Aumentam as agressões contra os meios de comunicação nicaraguenses.
Após 25 anos, o suplemento de humor político El Azote, do jornal La Prensa, o mais antigo periódico da Nicarágua, anunciou seu fechamento no dia 6 de outubro de 2019, apenas dez dias depois de El Nuevo Diario, o segundo jornal de maior importância do país, ter anunciado o fim de suas edições impressa e digital. Os dois veículos denunciaram desde 2018 o bloqueio aduaneiro imposto pelo governo que lhes impede, sem justificativa administrativa ou legal, de importar papel e outros insumos para imprimir suas edições.
“Jornalistas e veículos de comunicação independentes da Nicarágua vivem situações difíceis para exercer a liberdade de expressão e documentar a crise de violação dos direitos humanos no país”, disse à Diálogo Guillermo Medrano, coordenador de direitos humanos da ONG nicaraguense Fundação Violeta B. de Chamorro. “Existem mídias que são queimadas, fechadas e confiscadas, bem como jornalistas que são exilados, difamados, perseguidos, golpeados, detidos e ameaçados pelo regime sandinista.”
“O aumento do nível de agressões físicas e a impossibilidade de que o cidadão nicaraguense possa se expressar através dos meios de comunicação são preocupantes”, disse à Diálogo Balbina Flores, representante no México da ONG francesa Repórteres sem Fronteiras. “Daniel Ortega tem medo que a grave crise sociopolítica pela qual passa o país seja divulgada, investigada e exibida.”
As maneiras de controlar os comunicadores são diversas. Cada vez aumenta mais o número de veículos de informação que se queixam de assédios por impostos, inspeções trabalhistas e restrições à importação de matéria-prima e equipamentos.
“Ninguém pode nos tirar a liberdade porque ela é inerente ao ser humano e indispensável em nossas vidas. É possível – e é um deleite para as ditaduras – coagir ou submeter as pessoas, mas isso só dura um certo tempo”, publicou a última edição de El Azote.
A repressão por parte do governo fez desaparecer vários programas de televisão e rádio, além do canal de TV 100% Noticias, cujas instalações continuam ocupadas pela polícia. O Estado informou à imprensa que as transmissões desse veículo eram tendenciosas e promoviam violência e ódio.
“A política repressiva do regime totalitário de Ortega também fechou os jornais Metro e O’Hubo”, declarou Medrano. “Apesar da asfixia que Ortega impõe aos meios tradicionais, surgiram mais de 25 mídias alternativas independentes que usam plataformas digitais; 18 delas informam a partir do exílio. As perseguições obrigaram pelo menos 91 profissionais de comunicação a sair do país para proteger suas vidas.”
“Temos que defender a liberdade de imprensa através de alianças com outros jornalistas, veículos de comunicação e organismos internacionais. Quando a democracia começa a se deteriorar em um país, a primeira coisa que começa a ser violada é a liberdade de expressão”, concluiu Flores.