No final de fevereiro, o presidente do Equador, Daniel Noboa, confirmou que o país não transferirá para a Ucrânia seus equipamentos militares russos obsoletos, que ele descreveu como “sucata”.
Em janeiro, foi informado que o Equador estava disposto a enviar seus equipamentos militares russos inutilizáveis para os Estados Unidos, em troca de tecnologia norte-americana moderna, para fortalecer a segurança do país. Em uma entrevista à Ecuavisa, o presidente Noboa chamou o equipamento de “sucata”. Eles [a Rússia] alegam que é equipamento de guerra, mas nós demonstramos que é sucata”, disse.
Uma semana e meia depois, a Rússia impôs uma proibição à importação de bananas, uma das exportações mais importantes do Equador, para pressionar o país andino. A medida da Rússia e o recuo do Equador, no entanto, não dissipam as preocupações atuais sobre a má qualidade e os riscos inerentes associados aos equipamentos militares russos.
Os especialistas concordam que a Rússia e a China exercem pressão sobre as nações latino-americanas, para conseguir o que querem. “Não é ético nem legal ameaçar uma nação com medidas de extorsão para conseguir o que se quer”, disse à Diálogo, em 20 de fevereiro, Euclides Tapia, professor titular de Relações Internacionais da Universidade do Panamá.
“[Moscou] não tem o direito de impor esse tipo de pressão sobre outro país”, afirmou Tapia. “Esse cenário não altera o baixo valor dos equipamentos militares russos.”
“A Rússia não é uma aliada, mas uma inimiga da democracia”, disse à Diálogo, em 12 de fevereiro, Jorge Serrano, especialista em segurança e membro da equipe de assessores da Comissão de Inteligência do Congresso do Peru. “Além disso, [a Rússia] promove o crime organizado e o narcotráfico, elementos que estão minando a estabilidade democrática no Equador.”
Vendas russas despencam
Entre 2017 e 2021, as vendas militares da Rússia e da China para a América Latina caíram, devido às limitações das indústrias de defesa de Moscou e Pequim. Especificamente, as exportações russas foram afetadas pela perda de seus principais clientes na região, que são Venezuela e Nicarágua, segundo um relatório do Centro de Estudos Estratégicos do Exército do Peru (CEEEP). A perda desses países como principais compradores não pôde ser compensada pela busca de novos clientes, explica.
A queda das vendas russas e chinesas na região também foi afetada pelas sanções internacionais impostas ao Kremlin pela anexação da Crimeia, que contribuíram para tornar a Rússia um fornecedor pouco confiável, afirma. Além disso, o sucesso dos equipamentos militares ocidentais na Ucrânia contra a Rússia reduziu a atratividade da compra de material bélico de origem russa.
A guerra na Ucrânia, incluindo a impressionante perda de tanques e veículos blindados, o fracasso da Força Aérea russa para impor a superioridade aérea e o naufrágio do navio de guerra Moskva, no Mar Negro, também apontou para outro problema: equipamentos militares inferiores, informou Asia Times. Interceptações ucranianas publicadas no outono de 2023 pela Reuters mostram soldados russos reclamando sobre equipamentos medíocres.
“As armas ofensivas da Rússia também se mostraram decepcionantes”, informou o site de notícias australiano The Conversation. “A taxa de falha de seus mísseis – a proporção dos que falharam no lançamento, funcionaram mal em pleno voo ou não alcançaram seu objetivo – pode estar entre 50 e 60 por cento, devido a falhas de projeto e equipamentos antiquados ou de qualidade inferior.”
Em julho de 2023, a Força Aérea Venezuelana perdeu seu terceiro jato de combate Sukhoi. Em 2006, a Venezuela assinou um contrato para o fornecimento de 24 Su-30Mk2, mas, a partir de 2020, apenas 11 aeronaves estavam operacionais, com problemas que incluíam equipamentos de bordo e problemas com estruturas metálicas, informou a revista militar ucraniana Defense Express.
“O equipamento militar russo não atende aos padrões de qualidade promovidos. Nos confrontos com a Ucrânia, seu desempenho ruim e perdas significativas se tornaram evidentes, negando sua eficácia. Esses fatos reforçam a necessidade […] de que o Equador se livre desse material obsoleto”, afirmou Serrano.
Grande oportunidade
Nesse contexto, o Uruguai está negociando a compra de armas, radares e caminhões militares com os Estados Unidos, informou o ministro da Defesa, Luis Lacalle Pou, no início de fevereiro, durante a visita da General de Exército Laura J. Richardson, do Exército dos EUA, comandante do Comando Sul dos EUA. O objetivo é renovar e modernizar o material obsoleto do Exército Uruguaio, informou a plataforma argentina Infobae.
“O Uruguai tem uma grande oportunidade, com o apoio dos Estados Unidos, de obter equipamentos de qualidade para enfrentar as ameaças atuais. Os equipamentos dos EUA são reconhecidos por sua excelência, confiabilidade e utilidade no terreno”, destacou Serrano. “Os Estados Unidos estão apoiando a região sul-americana de forma decisiva e concreta.”
Atualmente, países como Cuba, Venezuela e Nicarágua usam armamento russo; outros países da região também têm helicópteros russos, informa o jornal mexicano El Economista. A manutenção dessas aeronaves é um desafio técnico, porque elas estão constantemente quebrando e não há peças de reposição, disse Serrano.
“A Rússia está enfrentando uma grave crise, deixando seus equipamentos militares sem manutenção e deteriorando-se. Essa situação afetará todos os outros armamentos russos. É fundamental que as nações se livrem do material russo obsoleto enquanto ainda podem, para sua própria segurança”, concluiu Serrano.