Centenas de cubanos estão sendo recrutados para se juntar à Rússia em sua guerra contra a Ucrânia, motivados pela promessa de recompensas financeiras e cidadania russa oferecida por recrutadores on-line, informou a cadeia de televisão CNN, em 19 de setembro.
Dois jovens cubanos, Alex Vega e Androf Velázquez, foram enganados, pois acreditaram que poderiam obter empregos no setor da construção civil na Rússia; prometeram-lhes passaportes e cidadania russa em troca da participação em projetos de reconstrução em áreas afetadas pela guerra, informou Telemundo 51.
Quando chegaram a Moscou, em 7 de julho, encontraram uma situação diferente: foram recebidos por um oficial militar cubano e uma mulher que os havia recrutado. Eles foram forçados a usar uniformes militares e foram enviados para a frente de batalha.
Centenas de cubanos se viram em uma situação semelhante, alguns perderam a vida, outros desapareceram, informou Telemundo 51.
Bucha de canhão
De acordo com um artigo publicado na revista Time, em 18 de setembro, histórias semelhantes começaram a surgir à medida que cidadãos cubanos recorreram às redes sociais e a programas de entrevistas, em busca de informações sobre seus familiares que viajaram para Moscou e agora estão desaparecidos.
“Eles são destacados para proteger as tropas russas. São bucha de canhão”, disse Cecilia, em uma entrevista à CNN, referindo-se a seu filho Miguel, que está na linha de combate da guerra com a Ucrânia. Miguel alega doença para evitar o combate, mas seus superiores russos não aceitam suas desculpas.
“É incrível que o sistema de inteligência cubano, que monitora até os menores detalhes do que acontece na ilha, não tenha detectado esses recrutamentos, considerando que os jovens estão deixando o país e Cuba mantém registros meticulosos disso”, disse à Diálogo, em 8 de outubro, Jorge Serrano, especialista em segurança e membro da equipe de assessores da Comissão de Inteligência do Congresso do Peru.
Enquanto isso, em maio, vários cubanos na Rússia se uniram ao Exército russo, com a promessa de obter cidadania rápida para os alistados e suas famílias, informou BBC Mundo. Em julho e agosto, Cuba pode ter enviado mais de 14.000 militares para a Rússia, informa a plataforma argentina Infobae.
Mercenários
“Cuba não faz parte do conflito bélico na Ucrânia”, declarou à CNN o Ministério das Relações Exteriores de Cuba em um comunicado. “Agiremos energicamente contra qualquer pessoa que, a partir do território nacional, participe de qualquer forma de tráfico de pessoas, com o objetivo de recrutamento ou mercenarismo, para que os cidadãos cubanos possam usar armas contra qualquer país.”
De acordo com a declaração, o Ministério do Interior de Cuba conseguiu desmantelar uma rede de tráfico de pessoas da Rússia, que estava recrutando cidadãos cubanos para se juntar às forças militares contra a Ucrânia, frustrando várias tentativas de recrutamento e tomando medidas legais contra os envolvidos.
A alegação de que eles descobriram esses traficantes é, de acordo com Serrano, totalmente falsa. “Em Cuba, todos os níveis são estritamente supervisionados pelo serviço secreto cubano, o que torna improvável que essas atividades tenham passado despercebidas pela ditadura.”
Serrano também destacou a longa história de Cuba em conflitos internacionais. Suas tropas estiveram presentes na Ásia, Europa, África e em toda a América Latina. Entre 1975 e 1991, Fidel Castro enviou cerca de 400.000 soldados e oficiais para 14 nações africanas, de acordo com o think tank Cuba Siglo 21, com sede na Espanha. Atualmente, centenas de conselheiros cubanos continuam operando em vários países da América Latina, inclusive na Venezuela.
“O Kremlin aproveita todos os recursos à sua disposição, consolidando laços com a Coreia do Norte, para obter suprimentos e armas. Além disso, o Irã contribui com seus drones de fabricação rápida. Não me surpreenderia que forças do Hezbollah também estivessem envolvidas”, comentou Serrano.
Desde o início da guerra na Ucrânia, Havana tem desempenhado um papel crucial para Moscou em aspectos diplomáticos e de propaganda.
Isso impede que a Rússia enfrente a condenação unânime dos países africanos, árabes e latino-americanos nas Nações Unidas e em outros fóruns internacionais, diz Cuba Siglo 21.
O bispo
Nos últimos meses, Cuba e Rússia consolidaram sua aliança em reuniões de alto nível. “Essa relação está forte e ativa em todas as áreas: econômica, militar e de inteligência”, destacou Serrano. “No entanto, a Rússia desempenha um papel dominante nessa aliança. A dependência de Cuba em relação a Moscou é inegável.”
“O envolvimento de jovens cubanos no conflito ucraniano era previsível”, afirmou Serrano. “Moscou vê Havana como seu principal bispo, um ator-chave que exerce influência sobre a Venezuela, o Fórum de São Paulo e o Grupo de Puebla, colaborando com regimes de esquerda na América Latina. Tudo isso é explorado pelo Kremlin.”
“A Rússia, apesar de suas terríveis violações dos direitos humanos, não se importa de ser acusada de recrutar mercenários cubanos. Suas forças precisam de reforços para recuperar o campo de batalha perdido”, concluiu Serrano.