O Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil (CCOPAB) é reconhecido mundialmente por sua excelência no treinamento de militares brasileiros e estrangeiros que participam de missões de paz das Nações Unidas pelo mundo. No entanto, O CCOPAB também oferece cursos (chamados de estágios) para civis de diversas áreas, entre o quais, o Estágio para Jornalistas e Assessores de Imprensa em Áreas de Conflito, realizado entre 4 e 8 de julho na sede do centro e unidades militares das adjacências da Vila Militar, em Deodoro, no Rio de Janeiro. O jornalista da Diálogo, Marcos Ommati, aproveitou sua participação no estágio para conversar com o comandante do CCOPAB, o Coronel Carlos Alberto Moutinho Vaz, do Exército Brasileiro.
Diálogo: O que as Forças Armadas do Brasil ganham com a realização desse estágio e como é feita a seleção dos estagiários?
Coronel Carlos Alberto Moutinho Vaz, do Exército Brasileiro: O maior ganho é o aumento do conhecimento dos jornalistas e assessores de imprensa sobre a missão e as formas de atuação das Forças Armadas, facilitando o entendimento e proporcionando uma cobertura mais precisa dos eventos a elas relacionados. Destaco também a familiarização dos estagiários com a temática da participação brasileira em missões de paz e de desminagem humanitária, bem como a participação do CCOPAB na capacitação de pessoal para estas missões.
A seleção é feita pelo Comando de Operações Terrestres (COTER), ouvido o Centro de Comunicação Social do Exército (CCOMSEx), que é o órgão central do sistema de Comunicação Social do Exército Brasileiro. Ela se baseia na solicitação de órgãos de imprensa e em sugestões recebidas dos oito Comandos Militares de Área, localizados em diferentes regiões do Brasil. Cada Comando mantém um relacionamento com órgãos de imprensa em suas respectivas áreas e faz as sugestões procurando observar a diversidade dos veículos a serem atendidos. O CCOMSEx procura, na seleção final, priorizar a diversidade geográfica e a representatividade dos meios de comunicação.
Diálogo: Com o fim da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (MINUSTAH) e a diminuição de missões de paz da ONU, de um modo geral, por que o CCOPAB ainda é relevante?
Cel Vaz: Mesmo com a diminuição dos efetivos militares brasileiros em missões de paz, após a saída das unidades brasileiras da MINUSTAH e também da UNIFIL [missão de paz da ONU no Líbano], o Brasil ainda mantém uma participação qualitativa muito relevante, com militares e policiais em missões individuais, tais como observadores militares, oficiais de estado-maior e policiais das Nações Unidas. Além disso, o Brasil tem desdobrado militares em posições de liderança, tais como o atual Comandante do Componente Militar (Force Commander) da MONUSCO (República Democrática do Congo) e o Chefe do Estado-Maior do Componente Militar (Force Chief of Staff) da UNMISS (Sudão do Sul). Destaca-se, ainda, a presença de uma Equipe de Treinamento de Guerra na Selva brasileira na MONUSCO, que vem realizando um excelente trabalho na capacitação de militares da própria missão, além das forças armadas locais. O CCOPAB tem um papel fundamental na preparação de todos estes militares e policiais que desempenharão estas funções.
Além das missões individuais, o Brasil participa do Sistema de Prontidão das Capacidades de Manutenção de Paz das Nações Unidas (UNPCRS), por meio do qual o país assumiu o compromisso de manter unidades militares capacitadas para atuação em missões de paz. O CCOPAB realiza, anualmente, o preparo e a certificação de unidades registradas no UNPCRS, a fim de assegurar o cumprimento do compromisso brasileiro junto à ONU.
Cabe destacar, ainda, o papel do CCOPAB na capacitação de civis para atuação em ambientes instáveis e áreas de conflito. Neste contexto, o CCOPAB já capacitou centenas de jornalistas, assessores de imprensa, funcionários de agências da ONU e representantes de diversas outras áreas de atuação, contribuindo para a segurança destes profissionais, quando atuando em ambientes de risco.
Diálogo: O que diferencia o CCOPAB de outros centros de treinamento para missões de paz, na região?
Cel Vaz: Primeiramente, cabe ressaltar que o CCOPAB já recebeu cinco certificações de treinamento do Departamento de Operações de Paz da ONU, após um rigoroso processo de avaliação de cada um dos cursos e estágios certificados. Isso demonstra a capacidade técnica do CCOPAB e reforça a reputação do Centro como uma referência internacional em sua área de atuação.
Destaco, ainda, a grande inserção internacional do CCOPAB, com a presença permanente de instrutores e alunos estrangeiros e com o envio frequente de instrutores e de equipes móveis de treinamento a outros países, a fim de conduzir atividades de capacitação.
Acrescento também a ampla gama de cursos, estágios e outros programas de treinamento conduzidos pelo CCOPAB, voltados a militares, policiais e civis, brasileiros e estrangeiros. Para ser ter uma ideia do volume dos efetivos capacitados pelo Centro, no ano de 2021, foram cerca de 3.000 pessoas treinadas pelo CCOPAB.
Diálogo: O CCOPAB tem acordos/trabalha em conjunto/realiza intercâmbios com suas instituições pares? É comum estrangeiros treinarem no CCOPAB?
Cel Vaz: Sim, o CCOPAB é membro pleno da Associação Latino-Americana de Centros de Treinamento para Operações de Paz (ALCOPAZ) e da Associação Internacional de Centros de Treinamento para Operações de Paz (IAPTC). Com isso, o Centro participa de várias iniciativas de integração, com destaque para o intercâmbio de instrutores, os debates sobre aspectos doutrinários relativos às missões de paz e os seminários temáticos. Em 2022, há a previsão dos encontros anuais da ALCOPAZ, na Argentina, e da IAPTC, em Bangladesh, onde o CCOPAB deverá participar e realizar apresentações temáticas.
É comum a presença de estrangeiros, como instrutores convidados e como alunos dos programas de treinamento do CCOPAB. No ano de 2022, com a melhoria da situação da pandemia da COVID-19, este intercâmbio tem se intensificado ainda mais e o CCOPAB deverá receber um número ainda maior de alunos estrangeiros em seus cursos e estágios.
Diálogo: O senhor ainda está em seu primeiro ano de comando, mas já poderia apontar alguma lição aprendida? Que legado pretende deixar para seu sucessor?
Cel Vaz: A maior lição aprendida é a importância da integração para o sucesso do CCOPAB. Internamente, o CCOPAB conta com uma equipe de profissionais de excelência, composta por militares das três Forças Armadas brasileiras, além de militares estrangeiros como instrutores permanentes e de pesquisadores da Rede Brasileira de Pesquisa sobre Operações de Paz (REBRAPAZ). Externamente, o CCOPAB mantém uma relação próxima com pessoas e instituições, no Brasil e no exterior, de reputação consagrada e sólido conhecimento sobre as temáticas das missões de paz e da desminagem humanitária. Isso permite ao CCOPAB se manter na vanguarda do conhecimento em suas áreas de atuação.
Como legado, trabalharei para que o CCOPAB mantenha sua reputação de ser uma referência internacional na capacitação de pessoas para missões de paz e de desminagem humanitária. Para isso, nossa equipe prosseguirá se empenhando diuturnamente para oferecer programas de treinamento de excelência, ancorados em conceitos doutrinários sólidos e atualizados, contando com as mais modernas tecnologias e metodologias de educação.