A desorientação espacial é um problema que tem preocupado a indústria da aviação há décadas, devido à qual os pilotos podem chegar a perder o controle e cair. Desde o início da aviação, o fenômeno já causou milhares de mortes.
“Os pilotos que sobrevoam o mar experimentam esta sensação por causa das condições meteorológicas marinhas; o mar e o céu se confundem no horizonte e torna-se difícil identificar onde um termina e o outro começa”, disse à Diálogo o Capitão de Fragata Alberto Fierro Monje, da Marinha da Colômbia, diretor da Escola de Aviação Naval (ESCAN) da Marinha da Colômbia. “Uma vez que você não tem referências em terra, você perde essa orientação, então o que você tem que fazer naquele momento é continuar a acreditar nos instrumentos de voo.”
Assim, com o objetivo de treinar pilotos para tomar consciência da desorientação espacial, dos cenários que induzem à desorientação espacial e das técnicas de recuperação, os graduados da Escola Naval de Cadetes Almirante Padilla (ENAP) tiveram a ideia de criar um protótipo de treinador de voo, também conhecido como um dispositivo de treinamento de voo (FTD).
“Em primeiro lugar, optamos pela cadeira de Barany, que é uma cadeira com movimento; é básica, o que permite dar a entender de uma forma muito direta o que é a desorientação”, explicou à Diálogo o 2º Tenente Mateo Posso Marín, da Marinha da Colômbia, que com o 2º Tenente Willian Roncallo construiu o protótipo do FTD. “Mas está limitada a realizar apenas um tipo de amostra, por isso foi decidido projetar ou criar um simulador que tivesse capacidade de pitch and roll [inclinação e rotação], que pudesse se interligar com um simulador de voo existente e que também pudesse funcionar com óculos de realidade virtual; e a isso também se soma o movimento de uma plataforma, que com um sistema pneumático assimilará os mesmos movimentos que uma aeronave está fazendo.”
Este protótipo integra software de simulação e instrumentos, como sensores, óculos de realidade virtual e joystick de jogos de vídeo, que estão ligados em um sistema eletrônico com a cadeira projetada pelos graduados, na qual os movimentos de inclinação e rotação podem ser realizados com diferentes intensidades, gerenciando uma inclinação de até 30 graus, disse a Marinha em um comunicado. O protótipo será entregue à ESCAN para apoiar os processos de capacitação dos pilotos e, como o projeto é compacto, ele pode ser transportado para as diferentes áreas onde a instituição naval o requer.
“A novidade ou característica especial deste projeto desenvolvido pelos oficiais da Escola Naval de Cadetes é o uso de óculos de realidade virtual”, disse o CF Fierro. “Atualmente, nossa Escola de Aviação Naval possui alguns dispositivos, com alguns treinadores de voo, amplamente utilizados em todo o mundo, mas o que mais se destaca desta iniciativa dos oficiais são os óculos de realidade virtual, o que melhora muito algumas características de simulação, no sentido de que para onde quer que eu olhe, esquerda, direita, sentirei um pouco mais de realismo, está mais próximo do que você normalmente vê quando está voando; por isso, esta é a grande vantagem deste dispositivo.”
Uma vez que o FTD seja transferido para a ESCAN, ele será usado para praticar procedimentos de voo sob as regras de voo por instrumentos, explicou o CF Fierro. “Certamente pode contribuir para o treinamento de toda a Força Pública colombiana e, por que não, das forças militares dos países aliados; seria feito de acordo com suas necessidades, dependendo se eles têm ou não dispositivos semelhantes para seu treinamento”, disse o CF Fierro. “Através do programa USCAP [Plano de Ação Conjunta de Segurança Regional], a ESCAN já está fornecendo treinamento aos países membros nos diferentes programas que temos disponíveis, aproveitando as capacidades do nosso Centro de Treinamento e Simulação de Emergências Aeromarítimas – CESEA.”