Apesar do cessar-fogo acordado entre o governo da Colômbia e o Exército Nacional da Colômbia (ELN), em 9 de junho, em Havana, Cuba, o grupo armado indicou que continuará com os sequestros, já que eles não estão explicitamente proibidos no acordo. O cessar-fogo “bilateral, nacional e temporário”, resultado de vários meses de negociações, entrará em vigor em 3 de agosto por um período de 180 dias, ou seja, até 3 de fevereiro de 2024. É o acordo mais longo realizado entre ambas as partes, desde que as guerrilhas foram formadas na década de 1960, informou a BBC.
“Nesse tipo de processo, deve haver incentivos claros para que os guerrilheiros possam negociar sobre questões militares”, disse à Diálogo Jorge Mantilla, especialista em Segurança e Defesa Nacional da Escola Superior de Guerra da Colômbia. “Caso contrário, as autoridades devem pensar que, como no processo de paz com as FARC [Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia], também terão grupos dissidentes para combater.”
De acordo com o negociador-chefe do ELN, Pablo Beltrán, os sequestros, assim como as extorsões, fazem parte das finanças do grupo armado e continuarão, se for necessário. “Em geral, não falamos de sequestros, falamos de detenções. Se elas não forem necessárias, não serão feitas”, disse Beltrán à imprensa, após a assinatura do cessar-fogo com o governo da Colômbia.
Dias depois, em 14 de junho, o Exército Nacional da Colômbia culpou o ELN pelo sequestro de duas pessoas no departamento de Arauca. Trata-se da esposa de um militar, que pertence à Força-Tarefa Chirón do Exército, e um motorista do serviço público. Em um comunicado, o Exército disse que rejeita “categoricamente esse ato criminoso que viola os direitos humanos e infringe as disposições do direito internacional”.
Embora os sequestros não tenham sido explicitamente proibidos nos protocolos do cessar-fogo acordado, as discussões sobre o financiamento do ELN continuarão, disse Beltrán à imprensa. O governo colombiano, entretanto, considera os sequestros um “crime de guerra”.
O negociador-chefe do governo colombiano, Otty Patiño, disse à agência de notícias espanhola EFE que, por enquanto, no protocolo do acordo, ambas as partes se comprometem a não realizar ações proibidas pelo direito internacional humanitário.
O sequestro “significa riscos de ordem política, de ordem jurídica e riscos morais, no sentido de que as pessoas começam a não acreditar muito na vontade do ELN”, disse Patiño, segundo o site de notícias argentino Infobae. “Mesmo que isso não esteja expressamente escrito no cessar-fogo, as pessoas imaginam que eles estão em um processo de desativação de suas armas para fazer política e, portanto, é claro, isso também mina a confiança das pessoas.”
Gustavo Duncan, professor colombiano da Universidade de Los Andes, em Bogotá, e especialista em temas de narcotráfico e conflitos armados, disse à Diálogo que atualmente não há uma sensação clara de progresso em direção a um processo de paz com o ELN, ao contrário do que ocorre com outras organizações criminosas.
“A delegação do governo enfrenta a perspectiva de negociar com um grupo guerrilheiro que, em um novo relatório de inteligência, registrou 131 ações bélicas contra a população civil e a Força Pública, de janeiro de 2023 a 27 de abril”, informou a agência internacional de notícias Publimetro.
Para as Forças Militares da Colômbia, a implementação do cessar-fogo significa, na primeira fase, chamada de Prontidão Técnica, continuar as operações militares contra as atividades ilegais, como o narcotráfico, a mineração ilegal, o tráfico de armas e crimes relacionados aos que se dedicam membros do ELN, até 2 de agosto, informou Infobae. Eles também devem cumprir os mandados de prisão existentes para membros do grupo armado.
A suspensão das operações será feita por ordem do presidente Gustavo Petro, prevista para 3 de agosto.