O Exército do Chile participa há 16 anos de um programa de intercâmbio com a 82ª Divisão Aerotransportada e as Forças de Operações Especiais do Exército dos EUA, localizadas em Fort Bragg, Carolina do Norte, enviando um oficial para trabalhar e treinar com a lendária divisão aerotransportada.
Servindo atualmente por um período de dois anos na diretoria de Operações Futuras da 82ª Divisão Aerotransportada, o Tenente-Coronel Alberto Mallea é o oitavo oficial chileno a ocupar o cargo e seu período termina em dezembro de 2021. Antes de chegar à 82ª Divisão, o Ten Cel Mallea comandou seu batalhão aerotransportado no Exército do Chile após um curso de três anos na Escola de Guerra do Exército, em Santiago. Junto com o Ten Cel Mallea, participam do programa de intercâmbio oficiais das nações parceiras do Brasil, Canadá, Alemanha, Holanda e Reino Unido. O homólogo dos EUA do Ten Cel Mallea é um oficial da 82ª Divisão Aerotransportada, que serve atualmente como instrutor estrangeiro na Escola de Guerra do Exército do Chile.
Ao longo de sua carreira de 24 anos no Exército, o Ten Cel Mallea já serviu em diversas partes do mundo em operações de manutenção da paz. Ele também está familiarizado com os Estados Unidos, onde fez o Curso de Carreira de Capitão de Manobras, em Fort Benning, durante sete meses, frequentou um seminário de liderança em Fort Leavenworth e liderou um esquadrão de nove membros das Forças Armadas do Chile, que participou da Competição Sandhurst, em West Point.
Enquanto se prepara para voltar ao Chile, onde se reportará à sede da brigada de Operações Especiais, o Ten Cel Mallea conversou com Diálogo e teceu considerações sobre seu período em Fort Bragg e sobre o que ele espera implementar no seu próximo posto.
Diálogo: O senhor veio de uma família militar, onde seu pai e também seu irmão serviram na Força Aérea do Chile, mas o senhor entrou para o Exército. Por que?
Tenente-Coronel Alberto Mallea, do Exército do Chile: Desde pequeno, eu gostava dos comandos, então quando disse a meu pai que gostaria de me tornar um deles, ele disse que eu precisaria entrar para o Exército, e foi o que eu fiz.
Diálogo: Como a sua experiência anterior o preparou para essa função na 82ª Divisão? O senhor acha que atingiu os objetivos que havia estabelecido?
Ten Cel Mallea: Foi uma oportunidade que eu não poderia deixar passar. Minha experiência não apenas no comando de um batalhão aerotransportado, mas também como mestre de saltos, junto com minha formação na Escola de Guerra, bem como meu forte domínio do inglês, me prepararam para a função. Quanto aos meus objetivos, acho que consegui atingi-los. O primeiro foi tentar contribuir o máximo possível com a tarefa da 82ª [Divisão], realizando todo o planejamento e a coordenação de todos os seus exercícios e atividades, ao trazer do meu país uma perspectiva e uma abordagem doutrinária diferentes. O seguinte foi adquirir essas experiências aprendidas, para mais tarde levá-las de volta ao meu país e implementá-las em algumas das atividades que realizamos. E, por último, fortalecer os laços de cooperação e amizade entre o Exército do Chile e os Estados Unidos. Esse programa está em andamento há muito tempo; eu sou o oitavo oficial em um rodízio de dois anos, o que já contabiliza 16 anos, e seguimos contando. O Chile tem um batalhão aerotransportado que faz parte de uma brigada de Operações Especiais, portanto, também é uma experiência importante que pode ser levada de volta para meu país.
Diálogo: O senhor trabalha atualmente na G-35 de Operações Futuras da 82ª Divisão. Poderia falar sobre sua rotina diária e quais são algumas das lições aprendidas que o senhor gostaria de implementar no seu próximo comando no Chile?
Ten Cel Mallea: Minha função é ajudar a administrar, apoiar e certificar todo o treinamento da 82ª [Divisão] para que eles possam ser implementados rapidamente em qualquer cenário, seja ele por terra, água, ar ou até mesmo cibernético. Normalmente, chego aqui às 5h30 e faço login no meu computador para me atualizar sobre tudo antes de sair para fazer o PT [treinamento físico], das 6h30 às 8h. Estou de volta ao escritório por volta das 9h e começo a trabalhar, participando de diversas reuniões, trabalhando com pessoas de diferentes seções e brigadas, o que me possibilita adquirir um profundo grau de conhecimento da organização, e isso é muito importante para avaliar a experiência que poderei levar de volta ao Chile.
Uma das características da 82ª [Divisão] é seu alto nível de prontidão operacional, o que lhe possibilita o destacamento em qualquer lugar com pouco tempo de antecedência. E, para nós, todas as experiências relacionadas a isso são muito importantes, porque nos permitem melhorar nossas capacidades de destacamento no Chile, principalmente considerando que recentemente o mundo inteiro vem sendo seriamente afetado por desastres naturais. Tivemos muitos terremotos e alguns incêndios, e o Exército do Chile é uma ferramenta que nosso país deve ser capaz de destacar rapidamente em auxílio aos nossos compatriotas. Levar essa experiência da 82ª [Divisão] para casa, sua capacidade de rápido destacamento e seu treinamento de prontidão é algo que poderemos utilizar para fortalecer o que temos, que funciona muito bem, mas sempre há maneiras de melhorar.
Diálogo: Trabalhando com a 82ª Divisão, o senhor tem acesso a algumas das mais recentes tecnologias e inovações para o combatente. Poderia falar a esse respeito?
Ten Cel Mallea: Bem, essa é outra das grandes oportunidades que se tem em uma unidade como a 82ª [Divisão], que tem um alto nível de prontidão operacional. Seus integrantes podem ser destacados a qualquer momento e, por isso, eles dedicam uma parte importante dos seus esforços para testar novas tecnologias e ver como elas poderão ser aplicadas amanhã. Nesse sentido, pude trabalhar com diferentes recursos, com VANTs [veículos aéreos não tripulados], bem como com inteligência artificial, que permite processar dados muito mais rapidamente para agilizar os processos de tomada de decisões. Uma dessas tecnologias é um visor integrado ao capacete do soldado com um computador e uma tela OLED [diodo orgânico emissor de luz] que fornece diversas informações, desde mapas digitais e localização das tropas até medições à distância.
Diálogo: Esse é um programa de intercâmbio. A diversidade de oficiais das nações parceiras que trabalham na divisão possibilita diferentes perspectivas para o planejamento das operações, o que permite que todos os lados aprendam uns com os outros. Como o Chile se beneficia com esse programa?
Ten Cel Mallea: [Esse programa] tem um grande benefício, porque permite o fortalecimento dos vínculos. Ele permite a interoperabilidade e permite compartilhar experiências e trabalhar com pessoas de outros países. Aprendemos uns com os outros e podemos oferecer mutuamente nossa perspectiva única sobre como alcançar uma solução.
Diálogo: Quando seu período na 82ª Divisão terminar, quais serão as suas lembranças mais queridas por ter trabalhado com os homens e mulheres daqui?
Ten Cel Mallea: A coisa mais importante, a meu ver, é o companheirismo, os amigos que fiz, pessoal e profissionalmente, que serão parte das lembranças mais importantes que levarei comigo. A experiência de planejar os exercícios de treinamento e vê-los realizados [também é muito importante].
O Chile tem um batalhão aerotransportado, mas não temos uma brigada aerotransportada. Ter a oportunidade de participar de um exercício que envolve 4.000 militares em operações dessa magnitude é muito gratificante, como também vê-los nascer de uma ideia que gradualmente se realiza através de reuniões e muito trabalho, até que sejam executados efetivamente, e ver que o que se visualiza entra em vigor, acho que é uma alegria imensa e algo que levarei de volta ao Chile com muito carinho.
Diálogo: O senhor fez inúmeros saltos com a 82ª Divisão durante o tempo que passou aqui, mas ainda falta um último salto a ser realizado no Alasca, não?
Ten Cel Mallea: Tive a oportunidade de participar de muitos saltos, em várias operações aerotransportadas, com várias unidades. Por ser um mestre de saltos e ter participado desses exercícios, pude premiar os soldados com o distintivo Asas do Chile, o que para nós é motivo de grande orgulho poder disseminar a cultura dos paraquedistas chilenos internacionalmente. Sempre que realizei um salto com outros envolvidos no exercício, tive a honra de entregar esse distintivo. E sim, ainda tenho mais um último salto. Fui convidado a participar de um exercício aerotransportado no Alasca em dezembro [de 2021], e será uma excelente oportunidade de conhecer o Alasca e poder compartilhar com aqueles soldados que treinam em um terreno tão difícil e inóspito como o Alasca. Estou muito ansioso por isso.