O canal de notícias em espanhol do regime iraniano, HispanTV, que retrata o terrorismo como “resistência” e participa ativamente de campanhas de incitação e desinformação na América Latina, é motivo de preocupação, indicou o think tank norte-americano Fundação para a Defesa das Democracias (FDD), em um relatório do final de 2023.
“Teerã mantém uma campanha internacional de propaganda e desinformação, que busca desacreditar Israel e as comunidades judaicas da diáspora, retratando-os como vilões”, disse à Diálogo, em 29 de novembro, Luis Fleischman, professor de sociologia da Universidade Estadual de Palm Beach, na Flórida.
HispanTV tem como alvo o público de língua espanhola em todo o mundo e transmite seu conteúdo por meio de uma variedade de plataformas, desde retransmissões via satélite e cabo até transmissões ao vivo, bem como por meio de suas plataformas de mídia social e web, de acordo com a FDD.
Apesar de enfrentar acusações recorrentes de violar as políticas de plataformas como YouTube, Facebook e X (antigo Twitter), que desde 2018 levaram ao fechamento temporário de suas contas em várias ocasiões, o Irã aprendeu a se adaptar e desvelar estratégias para manter sua presença online e reter seu público, revela a plataforma Latinoamérica 21.
O Irã diversifica seus canais para hospedar seu conteúdo, além da principal plataforma de HispanTV, a fim de minimizar a perda de informações. Além disso, desenvolveu sua própria versão do YouTube, chamada Urmedium, onde não há censura ocidental, afirma.
Essa mídia estatal busca disseminar a cultura e as ações políticas do Irã para o público estrangeiro, distorcendo as narrativas ocidentais convencionais sobre Teerã, observou a FDD. Desde 7 de outubro, ela tem se concentrado em glorificar a resistência palestina e ocultar as atrocidades do Hamas.
“A estratégia de influência do Irã na América Latina é baseada na proximidade com os Estados Unidos”, disse Fleischman. “Essa abordagem ideológica faz parte de seu confronto com os Estados Unidos, que começa com Israel, visto como a porta de entrada nessa luta.”
Ódio e mentiras
Após o massacre do grupo terrorista Hamas em Israel, HispanTV lançou uma ampla campanha de desinformação em todas as suas plataformas, declarou a FDD. Pablo Jofre Leal, um de seus comentaristas, defendeu o ataque como um “direito legítimo de autodefesa” e acusou outros meios de comunicação de distorcer a resistência palestina.
Essas ações atraíram a atenção de Melissa Fleming, subsecretária-geral de Comunicações Globais, da Organização das Nações Unidas, que destacou a preocupação com a disseminação de ódio e mentiras em tempos de conflito, “o que leva a erros perigosos com consequências em tempo real e no mundo real”.
A rápida disseminação de rumores não confirmados, a partir de mensagens criptografadas a plataformas mais amplas, complica a verificação, disse Fleming. Além disso, as ferramentas digitais que permitem a disseminação de falsificações e a existência de robôs que imitam personalidades públicas aumentam a confusão e a desinformação.
Especialistas em segurança cibernética, como Dan Brahmy, presidente da empresa de inteligência Cyabra, sediada em Tel Aviv, alertaram a revista americana Politico, em 10 de outubro, sobre “um fluxo incomum de milhões de conteúdos nas mídias sociais, três a quatro vezes maior do que o normal”, levantando preocupações sobre um possível aumento da violência no conflito israelense-palestino, afirmou.
Rússia-Venezuela
Esses esforços de desinformação, de acordo com o Instituto de Estudos Estratégicos Nacionais (INSS), com sede em Washington, são coordenados com a ajuda da mídia estatal, como RT en español, da Rússia, e Telesur, da Venezuela, além de contas de mídia social aliadas. As narrativas são propagadas por “super emissoras” financiadas, transmitindo uma mensagem unificada.
Para o INSS, essa campanha constante também é essencial para manter a alta legitimidade do regime de Maduro e da Empresa Criminosa Conjunta Bolivariana (BJCE) no hemisfério. A influência iraniana ascendeu na mídia latino-americana, passando da periferia para as correntes predominantes.
Essas narrativas não têm conteúdo religioso islâmico, mas incitam uma aliança contra os Estados Unidos; elas desafiam os interesses regionais em favor da estabilidade e da democracia, adverte o INSS. “Essa convergência revela uma aliança entre o radicalismo islâmico e a esquerda radical latino-americana”, declarou Fleischman.
Confusão e angústia
“As ações do Hamas são desumanas. Embora eles afirmem que se preocupam com os civis, as atrocidades reais são evidentes, até mesmo filmadas e transmitidas pelos próprios terroristas. Isso gera confusão entre as pessoas, que lutam para saber em qual mídia acreditar diante desses fatos deprimentes”, disse Fleischman.
Em momentos de angústia e preocupação, é essencial recorrer a uma variedade de fontes confiáveis e independentes, acrescentou. “No entanto, devemos ter em mente que nem toda a mídia está disposta ou é capaz de fornecer uma imagem completa e precisa dos acontecimentos”, concluiu Fleming.