A demanda incontrolável da China por algas pardas está causando a superexploração desse recurso vital no Chile e no Peru, destruindo as florestas de algas da região, afirmou em maio o portal de jornalismo científico Histórias sem Fronteiras, em seu relatório Desmatamento de florestas aquáticas.
As algas são os pulmões marinhos do planeta. “Sessenta por cento do oxigênio gerado no planeta vem das algas marinhas”, informou à Diálogo Paul Baltazar, chefe do Laboratório de Pesquisa de Culturas Marinhas da Universidade Científica do Sul, no Peru, em 30 de junho. “Sua superexploração causa uma drástica diminuição de frutos do mar e peixes em nossas mesas. Essas plantas mantêm a biodiversidade das espécies aquáticas e atuam como fertilizantes.”
As florestas subaquáticas “são os berçários de peixes, moluscos e crustáceos, bem como de um dos principais sumidouros de carbono do mundo”, afirmou o jornal colombiano El Tiempo, em 11 de junho.
Noventa e oito por cento das algas marinhas retiradas do Peru são exportadas para a China. O interesse nas algas marinhas está em seu alto teor de alginato, que é usado na indústria de alimentos e cosméticos. As principais regiões onde ocorre a extração descontrolada de algas marinhas são Ica e Arequipa, de acordo com a plataforma mexicana Aristegui Noticias.
O aumento das exportações pode ser atribuído a dois fatores. O primeiro é a disposição dos produtores de algas (coletores) para colher a maior quantidade possível de algas marinhas, desde que o preço seja lucrativo. O segundo são as empresas encarregadas de processar e exportar as algas, independentemente de serem provenientes de fontes legais ou ilegais, acrescentou.
Fome para o futuro
Essa expansão levou a um aumento no número de empresas especializadas em coleta, secagem e corte de algas marinhas. Em 2002, havia dois grandes exportadores, mas em 2005 havia mais de 10. Em 2023, existem mais de 176 empresas.
Os principais promotores da extração de algas marinhas são as indústrias de propriedade chinesa. “Elas não são empresas transparentes; contratam muitos produtores e coletores de algas para extrair o recurso”, disse Baltazar. “Quando chegarmos à superexploração, os chineses irão embora, se mudarão para outro lugar, e nós ficaremos com fome [e sem oxigênio] para o futuro.”
Práticas questionáveis
De acordo com Aristegui Noticias, os principais exportadores de algas marinhas são Algas Sudamérica SAC e Globe Seaweed International SAC. Essas duas empresas de propriedade chinesa representam dois terços do mercado peruano, embora nenhuma delas tenha registrado suas fábricas pesqueiras no Ministério da Produção (Produce) do Peru.
Globe Seaweed, a mais ativa, está envolvida em práticas questionáveis. Desde o início de suas operações, em 2005, ela enviou mais de 191.000 toneladas de algas marinhas para a China e está sujeita a sete sanções impostas por Produce, informa Historias Sin Fronteras.
As sanções se referem à comunicação de informações falsas ou incompletas sobre suas operações, à obstrução do trabalho dos inspetores, à realização de atividades de pesca sem autorização e ao processamento de algas marinhas sem certificados de procedência, afirma.
Uma dessas práticas irregulares ocorreu em 2016. As autoridades fiscais apreenderam 34 contêineres cheios de algas marinhas, que estavam prestes a ser embarcados em navios para sua exportação. No mesmo ano, o governo interveio novamente nos armazéns da empresa, apreendendo 13 toneladas que não tinham certificados de procedência.
“A corrupção é terrível e, no final, nos leva ao colapso”, disse Baltazar. “Estamos enfrentando uma concorrência desleal para as organizações sociais dedicadas à coleta passiva de macroalgas pardas. Elas sim respeitam as regras, sabem que, se explorarem demais o recurso, terão dificuldades.”
O negócio de algas marinhas não parou no Peru desde os primeiros anos de 2000, tornando-o o segundo maior exportador desse produto na América Latina, atrás apenas do Chile, descreve Historias Sin Fronteras.
O Chile, que está entre os dez principais países exportadores de algas marinhas, colhe cerca de 300.000 toneladas de algas huiro por ano. Noventa por cento da planta é enviada seca e cortada para a China, indica Historias Sin Fronteras.
Nos últimos anos, as apreensões de algas marinhas colhidas ilegalmente aumentaram significativamente. Enquanto que em 2020 foram apreendidas 467 toneladas, em 2022 foram apreendidas 531 toneladas, afirma.
Reduzindo a pressão
“Temos pacotes completos para desenvolver [legalmente] o cultivo de algas marinhas”, disse Baltazar, que esteve envolvido na criação do Sistema de Amarrado de Algas, para ter unidades de cultivo de algas marinhas prontas para serem plantadas no mar. “Devemos incentivar as comunidades para que desenvolvam essa atividade, para reduzir a pressão da extração ilegal de algas marinhas.”
Ele também disse que estão procurando conversar com empresas, incluindo as chinesas, para instalar linhas de cultivo industrializadas e permitir que elas rastreiem e monitorem para obter informações e transformá-las em estatísticas de controle.
“Qualquer empresa que se envolva em exploração excessiva de algas marinhas ou compradores que incentivem práticas ilegais devem ser condenados por não implementarem regras adequadas para a extração de algas pardas”, concluiu Baltazar.