A crescente presença da China está impactando negativamente diversos países da América Latina. A destruição de ecossistemas, corrupção, criminalidade e competição desleal são alguns dos efeitos sombrios que a presença chinesa projeta na região.
A questão ecológica é uma das mais afetadas. Os pesqueiros chineses estão destruindo os recursos marinhos e as zonas marítimas protegidas. Por exemplo, a Força Naval do Equador denunciou à imprensa, no final de julho, que uma grande frota pesqueira, de maioria chinesa, estava operando nas proximidades da Zona Econômica Exclusiva das Ilhas Galápagos.
“Apoiamos firmemente os esforços do Equador para garantir que as embarcações com bandeira da República Popular da China não pratiquem a pesca ilegal, não declarada e não regulamentada, e apoiamos os Estados cujas economias e recursos naturais estejam ameaçados devido ao desrespeito das embarcações com bandeira da República Popular da China pelo Estado de Direito e pelas práticas de pesca responsáveis”, disse no dia 2 de agosto o secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo.

O problema não é novo; em 2017, as autoridades do Equador informaram que havia sido detido o cargueiro chinês Fu Yuan Yu Leng 999 dentro da reserva marinha de Galápagos. O navio transportava 300 toneladas de barbatanas de tubarão, tubarões-martelo e tubarões sedosos. A tripulação foi acusada de crimes ambientais.
Outros países como Argentina, Colômbia, Chile, México, Peru e Uruguai também sofrem com a voracidade da pesca praticada por empresas chinesas em seus mares, disse à Diálogo Juan Carlos Sueiro, diretor de pesca da ONG internacional Oceana. Entre as espécies mais afetadas estão o tubarão e a totoaba, acrescentou.
Corrupção, práticas desleais e crime
No entanto, o impacto chinês sobre os ecossistemas latino-americanos não se limita aos recursos marinhos. Um estudo publicado no dia 2 de junho de 2020 pela ONG The Society for Conservation Biology denunciou que a caça e o tráfico de partes de jaguares na América Latina estão correlacionados ao investimento privado da China em diferentes países da região. “Em essência, parece que os países com novos investimentos de capitais chineses são aqueles onde vemos um aumento no comércio de jaguares para o exterior”, disse Vincens Nijman, coautor do estudo, ao jornal The New York Times, em junho.
Outro impacto da presença de investidores chineses na América Latina é a corrupção. Por exemplo, segundo uma pesquisa publicada em junho de 2019 pelo jornal equatoriano El Universo, pelo menos sete empresas chinesas contratadas pelo governo do Equador para realizar obras públicas em setores como construção, mineração, telecomunicações e exploração de petróleo, fizeram pagamentos a empresas consideradas fantasmas pelo Serviço de Renda Interna do Equador.
As empresas chinesas também realizam práticas comerciais desleais, como o dumping do aço, motivo pelo qual países como Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México e Peru, entre outros, adotam medidas para proteger suas indústrias. O dumping consiste na venda de um produto a um preço inferior ao seu custo de produção, com o objetivo de apoderar-se do mercado e depois eventualmente recuperar muito mais do que o dinheiro investido.
A aliança entre as máfias chinesas e o crime organizado também é sentida no tráfico de drogas sintéticas.
Por exemplo, os grupos criminosos chineses traficam fentanil para os EUA mediante alianças com os cartéis de drogas mexicanos, de acordo com o relatório Fluxo de fentanil para os EUA da Administração para o Controle de Drogas dos EUA (DEA, em inglês), publicado em janeiro de 2020. O fentanil é um opioide sintético semelhante à morfina e produzido a baixo custo na China, que entrou no mercado ilegal americano em 2013 e é popular por ser 80 a 100 vezes mais potente do que a morfina, garante a DEA.