Nas últimas semanas, as Forças Armadas do Brasil deram passos históricos para a inclusão das mulheres em seus setores operativos. Uma das novidades vem do Exército Brasileiro: pela primeira vez na história, o Curso de Pilotos de Aeronaves e o Curso de Gerência de Manutenção de Aeronaves do Exército terão alunas mulheres.
“A diversidade de gênero traz uma variedade de perspectivas e abordagens, enriquecendo a tomada de decisões e a resolução de problemas. As mulheres possuem habilidades de comunicação, empatia e multitarefa que são valiosas em operações complexas, características essenciais nas áreas de pilotagem e gerência”, disse à Diálogo o Tenente-Coronel Eduardo Antonio Ferreira, subcomandante do Centro de Instrução de Aviação do Exército.
Segundo o Ten Cel Eduardo Ferreira, a representatividade feminina na liderança de linhas de manutenção, suprimento e aviônicos não apenas quebra estereótipos, mas também inspira outras mulheres a seguir carreiras técnicas e estratégicas nas Forças Armadas. “Isso cria um ambiente mais inclusivo, motivador e adaptável às demandas contemporâneas, fortalecendo a capacidade das Forças Armadas de enfrentar os desafios presentes e futuros”, afirmou.
O Curso de Pilotos dura 63 semanas, com disciplinas que incluem Teoria do Voo de Helicóptero, Manobras de Pilotagem e Navegação Aérea, Armamento, Munição e Tiro, informou o Exército Brasileiro em um comunicado. Já o Curso de Gerência de Manutenção de Aeronaves dura 38 semanas e habilita os militares para o desempenho de cargos e funções ligadas ao suprimento e ao transporte por meios aéreos e à administração financeira e de material.
“Desde o primeiro contato com a Aviação, durante a formação na Academia Militar, vi a Aviação como uma vertente muito diferente, interessante e importante do Exército”, disse a 1º Tenente Andrielly Mostavenco Gomes, aluna do Curso de Gerência de Manutenção de Aeronaves do Exército, em nota divulgada pelo Comando de Aviação do Exército.
“Sem manutenção, as coisas não andam. Poder ajudar a gerenciar a manutenção, fazer uma administração para deixar as aeronaves prontas para o voo e cumprir missões em todo o país é motivo de muita satisfação”, completou a 1º Ten Mostavenco.
O Ten Cel Eduardo Ferreira destacou que “a presença feminina nesses cursos não apenas enriquece as Forças Armadas com talentos diversos, mas também reforça o compromisso com a justiça e a meritocracia, contribuindo para uma instituição mais forte e representativa”.
Marinha do Brasil
A Marinha do Brasil também aumentou a inclusão feminina. Em 19 de fevereiro, teve início a primeira turma com mulheres no Curso de Soldados Fuzileiros Navais. “Dos 720 jovens que iniciam o período de adaptação no Curso de Formação de Soldados Fuzileiros Navais neste ano, 120 são do sexo feminino”, informou a Agência Marinha de Notícias.
Além disso, em fevereiro, o Centro de Operações de Paz de Caráter Naval, da Marinha do Brasil, enviou ao México uma Equipe Móvel de Treinamento composta por três capitãs de mar e guerra para conduzir o Curso de Conselheira de Gênero. “A formação visa preparar militares que atuarão como conselheiras ou pontos focais de gênero em operações de paz da Organização das Nações Unidas (ONU)”, afirmou a Agência Marinha de Notícias.
Programa WPS
A iniciativa das Forças Armadas do Brasil está em linha com o programa Mulheres, Paz e Segurança (WPS), como parte de um esforço global para apoiar as contribuições das mulheres nos setores de defesa e segurança. O programa segue as diretrizes da Resolução 1325 do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Adotada por unanimidade em 2000, a resolução estabeleceu a participação plena e igualitária das mulheres na resolução de conflitos, consolidação e manutenção da paz, resposta humanitária e resolução pós-conflito.
Em 2015, o Conselho de Segurança aprovou a Resolução 2242, que recomendou aos Estados membros da ONU a elaboração de estratégias nacionais de implementação doméstica da agenda WPS.
Atendendo ao chamado da ONU, o Brasil lançou em 2017 o I Plano Nacional de Ação (PNA) sobre WPS. “Ao adotar o PNA, o governo brasileiro reafirmou seu compromisso com o papel das mulheres na promoção da paz e da segurança internacionais, bem como com a proteção e o empoderamento de todas as mulheres e meninas”, afirmou o governo brasileiro em um comunicado em 2022.
Em 2023, o Brasil deu outro passo com o lançamento do II PNA sobre WPS, que prevê objetivos não só para a política exterior brasileira, mas também para políticas públicas domésticas.
“O Brasil alinha-se com o entendimento consagrado nas Nações Unidas – corroborado por evidências – de que a inclusão das mulheres em todas as esferas dos processos de prevenção e solução de conflitos, bem como de manutenção e consolidação da paz, amplia a sustentabilidade dos processos de paz”, diz o documento.