Diálogo: Quais os principais desafios de ser a primeira mulher chefe de operações do GEIV?
Major Aviadora Fernanda Kozlowski Görtz, da FAB: Sou responsável pela gestão e pelo acompanhamento da progressão operacional dos pilotos do esquadrão. Gerenciar pessoas por si só já é um desafio; no meu caso, acaba sendo um pouco mais difícil, por se tratar de um ambiente tipicamente masculino, mas aos poucos as mulheres vão ganhando espaço e aumentando a sua participação no meio militar. Vemos um número crescente de mulheres ingressando nas Forças Armadas nos últimos anos, o que é muito bom. Ser chefe do Setor de Operações é o sonho da maioria dos aviadores; eu estou muito feliz por estar aqui hoje, voando em uma unidade aérea tão especializada como o GEIV. É especialmente bom trabalhar com os pilotos, que são pessoas muito bem treinadas e que gostam do que fazem. Só tenho a agradecer essa oportunidade que a FAB me deu.

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Diálogo: A senhora é a única mulher a exercer a função de chefe de operações de uma unidade operacional na FAB?
Maj Fernanda Görtz: Atualmente, uma outra oficial, a Major Aviadora Joyce Conceição de Souza, também da primeira turma de mulheres pilotos da FAB, assumiu a mesma função no Primeiro do Primeiro Grupo de Transporte (1º/1º GT), sediado no Rio de Janeiro.
Diálogo: O que a motivou a querer ser piloto da FAB?
Maj Fernanda Görtz: Foi influência do meu pai, que também é piloto. Ele cursou o ensino médio na Escola Preparatória de Cadetes do Ar da FAB, localizada na cidade de Barbacena, em Minas Gerais; depois decidiu ser piloto comercial e trabalhou muitos anos na empresa aérea VARIG. Eu e minha irmã sempre tivemos muito contato com a aviação. Isso fez com que desde cedo eu já me decidisse pela aviação. Já a carreira militar foi uma oportunidade que surgiu depois, não era algo que eu pensava, até porque não havia essa possibilidade para mulheres serem pilotos da FAB até então. Quando a FAB abriu o concurso para mulheres, meu pai logo me avisou e me incentivou, já que ele tinha muitas boas lembranças da escola em Barbacena, então lembro que eu fiquei super empolgada com essa possibilidade de ser piloto militar e fui correndo me inscrever.
Diálogo: Como foi o início da sua formação?
Maj Fernanda Görtz: Quando ingressei na AFA, em 2003, na primeira turma de mulheres aviadoras, éramos 20 meninas. Na formatura, em 2006, apenas 11 formaram-se aspirantes. A formação na AFA dura quatro anos e é bem conhecida por ser um curso difícil e com muitos desligamentos, o que de certa forma é natural, porque a atividade aérea e o militarismo requerem muita disciplina e dedicação dos alunos, e com as meninas não foi diferente. Ao final da formação, eu e mais duas outras alunas fomos indicadas para a Aviação de Caça, enquanto algumas de nossas amigas foram para as demais aviações: asas rotativas, transporte ou patrulha.
Diálogo: De que maneira a sua trajetória profissional a preparou para assumir a função de oficial de Operações do GEIV?
Maj Fernanda Görtz: Passei quatro anos servindo em Campo Grande, Minas Gerais, onde tive minha primeira experiência como piloto de caça, já formada, participando de missões de defesa aérea e interceptando aeronaves ilícitas que sobrevoassem o espaço aéreo brasileiro próximo das fronteiras. Depois disso, tive o privilégio de voar o F-5 modernizado, em uma das unidades mais tradicionais da FAB, o 1° Grupo de Aviação de Caça, muito conhecido por ter participado da Segunda Guerra Mundial ao lado dos aliados na luta contra o nazi fascismo. Foram anos difíceis e de muito trabalho, mas que me fizeram ter a certeza de que eu tinha feito a melhor escolha e estava na carreira certa. De lá para cá, procurei me manter na atividade aérea e hoje me sinto muito realizada por poder contribuir com o GEIV no cumprimento da sua missão, de manter o espaço aéreo brasileiro seguro.
Diálogo: Qual o conselho que a senhora daria para outras meninas que desejam ser pilotos da FAB?
Maj Fernanda Görtz: Eu diria para elas seguirem em frente e não desistirem dos seus sonhos, porque na Força Aérea elas terão muitas oportunidades de crescimento pessoal e profissional e terão uma bela carreira pela frente.