Com o objetivo de neutralizar as organizações do narcotráfico e os grupos ligados ao terrorismo, o governo argentino inaugurou, em 15 de janeiro, o Centro de Análise de Inteligência Criminal em Puerto Iguazú, na região da Tríplice Fronteira compartilhada por Argentina, Brasil e Paraguai, informou o jornal La Nación.
“Essa iniciativa, além de combater o crime organizado, está ajudando a estabelecer uma unidade de monitoramento na zona da Tríplice Fronteira”, disse à Diálogo, em 12 de fevereiro, Fabián Calle, analista político e professor de Relações Internacionais da Universidade Austral da Argentina. “Durante anos, foram detectados ali grupos terroristas que têm conexões com o grupo libanês Hezbollah, apoiado pelo Irã, que está tentando fortalecer sua presença na América Latina.”
O objetivo do Centro é implementar estratégias contra o comércio ilegal, a lavagem de dinheiro, o crime organizado, a corrupção e, é claro, a presença de possíveis células terroristas, disse à imprensa a ministra da Segurança da Argentina, Patricia Bullrich.
Zona emblemática
O portal de notícias argentino Infobae destacou que foi escolhido um lugar emblemático para o trabalho das forças federais e de inteligência, para as três nações que convergem nessa zona estratégica.
Há passagens fronteiriças porosas na área, onde gangues ligadas ao crime organizado, com fortes vínculos com o terrorismo, frequentemente operam para contrabandear mercadorias ilícitas, acrescentou La Nación.
Para Calle, é essencial reforçar e, em alguns casos, restabelecer os vínculos de cooperação com os serviços de inteligência dos Estados Unidos, Israel, Alemanha e do resto do mundo, que está sob a ameaça do Hezbollah ou de qualquer outro tipo de grupo terrorista respaldado pelo Irã, que opere na América Latina.
“Atualmente, as forças federais situadas na região, tanto da Argentina, como do Brasil e Paraguai, estão monitorando conjuntamente as ações criminosas e de possíveis células relacionadas ao terrorismo na região”, destacou o Ministério da Segurança da Argentina.
O novo Centro contará com apoio técnico e especializado permanente, otimizando a eficiência e a eficácia na prevenção e no combate ao crime. Além disso, novos cenários de crime serão antecipados por meio de estudos estratégicos e de consultoria para a tomada de decisões institucionais.
Apoio hemisférico
No início de fevereiro, o chefe do Gabinete de Ministros da Argentina, Nicolás Posse, reuniu-se na Flórida com o General de Brigada Scott Jackson, do Exército dos EUA, chefe do Estado-Maior do Comando Sul dos EUA (SOUTHCOM), reforçando os laços de amizade e os objetivos comuns de segurança nacional de ambos os países.
Segundo Infobae, a Agência Federal de Inteligência da Argentina e a Agência Central de Inteligência dos EUA têm evidências das atividades do Hezbollah na região e ambas as organizações, com a ajuda do SOUTHCOM, operarão para impedir que grupos terroristas operem na América Latina.
A Argentina designou o Hezbollah como uma organização terrorista em julho de 2019 e concentra sua atenção nas operações de lavagem de dinheiro da organização na Tríplice Fronteira, conhecida como um ponto de acesso de atividades criminosas.
Em 17 de março de 1992, o Hezbollah destruiu com bomba a Embaixada de Israel na Argentina, provocando a morte de 22 pessoas. Dois anos depois, em 18 de julho de 1994, também em Buenos Aires, um carro-bomba explodiu na sede da Asociación Mutual Israelita Argentina, matando 85 pessoas, marcando os primeiros atentados do Hezbollah na América Latina
Em 10 de dezembro de 2023, o economista Javier Milei assumiu a presidência da Argentina e declarou que manterá relações primordiais de alianças cooperativas com os Estados Unidos e Israel.
“Temos que estar muito atentos com um governo liberal pró-ocidental, com relações positivas e estreitas com os Estados Unidos ou Israel, como é o caso de Milei”, alertou Calle. “Os setores ligados aos circuitos castro-chavista-iraniano não descartarão a possibilidade de tentar punir a Argentina por ter ‘ousado’ eleger um presidente liberal com políticas ocidentais.”
Dias antes do ataque a Israel, em 7 de outubro de 2023, pelo grupo terrorista Hamas, o Ministério das Relações Exteriores da Argentina recebeu informações confidenciais de sua embaixada no Irã, alertando que a representação boliviana em Teerã estava emitindo vistos para cidadãos iranianos “com condições mínimas”, revelou o diário argentino Clarín, em 30 de outubro.
“Está se abrindo uma zona quente que tem a ver com o Irã e seus aliados na Bolívia, onde a fronteira com a Argentina é porosa”, analisou Calle. “Essa situação está preocupando os Estados Unidos, Israel e a inteligência argentina, pois há evidências de que documentos estão sendo entregues a cidadãos iranianos que circulam com documentos bolivianos.”
A presença do Hezbollah na América Latina tem sido documentada desde a década de 1990. A organização, que controla o sul do Líbano com o apoio do Irã, expandiu-se pelo mundo, abrigada pelas comunidades libanesas resultantes do êxodo causado pela guerra civil entre 1975 e 1990.
A lista de negócios ilícitos na região inclui narcotráfico, contrabando, tráfico de armas, tráfico de pessoas, contrabando de animais selvagens, falsificação de produtos de tabaco e álcool e tráfico de ouro, entre outros.
A questão do terrorismo está na agenda das autoridades do governo argentino e os alertas se mantêm ativos. “O importante é articular medidas de segurança para evitar atividades terroristas na região, após o ataque que sofreu Israel pelo grupo Hamas”, concluiu Calle.