado de entender a lógica desses mercados ilegais”, ressaltou Carlos Cabrera, analista político equatoriano, em LinkedIn. “Em meio à pandemia, a presença dessas gangues criminosas se expandiu e provocou um aumento da violência, dos homicídios e de outras atividades criminosas, como o tráfico de pessoas, extorsões e contrabando transfronteiriço de gasolina e explosivos.”
O governo do Equador manterá suas Forças Armadas nas nove províncias até o final de 2023, devido ao crescimento voraz dessa atividade, que em janeiro foi declarada uma ameaça à segurança nacional.