A luta contra as drogas sintéticas que estão causando estragos em todo o mundo tem um novo capítulo. Cerca de 90 países agora fazem parte da Coalizão Global contra a Ameaça das Drogas Sintéticas. A China desempenha um papel preponderante na venda de precursores usados na fabricação comercial desses narcóticos, que são enviados para todo o mundo, inclusive para a América Latina.
O fornecimento de drogas ilícitas está crescendo e registra números sem precedentes, com as redes de narcotráfico tornando-se cada vez mais ágeis. Isso está exacerbando as crises globais convergentes e desafiando os serviços de saúde e as respostas das forças de segurança, segundo o último Relatório Mundial sobre Drogas 2023, lançado no final de junho pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC).
“Estamos observando um aumento constante no número de pessoas que sofrem de transtornos relacionados às drogas em todo o mundo, enquanto os tratamentos não estão chegando a todos aqueles que precisam dele”, disse Ghada Waly, diretora executiva do UNODC. “Precisamos intensificar as respostas contra as redes de traficantes que se aproveitam de conflitos e crises globais para expandir o cultivo e a produção de drogas ilícitas, especialmente as sintéticas.”
Por isso, a Coalizão Global, uma iniciativa dos EUA, é uma notícia bem-vinda. Seu objetivo é unir as nações para combater a fabricação ilícita e o tráfico de tais substâncias, disse Todd D. Robinson, subsecretário do Escritório de Assuntos Internacionais de Narcóticos e Aplicação da Lei, do Departamento de Estado dos EUA. O grupo formará uma parceria de 12 a 18 meses, na qual os países alocarão recursos para combater o tráfico, a produção e a venda, de acordo com as prioridades e os recursos nacionais, informou A Voz da América.
A China, um dos países mais amplamente identificados pelos especialistas como fonte de precursores para a fabricação de drogas sintéticas, prefere ficar de fora da parceria.
“Convidamos a China, mas não temos nenhuma indicação de que ela participará”, disse Robinson na véspera da reunião da Coalizão Global, liderada em julho pelo secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, na qual a China acabou não comparecendo. “[Queremos] envolver outros países em seus esforços contra a cadeia de suprimentos e parte de sua responsabilidade será comprometer-se com a República Popular da China.”
“A China há muito tempo [exporta] precursores químicos para drogas sintéticas de forma muito agressiva. Participar dessa coalizão significa reconhecer a responsabilidade, pelo menos a moral, nessa crise”, disse à Diálogo Douglas Farah, presidente da IBI Consultants, uma empresa norte-americana de investigação e análise de ameaças na América Latina, em 19 de agosto. “Até onde podemos ver, a China não está fazendo o menor esforço para oferecer uma solução.”
Entre os narcóticos com maior presença no tráfico mundial estão o tramadol, a metanfetamina, o captagon, a cetamina e o fentanil. A China é um importante produtor dos químicos para a fabricação desse último, que são frequentemente contrabandeados para os Estados Unidos e o México, informa a Reuters. “A China não ajuda a tomar medidas enérgicas contra o fluxo de precursores químicos de fentanil ou a lavagem de dinheiro associada a esse tráfico”, acrescentou.
Recentemente, o Departamento de Justiça dos EUA apresentou três acusações contra quatro empresas chinesas por contrabando de precursores químicos. Em resposta, Ken Salazar, embaixador dos EUA no México, disse à Voz da América que a China tem uma grande responsabilidade para fazer parte da solução.
“A apreensão de 200 quilos de precursores [dessas empresas] impediu a fabricação de cerca de 55 kg de fentanil, o suficiente para matar 25 milhões de pessoas – toda a população do estado de Nova York ou do estado do México –”, disse Salazar à Voz da América, para representar graficamente o dano potencial. “Essa é a potência do veneno que veio dessas empresas chinesas.”
A acusação contra essas empresas foi apresentada no Distrito Sul de Nova York. Seus principais executivos e dois funcionários dessas empresas também foram indiciados por “seu papel na conspiração internacional de tráfico de fentanil”. Dois deles estão sob custódia, informou Infobae.
“Devemos continuar a buscar um entendimento com a China e incrementar a fiscalização nos portos controlados por eles, de onde saem esses precursores químicos”, disse Farah. “Quase todos os maiores portos da América Latina têm uma forte presença chinesa. Eles têm acesso direto a mais de 40 portos, com controle total ou com docas onde têm autonomia. O controle do que sai deles é fundamental.”
“As drogas podem ser produzidas em um país, comercializadas em outro, os lucros podem ser obtidos em um terceiro país, enquanto os líderes criminosos podem estar em outro”, disse à Diálogo o Comissário Patricio Navarro, chefe da Brigada de Investigação de Substâncias Químicas Controladas da Polícia de Investigação do Chile. “Portanto, um país sozinho não vai superar o problema do narcotráfico, mas unidos isto é possível. A cooperação internacional das instituições policiais é fundamental na luta contra o narcotráfico e as organizações internacionais envolvidas.”