A maior facção narcotraficante do Brasil, o Primeiro Comando da Capital (PCC), está cada vez mais infiltrada em negócios de mineração ilegal na Amazônia brasileira. “Além do tráfico de drogas, a organização explora casas de prostituição, venda de gasolina, alimentos, bebidas e segurança particular”, revelou a reportagem do portal brasileiro UOL, no início de fevereiro de 2022, baseada em informações de autoridades de segurança pública brasileiras. Segundo a reportagem, essa atuação se concentra principalmente no estado de Roraima, e há integrantes da facção criminosa controlando trechos da terra ianomâmi.
Os mineiros ilegais que falaram com a UOL disseram que hoje ninguém pode cavar ouro na região sem a autorização do PCC. “O PCC está controlando até a subida dos rios, exigindo pedágio. Tem bandido demais”, afirmou um garimpeiro ouvido sob condição de anonimato pela organização do jornalismo investigativo brasileiro Amazônia Real.
Embora o número de membros do PCC envolvidos em mineração ilegal em Roraima seja desconhecido, de acordo com o chefe da Divisão de Inteligência e Captura do sistema prisional de Roraima, Subtenente Roney Cruz, cerca de 25 foragidos de penitenciárias do estado e ligados ao PCC estão em garimpos ao longo do rio Uraricoera, que corre ao norte do estado até perto da fronteira com a Venezuela.
Expansão para as áreas de mineração
O envolvimento da facção criminosa com o garimpo tornou-se mais evidente a partir de 2018, quando uma série de rebeliões dentro das cadeias de Roraima, lideradas pelo PCC, resultaram na fuga de dezenas de presos que buscaram refúgio em minas ilegais, dizem vários sites de notícias. Segundo o Amazônia Real, escutas telefônicas realizadas durante a Operação Érebo da Polícia Federal (PF), em 2018, captaram diálogos de um membro do PCC que descreveu a expansão da organização criminosa para as áreas de mineração.
“Para o criminoso, o ouro ilegal é a melhor forma de lavar dinheiro no Brasil”, disse o procurador do Ministério Público, Paulo de Tarso Moreira Oliveira, ao jornal brasileiro O Globo. “O fato de o PCC estar operando em minas é um processo natural; e não apenas o PCC, mas qualquer organização que lide com dinheiro criminoso.”
Além disso, o aumento do preço do ouro tornou-se um atrativo. No ano 2000, a onça do ouro custava US$ 400 e passou para US$ 1.800 em 2022. Hoje, o Brasil está entre os 10 maiores exportadores de ouro do mundo, como afirma o site internacional de notícias Mongabay, mas parte desse minério vem das mais de 320 minas ilegais em operação no país, dentro das quais está infiltrado o crime organizado.
Violência
Segundo a ONG brasileira Instituto Socioambiental (ISA), que atua em prol do meio ambiente e dos direitos indígenas, em 2020, cerca de 2.400 hectares de floresta da terra indígena ianomâmi, uma área equivalente a 500 campos de futebol, foram destruídos pela mineração ilegal. E a extração do ouro não apenas acelera o desmatamento, mas também alimenta a violência.
“Diariamente, os ianomâmis sofrem intimidações. É muito assédio, como ameaças de morte, gritos, mostrando armas, disparando bombas”, afirmou o representante ianomâmi, Dário Kopenawa, ao ISA. Em maio de 2021, por exemplo, mineiros ilegais, que se acredita estarem ligados a organizações criminosas, abriram fogo sobre uma comunidade indígena ianomâmi usando armas automáticas, disseram os líderes locais à BBC.
Medidas estão sendo tomadas para combater os problemas relacionados à mineração ilegal. Além de operações de investigação da PF para fechar locais ilegais, o Ministério Público Federal recomendou, em 2020, uma série de medidas aos órgãos legais de controle, a fim de que seja criado um sistema de certificação e aumentar a rastreabilidade do ouro brasileiro.